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Em série de ataques no RJ, homens obrigam mães de santo a quebrarem terreiros; veja

Criminosos obrigam mãe de santo a destruir próprio terreiro no Rio​ de Janeiro - Reprodução - Reprodução
Criminosos obrigam mãe de santo a destruir próprio terreiro no Rio​ de Janeiro
Imagem: Reprodução

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

13/09/2017 16h54

Uma série de ataques a terreiros tem intimidado e aterrorizado adeptos do candomblé em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Dois destes ataques foram registrados em vídeos pelos próprios criminosos e circulam nas redes sociais desde terça-feira (12).

Em um desses flagras, uma mãe de santo é filmada quebrando objetos e imagens depois de frequentadores terem sido ameaçados e expulsos do local durante uma celebração no bairro de Ambaí, de acordo com relatos obtidos pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) do Rio.

“Olha aqui, meus amigos. A capeta-chefe aí. Quebra tudo, apaga a vela... O sangue de Jesus tem poder. Todo mal tem que ser desfeito, em nome de Jesus. A senhora é o demônio-chefe, que serve toda essa cachorrada”, diz um dos suspeitos na gravação.

Ação parecida aconteceu no bairro Parque Flora, desta vez com o sacerdote do terreiro arrebentando objetos sob constante ameaça e diante de um muro já parcialmente destruído. “É só um diálogo que tô tendo com você... Da próxima vez eu mato. Safadeza! Pilantragem!”, grita um homem, que cita novamente o nome de Jesus várias vezes no vídeo.

A intimidação continua em outros trechos da gravação. “Você não sabe desde o começo que o mano não quer macumba aqui? E tá peitando por quê? (...) Já avisei: se eu pegar de novo, se tentar construir esse c... de novo, eu vou matar!”.

Ao UOL, o Babalawô Ivanir dos Santos, interlocutor da CCIR, explica que ataques como estes aconteceram sete vezes só em setembro na região, sempre seguindo o mesmo roteiro: um grupo de até sete criminosos vai aos terreiros com armas e paus e impede as pessoas de seguirem praticando a sua fé.

“É uma coisa orquestrada, está nítido. Eles foram doutrinados por alguma liderança religiosa má a fazerem isso, estão sendo manipulados. É só ver as expressões que usam nos vídeos. E as outras pessoas ficam totalmente vulneráveis”, lamenta Ivanir, acusando a existência de uma “omissão do Estado” quanto ao tema.

“As autoridades já sabem disso há um bom tempo. Começou em 2008, lá na Ilha do Governador, depois foi pra Lins de Vasconcelos, e agora cresce e chega a este ponto. Sensação é de impunidade. Nunca algum caso assim chegou até a Justiça”.

A denúncia de ataques aos terreiros de candomblé ocorre no momento em que autoridades do Rio definem detalhes para a criação de uma delegacia especializada em crimes raciais e delitos de intolerância. O interlocutor da CCIR, porém, cobra ação de outras esferas.

“Além do Estado, o governo federal deve agir. Estes crimes ferem a liberdade religiosa prevista pela Constituição Federal. O governo federal precisa se posicionar diante desta situação e ajudar o Estado a dar uma resposta firme a isso”, conclui.

O UOL entrou em contato com a Polícia Civil do Rio de Janeiro questionando se alguma ocorrência envolvendo os recentes ataques em Nova Iguaçu foi registrada, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.