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Famílias fazem bloqueio em batalhões, mas policiamento segue nas ruas no RJ

Parentes de policiais tentam bloquear saída em batalhão da PM no Leblon, zona sul - Marco Antonio Teixeira/ UOL
Parentes de policiais tentam bloquear saída em batalhão da PM no Leblon, zona sul Imagem: Marco Antonio Teixeira/ UOL

Ronald Lincoln Jr., Pedro Ivo Almeida e Vinicius Castro

Colaboração para o UOL, no Rio*

10/02/2017 05h57Atualizada em 10/02/2017 11h26

As manifestações de familiares de policiais militares na frente dos batalhões no Rio de Janeiro acontecem em dezenas de unidades pelo Estado, mas o bloqueio da saída dos PMs, tal qual havia sido anunciado ao longo da semana, ocorre efetivamente em poucos locais.

Um dos batalhões com a situação mais complicada da capital fluminense é o da Tijuca, na zona norte. Lá, familiares se mobilizam desde a 0h e não permitem que os policiais deixem a unidade desde as 6h. Alguns policiais que tentaram sair à paisana chegaram a ser revistados para que não saíssem com a farda na mochila no início do bloqueio, mas pouco tempo depois a saída foi proibida.

Familiares montam barracas para bloquear acesso a batalhão da PM em Volta Redonda - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Familiares montam barracas para bloquear acesso a batalhão da PM em Volta Redonda
Imagem: Reprodução/Facebook
Com cartazes em mãos, elas reivindicam melhores salários e condições de trabalho para os agentes, cobram o 13° pagamento de 2016 e gratificações atrasadas. Reclamam ainda da estrutura da corporação que, segundo elas, põe em risco a vida dos policiais.

Muitos soldados que chegam ao batalhão agradecem o apoio das mulheres. Moradores da vizinhança, inclusive, oferecem água e café.

Vitória Nery, uma das manifestantes, perdeu o marido, morto durante em uma troca de tiros com traficantes em março de 2016. Ele era lotado no 6° batalhão, e deixou também uma filha de 8 anos do casal. O pai e o irmão de Vitória são PMs da ativa e ela teme por eles.

"Estamos aqui não só para protestar contra salário baixo e corrupção no governo. Estamos aqui pela vida. Não quero que aconteça com essas mulheres o que aconteceu comigo, quando perdi meu esposo."

O comandante do batalhão, coronel João Jacques Busnello, afirmou que os policiais não aderiram à paralisação. "Nossos policiais estão cientes de que têm trabalho a fazer. Mas eu entendo todos os lados", afirmou.

No 19º Batalhão (Copacabana) na zona sul, no Batalhão de Choque, na região central, e no 3º Batalhão (Méier), na zona norte, a situação diferente da Tijuca: os policiais furaram o bloqueio e realizaram a troca de turno das 6h, mas as mulheres pretendem impedir a saída das 16h.

Em outras partes da cidade

No entanto, os locais de bloqueio efetivo são registros pontuais. No 23º BPM, no Leblon, por exemplo, quatro mulheres tentavam impedir a saída de policiais para as ruas a partir de 5h50. Às 6h, no entanto, a primeira viatura saiu sem maior resistência.

Por volta das 6h10, um micro-ônibus chegou a ser impedido de deixar o local inicialmente. Porém, após conversa dos policiais com as representantes das famílias, o veículo pôde sair com os oficiais que trabalham na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha.

"Pedimos a compreensão de vocês. Temos cerca de 20 homens aqui que vão render nossa equipe na UPP da Rocinha. Se eles não chegarem, aqueles que lá estão terão dificuldade para sair. Além disso, ainda iremos perder território em uma área estratégica. Vocês conseguiriam colaborar? Nos outros casos, até podemos conversar. Mas é importante essa equipe sair para o trabalho", explicou o oficial que controlava o fluxo de saída do 23º BPM.

O 18º Batalhão, em Jacarepaguá, também tem mulheres na frente da unidade, mas os policiais trabalham normalmente.

No 27º Batalhão, em Santa Cruz, policiais militares estariam quebrando muros para furar o bloqueio de manifestantes, segundo familiares que estão no local. Procurada, a Polícia Militar não se pronunciou a respeito.

"95% nas ruas"

Em entrevista na frente do 6º Batalhão (Tijuca) nesta manhã, o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, afirmou que a situação é de normalidade no patrulhamento da cidade. "Já estamos com 95% do turno no terreno. Temos problemas em casos pontuais e que estão sendo tratados separadamente", disse.

"As tropas de UPP na Tijuca enfrentam alguns problemas com rendição no momento. Enquanto os policiais não estão lá, criminosos se mobilizam." Ele também relatou problemas em Olaria: "O prejuízo no momento é apenas nas UPPs do bairro, apesar de que estamos com policiais lá. Muitos, porém, estão aqui no 6° BPM e precisam sair".

No início da madrugada, Blaz já havia pedido, em vídeo, que as famílias se manifestem a favor dos policiais, mas não bloqueiem as entradas dos quartéis da corporação.

"É fundamental que não esqueçamos o que está acontecendo no nosso Estado vizinho. No Espírito Santo, em poucos dias, mais de 100 pessoas foram mortas, incluindo policiais e seus familiares", disse. "Sabemos que a nossa situação é difícil, é complexa, mas não podemos de forma alguma permitir que esse cenário de barbárie chegue às nossas casas, às nossas famílias."

Durante a semana, uma série de rumores vinha circulando pelas redes sociais indicando que as entradas de quartéis pelo Estado seriam bloqueadas, a exemplo do que tem ocorrido no Espírito Santo desde o último sábado (4).

Rotina

A cidade do Rio de Janeiro continua com a rotina normal. Os transportes públicos, como barcas, trens e metrô, funcionam sem problemas nesta sexta-feira. Os ônibus urbanos e intermunicipais também circulam normalmente pelos bairros do Rio, Baixada Fluminense e interior do Estado.