"A gente só quer a verdade", diz pai de garoto morto em frente ao Habib's
“A gente só quer a verdade. Ele nunca teve problema no coração, era saudável. Ele ia no Habib’s para pedir um dinheirinho, não ia lá para roubar”, afirmou Marcelo Fernandes de Carvalho, pai de João Victor, 13 anos. O garoto teve uma parada cardiorrespiratória e morreu no domingo (26) logo após uma confusão com funcionários do Habib's, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo. A Polícia Civil investiga o caso.
Em nota, o Habib's informou que lamenta o caso e que colabora com as investigações.
“Ele me falava: ‘pai, um dia nós vamos ter uma via boa, melhor’. Ele não tinha maldade. Os amigos me diziam sempre: ‘nossa, o João sabe conversar muito bem’”, lembrou o pai. “Ele tinha futuro. Tinha o sonho de ter uma casa, comprar algumas coisas para ajudar a irmã [grávida de oito meses]. Ele ficava preocupado com ela. Queria ajudar aqui.”
Inconformado com a morte do filho, Carvalho não acredita na versão dos funcionários do Habib's, que relataram que o menino teve um mal súbito depois de sair correndo ao ser repreendido. O pai defende que ele morreu em decorrência de agressão. Ele confirma que João costumava ir ao local para pedir dinheiro e comida. “Ele tinha vontade de comer uma coisa melhor.”
O garoto morava com o pai desde os 5 anos, quando Carvalho e a mãe do garoto se separaram.
Entenda o caso
João Victor teve uma parada cardiorrespiratória diante de funcionários do Habib’s, no último domingo (26).
De acordo com o Boletim de Ocorrência, registrado às 4h50 de segunda (27), a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência de “agressão” no restaurante. Chegando no local, os policiais nada encontraram, mas funcionários da unidade informaram que o adolescente estava “importunando os clientes, inclusive com um pedaço de madeira”. Na tentativa de repreendê-lo, o menino “saiu correndo e, neste instante, teve um mal súbito”.
Uma vizinha de Marcelo Fernandes de Carvalho, pai do garoto, que disse ter testemunhado a ação dos funcionários do restaurante, prestou depoimento ontem (1º) no 28º Distrito Policial (Freguesia do Ó) e afirmou ter visto quando João Victor foi agredido por dois funcionários da lanchonete.
“O segurança pegou João Victor pelo pescoço desferindo um violento soco contra sua cabeça”, relata o documento. “No caminho, a poucos metros do Habib’s, sendo segurado pelo gerente e pelo segurança, João Victor desmaiou”. A testemunha se aproximou e percebeu que o menino estava “espumando” pela boca, inconsciente.
Uma equipe do Samu o socorreu, mas, antes de chegar no pronto-socorro do hospital Mandaqui, ele teve uma parada respiratória e morreu. Aparentemente, não foram encontradas marcas de agressão em João Victor. O corpo do jovem passou por exames no IML (Instituto Médico Legal), mas o resultado do laudo ainda não foi divulgado.
Apesar de não acreditar no argumento de que não houve agressão, o pai do adolescente acredita que, mesmo que ele não tenha sido agredido, as ameaças sofridas por João podem ter contribuído para a morte. “Ele pode ter morrido de susto também na hora que correram atrás dele. Foi tentar correr, ficou todo mole e caiu.”
O pai relatou também que o filho passava por um tratamento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) por conta do envolvimento com lança-perfume, mas que ele tinha melhorado bastante desde o início. Ele não soube precisar há quanto tempo João Victor estava sendo acompanhado por profissionais.
“Lá ele brincava, tinha médicos que davam conselho para ele. Todo mundo gostava dele”, afirmou.
Habib's diz que apura os fatos
O Habib's, por meio de sua assessoria de imprensa, informou na terça-feira (28) que a rede apura os fatos da "lamentável ocorrência". Além disso, afirma que a polícia foi acionada assim que verificaram que a conduta do menor estava "incontrolável" e ameaçava o patrimônio físico da loja e dos clientes.
Um novo protesto está sendo organizado por familiares na porta do local. Ele está marcado para ser realizado às 19h desta quinta-feira.
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