Topo

Justiça condena 2 PMs e guarda civil a mais de 600 anos de prisão por maior chacina de SP

22.set.2017 - Zilda Maria de Paula, 64, mãe de uma das vítimas de 13 de agosto de 2015, veste a camiseta preferida do filho, Fernando de Paula - Luis Adorno/UOL - Luis Adorno/UOL
Zilda Maria de Paula, 64, veste a camiseta preferida do filho, Fernando de Paula, morto na chacina
Imagem: Luis Adorno/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

22/09/2017 18h20Atualizada em 25/09/2017 08h41

Os policiais militares Fabrício Eleutério e Thiago Henklain e o guarda civil municipal Sérgio Manhanhã foram condenados nesta sexta-feira (22) a mais de 600 anos de prisão pela participação na maior chacina de São Paulo, em agosto de 2015. Eles foram acusados de envolvimento em 17 dos 23 homicídios ocorridos nos dias 8 e 13 daquele mês.

Eleutério foi condenado a 255 anos, 7 meses e 10 dias em regime fechado. Henklain pegou 247 anos, 7 meses e 10 dias, também em regime fechado. O guarda civil Manhanhã recebeu pena menor do que os policiais militares, condenado a 100 anos e 10 meses. As defesas dos três condenados vão recorrer da sentença.

Meu irmão está sendo enterrado vivo, diz irmã de condenado a 255 anos

O julgamento durou cinco dias, menos do que estava previsto. Os jurados se reuniram na sala secreta às 16h07 e a condenação recebeu 4 votos contra3. Eleutério entrou no plenário para ouvir a sentença, tremendo, chorando e segurando uma bíblia. Manhanhã e Hanklain aparentavam estar mais calmos. 

Às 18h11, a juíza Élia Bulman divulgou a sentença. "A missão dos senhores foi muito bem cumprida, podem ter certeza disso", afirmou a magistrada aos jurados. "Nós trabalhamos com a dor, dor da perda. Perda de uma vida igual a minha", disse a juíza, que chorou.

"A justiça foi feita. O MP cumpriu seu papel de defender a vida humana e os direitos humanos. Era o que a família e a sociedade esperavam", afirmou o promotor Marcelo Oliveira. "Espero que os maus policiais, que são a minoria, comecem a refletir o resultado e entender que não se tolera mais justiça com as próprias mãos."

Após a condenação, Eleutério e Henklain voltam ao presídio militar Romão Gomes. Manhanhã deve ir ao presídio de Tremembé.

As alegações durante o julgamento

Na última cartada do promotor Marcelo Oliveira para tentar convencer os jurados, formado por quatro homens e três mulheres, ele argumentou que as versões da defesa eram "bizarras" e que, caso fossem absolvidos, seria um caso de impunitividade. "Eles sabiam que os crimes iam ocorrer. Está claro. Cada um tinha distintas tarefas", argumentou.

Já os advogados Fernando e Evandro Capano, que defenderam Thiago Henklain, afirmaram que não havia provas "cristalinas" de que o policial tinha envolvimento nos crimes. "Foi montado. Jogaram para cima dos senhores [jurados] uma responsabilidade de uma investigação pífia", afirmou Evandro Capano.

O defensor do GCM Sérgio Manhanhã, Abelardo da Rocha, afirmou, diferentemente dos demais advogados, que o seu cliente, e apenas ele, não tinha ligação com os crimes. "Pode haver indício, mas não existe nenhuma prova contra ele. Não podem condenar com falta de prova", afirmou aos jurados.

Por fim, os advogados Nilton Nunes e Flavia Artilheiro, afirmaram que a pessoa baleada que reconheceu Eleutério não foi vítima da chacina e estava interessada na recompensa do governo do Estado -- que havia oferecido até R$ 50 mil por informações-- e criticaram as investigações.

"A Polícia Civil, que não consegue resolver roubo de celular, finalizou a investigação da chacina em 8 meses", afirmou Flavia. "O secretário da segurança da época, Alexandre de Moraes, pegou três idiotas para se lançar como ministro do Supremo. Aliás, como diz a imprensa, Moraes é conhecido por ser advogado do PCC", complementou.

Nunes afirmou aos jurados não deveriam temer, porque os réus eram "homens de bem". "Os senhores estão julgando aqui três agentes de segurança pública, três homens de bem. Seria perigoso se estivessem julgando crápulas do PCC", afirmou.

Enquanto os jurados votavam, a reportagem do UOL ouviu um policial militar fardado, presente no júri, dizer a um grupo de seis PMs no corredor do fórum: "Vai dar certo". Do lado de fora do fórum, havia manifestantes, a maioria em apoio aos réus, aguardando o resultado final do julgamento.

Maior chacina de SP

Ao todo, 23 pessoas foram mortas em 8 e 13 de agosto de 2015 nas cidades de Osasco, Barueri, Itapevi e Carapicuíba, na Grande São Paulo. O episódio ficou marcado como a maior chacina de São Paulo.

Segundo a Promotoria e a Polícia Civil, as mortes ocorreram por retaliação às mortes de um policial militar e de um guarda municipal. De acordo com relatório do TJM (Tribunal de Justiça Militar), os acusados integravam uma milícia paramilitar. No dia 8 de agosto, seis pessoas foram mortas a tiros. Cinco dias mais tarde, outras 17 foram assassinadas, na mesma região. 

Ao todo, oito pessoas foram indiciadas por suspeita de envolvimento nos crimes: sete PMs e um guarda civil. Para o promotor Marcelo Oliveira, há indício de assassinos ilesos. 

Além de Eleutério, Henklain e Manhanhã, o PM Victor Cristilder Silva dos Santos, 32, será julgado em breve, segundo a promotoria. Ele foi o único a recorrer contra a sentença que os mandou a júri popular.

Em todo o processo, a defesa dos três réus alegou que seus clientes eram inocentes, seja de participação efetiva nos assassinatos como na estratégia/facilitação dos crimes.