Polícia Federal prende pela 4ª vez traficante que sequestrou avião em 2000
Entre os 16 traficantes presos nesta terça-feira (28) durante a deflagração da Operação All In, havia um que, entre outros crimes, já foi condenado por sequestrar um avião no ano 2000. Apontado como líder desta organização criminosa, o ex-piloto Gerson Palermo, 59, foi preso pela PF pela quarta vez - agora, sob acusação de tráfico de drogas.
A Operação All In visa desarticular uma organização criminosa responsável pelos crimes de tráfico internacional de drogas e de lavagem de dinheiro. Mais de 150 policiais federais cumpriram 25 mandados de busca e apreensão em 14 cidades de Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. Dois membros da quadrilha ainda estão foragidos
"Trata-se de um indivíduo altamente experiente e conhecido no mundo do crime, com fortes ligações com produtores de cocaína na Bolívia", afirma o delegado José Antonio Soares de Oliveira Franco, chefe do núcleo de combate às organizações criminosas da PF no Mato Grosso do Sul. "Ele já havia sido pelo preso pela PF em pelo menos três outras ocasiões anteriores."
Ele é réu em ações penais que tramitam na Justiça do Estado desde 1990 e já acumulou quase 60 anos em condenações, mas foi beneficiado pela progressão do regime fechado para os semiaberto e aberto.
Palermo foi preso durante a manhã em sua casa em um bairro nobre de Campo Grande (MS). Natural de Apucarana (PR), ele possuía vários imóveis em Londrina (PR), apontaram as investigações da Polícia Federal.
Investigações anteriores revelaram que Palermo tem fortes ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do país. "Nesta investigação não foram encontrados indícios de atuação de facções", diz Oliveira Franco.
Sequestro de avião com 60 passageiros
Em 2001, Palermo foi condenado a 20 anos de prisão por formação de quadrilha, atentado contra a segurança de transporte aéreo e roubo. Em agosto do ano anterior, ele e cinco parceiros sequestraram o Boeing 737-200 da Vasp, que ia de Foz do Iguaçu a Curitiba, com mais de 60 passageiros.
Os criminosos obrigaram o piloto do Boeing a desviar a rota e pousar em Porecatu (PR), cidade vizinha a Londrina.
No avião, Palermo roubou malotes do Banco do Brasil com R$ 5,56 milhões, mas foi preso duas semanas depois, em São Paulo, com apenas R$ 66,3 mil do dinheiro roubado, revelou reportagem da "Folha de S. Paulo".
Rebelião em presídio e novas prisões
Liderando o PCC no Mato Grosso do Sul, Palermo foi apontado como líder de uma rebelião, durante o dia das Mães de 2005, em um presídio de Campo Grande. O motim resultou na morte de sete presos e na destruição de várias alas da penitenciária.
Dois anos depois, em setembro de 2007, foi preso pela PF sob acusação de liderar uma quadrilha que estava com 1,5 tonelada de maconha. À época, ele cumpria pena em regime semiaberto na Colônia Penal Agrícola de Campo Grande.
Apesar desta prisão, Palermo recebeu em 2010 direito à progressão do regime fechado para o semiaberto, por decisão da Justiça Estadual do Mato Grosso do Sul.
Já em 2015, o MPF (Ministério Público Federal) denunciou Palermo e outras 16 pessoas, inclusive dois bolivianos e um libanês radicado no Brasil, por tráfico internacional de drogas na região do Triângulo Mineiro.
Bens bloqueados
"A investigação reuniu várias provas de que Palermo comandava uma quadrilha de grande porte de tráfico internacional de drogas, que possuía um amplo esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio", diz o delegado federal José Antônio Soares de Oliveira Franco.
A PF identificou R$ 7,5 milhões em bens de suspeitos, que foram bloqueados por decisão da 3ª Vara Federal de Mato Grosso do Sul.
"A maior parte da cocaína era destinada para consumo no Estado de São Paulo, mas suspeitamos que pelo menos uma parte tinha como destino o exterior, pois fizemos apreensão de cocaína desta quadrilha em uma cidade próxima a Santos e por causa da alta qualidade do produto", acrescenta.
Ainda no decorrer das investigações, a PF apreendeu 800 quilos de cocaína que estavam de posse de três membros da quadrilha. A droga entrava no Brasil em aeronaves que pousavam em aeroportos particulares em cidades sul-mato-grossenses, a exemplo de Corumbá.
A Justiça Federal do Mato Grosso do Sul decretou ainda o sequestro de "seis aeronaves, cinco imóveis, incluindo um aeródromo, bloqueio de numerários em 68 contas correntes e a apreensão de mais de 35 veículos adquiridos por meio de práticas criminosas".
De acordo com a assessoria de comunicação da PF, a operação foi batizada de All In, jogada típica do pôquer em que o jogador aposta todas as suas fichas em uma mão de cartas, "em alusão à forma impetuosa com que a organização criminosa desenvolve suas atividades, arriscando-se no transporte de grandes carregamentos de entorpecentes".
O UOL tentou falar, por telefone, com representantes da defesa de Gerson Palermo, mas, até o fechamento desta reportagem, não havia conseguido.
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