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Em vídeo, PCC ameaça levar "guerra à rua" se facção rival não sair de Alcaçuz

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Nísia Floresta (RN)

21/01/2017 04h00

"Somos criminosos, não moleques." Com essa frase, um dos chefes do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Rio Grande do Norte inicia a fala em um vídeo --gravado na tarde da última quinta-feira (19)-- exigindo a retirada dos demais integrantes da facção Sindicato do Crime da penitenciária de Alcaçuz, em Nisia Floresta (Grande Natal); caso contrário, prometem "estender a guerra" para a rua e atacar policiais em todo o país.

O vídeo, exclusivo, foi gravado a pedido do UOL a um dos interlocutores do grupo, um grupo formado por 20 homens fortemente armados e encapuzados acompanham um integrante, que lê um comunicado sobre as intenções do grupo responsável pela morte de 26 presos no último sábado (14) na penitenciária de Alcaçuz.

"Tire todos os Sindicato [sic] da unidade de Alcaçuz, ou essa guerra vai se estender na rua e em outros demais Estados do Brasil contra os órgãos públicos, policiais de todas as categorias", ameaça a facção.

Na quarta-feira, 220 presos do Sindicato do Crime foram transferidos da penitenciária para outros dois presídios, mas outros cerca de 500 integrantes ou ligados ao grupo permanecem na unidade. O governo, no entanto, diz ter colocado detentos "neutros" no lugar dos transferidos.

Na gravação, o grupo fala que já fez pedidos às Secretarias de Segurança Pública e da Justiça e Cidadania do RN, mas que teriam sido ignorados.

"Existem vários pedidos protocolados, documentos em anexo, que se encontram na mão do secretário de segurança e do secretario do sistema prisional, que não quis [sic] nos separar. Já era para estarmos separados desde o último confronto ocorrido em Caicó", afirma.

O governo do Estado informou que "não negocia com facções". O governador Robinson Faria (PSD) disse, inclusive, que está sofrendo ameaças dos dois lados, e que, além dos presos do Sindicato do Crime, cinco líderes do PCC também foram transferidos e foram indiciados pelas mortes do último sábado.

Presos de facções rivais entram em confronto dentro de Alcaçuz - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Presos de facções rivais entram em confronto dentro de Alcaçuz
Imagem: Beto Macário/UOL

Familiares

O comunicado do PCC ainda ressalta que a luta da organização é contra o governo, mas a "guerra" é contra o Sindicato do Crime. Eles dizem ainda que não aceitarão que os familiares sejam prejudicados.

"Somos duas facções em guerra. Mas essa guerra é nossa, não é dos nossos familiares. Não admitiremos mais ser oprimidos. Estaremos preparados no sistema e na rua. Se mexerem como nossos familiares, responderemos à altura. Somos o crime organizado no Brasil, e os governantes sabem disso", diz o integrante que lê a mensagem no vídeo.

Segundo a versão apresentada por mulheres de presos do PCC, a confusão no sábado começou após integrantes do Sindicato do Crime supostamente atacarem familiares que saíam da visita. Elas relataram que, acuadas, destruíram o portão do pavilhão e "soltaram" ao pátio os presos do PCC, que em seguida cometeram os homicídios.

Violência no RN

 As 26 mortes no massacre dentro da penitenciária de Alcaçuz no último sábado (14) levaram o Rio de Grande do Norte a ter o fim de semana mais violento de sua história. Os dados são do Observatório de Violência Letal Intencional, ligado à Universidade Federal Rural do Semi-Árido.

Entre sexta-feira (13) e domingo (15), foram 43 mortes violentas registradas no Estado. Dessas, 26 no presídio e 17 fora dele.

 O ano de 2016 foi o de maior número de homicídios da história do Rio Grande do Norte. Segundo o observatório, foram 1.988 mortes violentas. O número representa uma alta de 19,1% em relação aos 1.669 casos de 2015.