Polícia investiga se jovem foi baleado por PM e preso por engano em SP
A Polícia Civil e a Corregedoria da PM investigam as circunstâncias nas quais policiais militares deram um tiro nas costas e prenderam um jovem de 18 anos na zona sul de São Paulo. Os policiais acusam o rapaz de ter roubado uma moto e de ter tentado atirar contra polícia. Já sua defesa afirma que os PMs atiraram contra a pessoa errada.
O vendedor Jonathan de Araújo Sousa, de 18 anos, foi baleado por volta das 15h45 do dia 9 de julho deste ano, um domingo, na Cidade Ademar, zona sul da capital paulista. Ele não tinha antecedentes criminais.
Após levar o tiro, Sousa foi levado para um hospital da região, onde passou por uma cirurgia na qual teve o rim esquerdo e uma parte do intestino retirados, segundo seu advogado. Ele está, atualmente, no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Guarulhos, em prisão preventiva, pois é suspeito de ter participado do roubo de uma moto.
Os policiais que agiram no caso não foram encontrados pela reportagem para comentar o episódio.
Na ocasião, eles afirmaram no 98º DP (Distrito Policial), no Jardim Miriam, que uma moto branca, modelo Honda NC 700X havia sido roubada no mesmo dia e que o dono tinha instalado um rastreador no veículo. Por meio do aparelho, eles chegaram a uma rua do bairro da Cidade Ademar, onde avistaram, juntos, a moto branca roubada e outra vermelha, modelo Honda XRE 300 - a última, legalmente em nome de Sousa.
Versão dos policiais
De acordo com a versão dos policiais militares à Polícia Civil, à qual o UOL teve acesso, o jovem de 18 anos dirigia a moto branca, roubada. "Ele [Sousa] se desequilibrou e caiu. Quando se levantava, colocou a mão na cintura, sacou uma arma e apontou", afirma um dos PMs no boletim de ocorrência. Em uma suposta reação, um dos policiais atirou duas vezes.
Ainda segundo o depoimento dos PMs, logo após os disparos, Sousa teria conseguido fugir a pé e deixado cair uma arma, um revólver calibre 38 com numeração raspada.
O outro motorista, da moto vermelha, teria fugido. Os policiais afirmam ainda que, ao saberem que um homem baleado havia dado entrada no Hospital Pedreira, foram até lá para verificar se era o mesmo suspeito que haviam encontrado momentos antes.
Segundo a Polícia Civil, o PM "reconheceu, sem sombra de dúvida, tal pessoa [Sousa] como aquela que fugiu e deixou o revólver cair". O reconhecimento se deu por meio de uma fotografia, porque Sousa estava na sala de cirurgia.
O dono da moto branca, vítima do roubo, também teria reconhecido o jovem por meio de uma foto. Mas, uma outra testemunha do roubo teria dito que não o reconheceu porque o criminoso usava um capacete.
A moto branca não teve nenhum dano. O mesmo não se pode dizer da moto vermelha, de propriedade do vendedor. Do lado direito da lataria, há uma perfuração causada por arma de fogo. Dentro do veículo foi encontrado um projétil de pistola calibre .40, o mesmo usado pela Polícia Militar.
Versão da defesa
Segundo o advogado criminalista Afonso Luís Fernandes de Oliveira, que defende Sousa, o vendedor estava pilotando sua própria moto e, em nenhum momento, teria dirigido a moto de cor branca roubada. "Sendo que esta somente passou por ele em alta velocidade", afirmou ao UOL.
A defesa diz que, quando Sousa estava se aproximando da rotatória no final da rua, viu quando um rapaz que pilotava a moto branca tentou entrar em uma viela próxima. Neste momento, o suspeito teria jogado a moto no chão e saído correndo.
O vendedor teria continuado seu trajeto, em baixa velocidade, e, quando passava pela moto branca jogada no chão, viu um policial militar com a arma em punho. Sousa teria continuado seu trajeto normalmente, porque o PM não teria pedido para ele parar.
"Na sequência, escutou o primeiro disparo que acertou sua moto na lateral direita. Em seguida, escutou o segundo disparo, e, neste momento, sentiu uma forte dor nas costas e o sangue escorrendo. Ainda assim, conseguiu voltar para a casa de seu amigo, para pedir socorro", afirmou o advogado.
A Polícia Civil ouviu o amigo de Sousa, que estava com ele momentos antes de ser baleado. A reportagem não irá identificá-lo. Segundo a versão dele, por volta das 15h15, o vendedor chegou em sua casa, com a moto vermelha. Os dois teriam conversado por cerca de 30 minutos, logo após Sousa teria decidido ir embora.
Cerca de 10 minutos depois, segundo o amigo, Sousa teria retornado conduzindo a moto vermelha e pedindo ajuda. "Jonathan (Sousa) parou e disse: 'acho que tomei um tiro'. Eu vi que as costas dele estavam com sangue, levantei a blusa e vi que ele tinha tomado um tiro", afirmou à polícia. Na sequência, o amigo teria levado Sousa ao Hospital Pedreira.
"O declarante acredita que seu amigo Jonathan (Sousa) não participou de nenhum roubo, pois, como disse, meia hora antes de ser baleado, estava em sua companhia e de outras pessoas. Conhece Jonathan há cinco anos e sabe que é de boa índole e nunca se envolveu em algo errado", afirmou o delegado Valemir Apolinário da Silva.
Para o advogado do vendedor, "as evidências mostram, com clareza inestimável, que Jonathan (Sousa) é, não só inocente, como vítima. Afinal, além de ter sido baleado de maneira equivocada, ficou debilitado e, agora, responde por um crime que não cometeu".
Investigações
A defesa de Sousa entrou na Justiça requerendo liberdade provisória, mas o pedido foi negado. A juíza de Direito Carla Santos Balestreri decidiu que no atual momento do processo não é necessária a existência de uma prova cabal para manter o suspeito preso.
"Neste momento processual, não é necessária a existência de prova cabal contra a autoria, sendo certo que pretende o indiciado discutir questões de mérito que serão objeto de prova", afirmou em sua decisão.
Ainda segundo a juíza, "verifica-se a existência de indícios de autoria contra o indiciado", como a identificação de uma das vítimas, por uma foto apresentada por policiais, além do "crime investigado ser grave e ter apresentado extrema gravidade concreta".
A moto vermelha de propriedade do vendedor passará por uma perícia para tentar ajudar a polícia a esclarecer o que, de fato, aconteceu. Com as provas apresentadas pela defesa, a polícia já passa a investigar supostas contradições apresentadas pelos policiais militares na delegacia.
O ouvidor das Polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, afirmou ao UOL que pediria à Corregedoria da PM e ao MP (Ministério Público) uma investigação "rigorosa" no caso, para que "as controvérsias sejam bem esclarecidas à sociedade".
Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "o caso está em apuração".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.