Moradores de Vitória enfrentam fila no supermercado e estocam comida: "é guerra"
Preocupados com os desdobramentos da paralisação da Polícia Militar, alguns moradores de Vitória passaram a estocar comida. É o caso do engenheiro Tertulino Freitas, 61, que fazia compras no bairro Mata da Praia, na capital capixaba. “É guerra, temos que fazer estoque”, diz.
Ele conta que foi dispensado mais cedo do escritório em que trabalha porque não havia quem fizesse comida para os funcionários. Como ele e a mulher não costumam fazer refeições em casa, fez questão de fazer compras pelas próximas semanas. “Temos que nos precaver. ”
Em parte dos mercados, alguns gêneros alimentícios, como frios, e itens de higiene, como papel higiênico, já estão em falta. “Já não tem mais queijo, papel higiênico, iogurte, vários tipos de carne”, enumera a vendedora Sabrina Simões, 35, que aproveitou a folga forçada no trabalho para ir ao supermercado.
Como boa parte dos mercados tem fechado no meio da tarde, ela precisou pegar uma senha e enfrentar fila para fazer compras no bairro Jardim da Penha. “Queria vir ontem, mas telefonei e fecharam 15h. Hoje foram até 16h”, diz.
Contrária ao movimento dos PMs, ela considera a paralisação “um absurdo”. “Só lá na loja já temos um prejuízo imenso. São três dias parados em que estamos sem vender e também sem receber, já que as clientes que têm que pagar alguma conta, se forem até a loja, vão encontrar as portas fechadas.”
O atendente de farmácia Cristhofer Lopes, 21, tentou fazer compras às 17h e cruzou com dois mercados fechados. Se encaminhava para o terceiro. “Fiquei sabendo que não tem previsão de a greve acabar, não sei se os mercados vão continuar abertos, preciso comprar comida.”
Ele só foi para o trabalho nesta quarta-feira (8) porque seu patrão se dispôs a pagar o táxi até a farmácia, perto de uma rede. “Ele também contratou dois seguranças armados que ficam lá na frente todo o dia”, disse.
Uma estudante colombiana que mora na capital capixaba e preferiu não se identificar, no entanto, ponderou que há um exagero na forma como a paralisação tem sido retratada. “Se fala de uma forma, como se não fosse possível caminhar na rua. As lojas estão fechadas, mas viemos até o mercado sem problemas. Vejo as pessoas mais assustadas com ideias do que com uma violência real”, afirma. Segundo ela, também é preciso entender a posição da polícia. “Ouvi as declarações do governador pela manhã, não me parece alguém querendo diálogo com os policiais.”
Mais cedo o governador governador licenciado, Paulo Hartung (PMDB), comparou o movimento a um “sequestro” e afirmou que os policiais estão chantageando o governo. "O que está acontecendo no Espírito Santo é uma chantagem. É a mesma coisa que sequestrar a liberdade do cidadão capixaba e pagar resgate", disse o governador, que se licenciou do cargo no último dia 5 para se recuperar de uma cirurgia feita em um hospital paulista.
Ele retirou um tumor da bexiga no dia 3, véspera do início da greve.
A fala de Hartung faz referência ao pedido de aumento salarial feito pelos policiais capixabas, de cerca de 43%.
Nesta quarta pela manhã, cerca de 30 mulheres permaneciam em frente ao principal quartel onde estão os PMs em Vitória. Cada entrada conta com uma barraca grande, com colchões e cobertores, e um toldo. Há café, leite, pão, biscoitos, frutas, frios e até uma sanduicheira.
Em outros quartéis pela cidade há acampamentos parecidos, com familiares de PMs e policiais de folga posicionados em frente aos portões.
"Se o governador abrir a agenda para a gente hoje e for favorável às nossas pautas, nós vamos sair", afirmou uma das mulheres ao explicar que elas aguardam uma contraposta do governo às suas reivindicações para se retirar do local.
Entenda a crise no Espírito Santo
No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais.
A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil por dia pelo descumprimento da lei.
A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. Segundo a associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento real, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.
A SESP (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social) contesta as informações passadas pela associação. Segundo a pasta, o governo do Espírito Santo concedeu um reajuste de 38,85% nos últimos 7 anos a todos os militares e a folha de pagamento da corporação teve um acréscimo de 46% nos últimos 5 anos.
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