Coordenador do MTST, Guilherme Boulos é liberado após ser detido pela PM
O coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, foi liberado na noite desta terça (17) após ter sido detido pela manhã, quando dava apoio às cerca de 700 famílias que foram alvo de uma reintegração de posse de um terreno em São Mateus, na zona leste da capital paulista.
No momento, policiais militares prenderam Boulos por "incitação a violência e desobediência". Segundo Felipe Vono, advogado do MTST, Boulos assinou termo circunstanciado sob acusação de resistência. De acordo com o Código Penal, o crime se caracteriza por "opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio", com pena de dois meses a dois anos de prisão.
"Fui indiciado pela polícia de São Paulo pelo crime de resistência. Para mim, resistência não é crime. Crime é despejar 700 famílias sem ter alternativa. Resistência é uma ação legítima das pessoas contra barbaridades como esta", afirmou Boulos à imprensa logo após ser liberado do 49º DP (distrito policial), em São Mateus.
O coordenador nacional do MTST voltou a dizer que sua prisão foi "política, com intuito de intimidar o MTST e a luta dos movimentos populares" e chamou sua detenção de gesto "fascista, ilegal, abusivo".
O advogado do MTST disse esperar que o inquérito seja arquivado por falta de provas.
"Em nenhum momento Boulos ameaçou alguém para impedir o cumprimento de uma ordem legal. Ele não incitou ninguém a descumprir a ordem judicial", afirmou Vono.
Moradores hostilizaram PMs, diz corporação
Mais cedo, em nota, a Polícia Militar informou que atendeu o pedido para apoiar os oficiais de Justiça no cumprimento da reintegração de posse nesta terça.
"Após tentativa de negociação dos oficiais com as famílias, sem acordo, os moradores resistiram hostilizando os PMs, arremessando pedras, tijolos, rojões e montando três barricadas com fogo. Um policial militar ficou ferido de leve por uma bomba caseira e duas viaturas do Choque foram danificadas", descreveu.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo repetiu --também em nota-- as informações repassadas pela Polícia Militar e destacou que a PM agiu para garantir o cumprimento da ordem judicial. Além disso, afirmou que Boulos e José Ferreira Lima, integrante do MTST, foram detidos sob acusação também de participar de ataques com rojão contra a PM.
"O secretário vai ter que se explicar, porque sequer os policiais que me prenderam colocaram no depoimento que eu teria atirado rojões. O secretário vai ter que dizer onde ele encontrou esses rojões e apresentar para a sociedade com transparência que faltou na nota que ele fez hoje", disse Boulos após ser liberado.
Segundo o advogado Vono, o coordenador do MTST atuou justamente "no sentido de evitar a violência que depois foi cometida pela PM".
O Ministério Público informou ter entrado, na semana passada, com pedido de suspensão da ação de reintegração de posse porque as famílias não foram cadastradas para outras áreas de destino. O pedido foi negado na segunda (16) pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Em julho do ano passado, o MP já tinha pedido o cadastramento das famílias, mas a Justiça não aceitou na época.
Lula e Dilma criticam prisão
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, publicaram notas em suas páginas no Facebook para criticar a prisão de Boulos.
"A luta para que todos tenham direito a uma moradia digna é parte da construção de um Brasil melhor e mais justo. É preciso muito diálogo, investimento em moradia e políticas públicas. Não é caso de polícia", declarou Lula.
Já Dilma considerou a prisão de Boulos "inaceitável".
"Os movimentos sociais devem ter garantidos a liberdade e os direitos sociais, claramente expressos na nossa Constituição cidadã, especialmente, o direito à livre manifestação", declarou. "Prender Guilherme Boulos, quando defendia um desfecho favorável às famílias da Vila Colonial em São Paulo, evidencia um forte retrocesso. Mostra a opção por um caminho que fere nossa democracia e criminaliza a defesa dos direitos sociais do nosso povo."
Políticos do PT, como o deputado estadual José Américo e os vereadores Eduardo Suplicy e Juliana Cardoso, além do deputado federal Ivan Valente (PSOL), estiveram na delegacia, em momentos distintos, para conversar com o delegado do caso e manifestar solidariedade aos detidos.
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