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Soldado denuncia tortura em vídeo e é transferido de batalhão da PM em SP

Dentista nas horas vagas, Adriell Costa atende em um consultório em sua própria casa - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Dentista nas horas vagas, Adriell Costa atende em um consultório em sua própria casa
Imagem: Reprodução/Facebook

Wanderley Preite Sobrinho

Colaboração para o UOL

05/09/2017 16h16

Um soldado da Polícia Militar no litoral de São Paulo foi afastado do 39º Batalhão da PM, em São Vicente, depois de postar um vídeo nas redes sociais denunciando tortura. A gravação ganhou repercussão nas redes sociais e a Corregedoria da PM o convocou nesta segunda-feira (4) para prestar depoimento.

O soldado Adriell Rodrigues Alves Costa, de 35 anos, vestiu o uniforme para gravar um depoimento. No vídeo, o oficial se diz vítima de assédio moral e tortura por parte do comando e colegas do 39º Batalhão.

Ele diz ainda já ter enviado denúncias aos superiores e recorrido à Ouvidoria da PM e à Corregedoria, mas ninguém lhe teria dado ouvidos. "Se algo acontecer com a minha vida, com a minha integridade física, a responsabilidade é do comandante do batalhão, da Polícia Militar e do estado, que nada fizeram para apurar as minhas denúncias", disse na gravação.

O rapaz alega que o preconceito que sofria era em razão a um dos dedos que ele machucou seriamente quando foi atropelado em 2011 durante uma diligência. A partir de então, suas funções passaram a ser burocráticas em batalhão de Diadema.

Tudo ia bem até ele pedir transferência para São Vicente, cidade onde moram seus pais. De acordo com ele, seus superiores não respeitavam sua restrição física e passaram a contestar os laudos que o afastaram das atividades na rua. Ele acabou encaminhado para fazer um outro exame, ocasião em que o médico o liberou para todas as funções.

A partir de então, ele passou a trabalhar em obras no batalhão, atividade que lhe causaria muitas dores. Além de “torturado física e psicologicamente”, ele teria sido vítima de homofobia quando um superior lhe disse para “virar homem”.

O UOL apurou que Costa quase foi expulso do quartel recentemente, quando seus superiores o acusaram de simular doença e imputar atos inverídicos sobre policiais. As acusações acabaram sem comprovação e o soldado manteve o emprego.

Dentista nas horas vagas, o soldado atende em um consultório em sua própria casa. Nas redes sociais, alguns seguidores o tratam por “doutor”. Na PM, Costa pediu para ser reformado logo depois do atropelamento que lhe feriu um dos dedos. Mas ele acabou transferido e o médico em São Vicente não ratificou a avaliação anterior.

Procurado pelo UOL, o soldado não respondeu até o fechamento da reportagem. Sua então advogada, Mara Cecilia Martins dos Santos, abdicou da defesa do rapaz, no momento sem advogado.

Questionada sobre a razão para abandonar os dois processos que tinha com ele, Mara respondeu que “renunciou por questões a que ele deu causa”. Ela nega, no entanto, que seu ex-cliente tenha recorrido a ela alegando tortura. “Ele também não foi vítima de homofobia. Ele nunca me falou que era homossexual. Ele tem um filho.”

A advogada confirma os boatos de que um superior teria lhe dito para “virar homem”. “Pelo o que me disseram o contexto era algo como ‘não seja moleque, cresça, vire homem’.”

Corregedoria

Após a divulgação do vídeo e da polêmica, o rapaz prestou depoimento na Corregedoria da PM na segunda-feira (5). Em princípio, ele deveria voltar ao 39º Batalhão, mas acabou transferido para o 6º Comando do Policiamento do Interior, em Santos.

Procurada pelo UOL, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) afirma que acompanha o caso encaminhou a seguinte nota oficial: “A Polícia Militar esclarece que está prestando o apoio necessário ao policial que aparece no citado vídeo. Ele já foi ouvido pelo Comando PM local e as medidas necessárias para a solução do citado caso estão sendo adotadas".