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Foragido de prisão e líder de motim integravam quadrilha que tentou assalto bilionário em SP

Ação da Polícia Civil deteve 16 suspeitos; cerca de quatro ainda estão foragidos - Divulgação/Deic
Ação da Polícia Civil deteve 16 suspeitos; cerca de quatro ainda estão foragidos Imagem: Divulgação/Deic

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

04/10/2017 16h47Atualizada em 04/10/2017 18h22

Entre os 16 homens pegos em flagrante na noite de segunda-feira (2), na zona sul de São Paulo, sob a suspeita de cavar um túnel para tentar furtar cerca de R$ 1 bilhão do Banco do Brasil, dois chamaram a atenção das autoridades públicas por seu passado no crime. Um deles cumpriu pena na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão. O outro liderou um motim no interior de São Paulo e teria participado de roubo milionário no Paraguai.

São eles: Marcos Paulo Chini, 44, e Alceu Céu Gomes Nogueira, 35. Já se sabia que ambos tinham passagem pela polícia pelo crime de roubo, mas o histórico deles é representativo, segundo as autoridades.

Chini estava foragido, desde maio deste ano, da penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão. A unidade prisional viveu uma crise entre 2014 e 2015. À época, o MP (Ministério Público) afirmou que havia tortura, assassinatos, esquartejamento e canibalismo entre os presos. Uma divisão de presos por facção ajudou a reduzir o número de mortes nos últimos anos.

De acordo com a Secretaria de Segurança do Maranhão, o criminoso tinha sido preso em novembro de 2015 por policiais civis após participar do assalto a uma agência bancária, quando foi levado R$ 1 milhão.

A pasta afirmou que em 16 de maio de 2017 ele foi beneficiado pela saída temporária do Dia das Mães e não retornou para o presídio -- sendo considerado foragido desde então.

04.out.2017 - Marcos Paulo Chini, 44, foragido de Pedrinhas (MA) e preso sob a suspeita de tentar assaltar Banco do Brasil, na zona sul de SP - Divulgação/Secretaria de Segurança-MA - Divulgação/Secretaria de Segurança-MA
Marcos Paulo Chini, 44, foragido do presídio de Pedrinhas, no Maranhão, desde o Dia das Mães, e preso sob a suspeita de tentar assaltar Banco do Brasil, na zona sul de SP
Imagem: Divulgação/Secretaria de Segurança-MA

O governo do Maranhão quer que ele seja enviado ao Estado. "O mandado de recaptura foi enviado ao Deic-SP para o devido cumprimento e, após as formalidades legais, estamos aguardando a decisão judicial para realizar seu recambiamento ao Estado do Maranhão". A Polícia Civil de SP não se manifestou sobre o assunto.

A suspeita de investigadores da polícia de São Paulo é de que Chini tenha ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Seria por essa ligação, inclusive, que Chini teria sido chamado para participar da tentativa do assalto ao Banco do Brasil, que deveria ocorrer na próxima sexta-feira (6).

No fim da tarde desta terça-feira (3), após audiência de custódia, a prisão preventiva de Chini, Nogueira e os demais 14 homens pelos em flagrante foi decretada. Em princípio, todos devem ficar presos em São Paulo.

Alceu Céu Gomes Nogueira, 35, afirmou à Polícia Civil que trabalhava como perueiro. Mas policiais e promotores disseram acreditar que ele pode ser na verdade um ladrão de bancos integrante do PCC.

Nogueira teria participado de um assalto à transportadora de valores Prosegur, no Paraguai, em abril deste ano. Na preparação da ação, ele teria tido contato com Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue. Foragido, o criminoso é apontado pelo Ministério Público como a principal liderança do PCC em liberdade.

04.out.2017 - Alceu Céu Gomes Nogueira, 35, suspeito de integrar o PCC e com histórico em rebelião e outros grandes assaltos a bancos - Divulgação/Deic - Divulgação/Deic
Alceu Céu Gomes Nogueira, 35, tem histórico em rebelião do PCC, durante os ataques às forças públicas de 2006, e em outros grandes assaltos a bancos, no Brasil e no exterior
Imagem: Divulgação/Deic

No assalto à Prosegur, os criminosos conseguiram levar cerca de R$ 120 milhões em dólares. O crime foi atribuído a membros do PCC.

O Ministério Público também aponta que, enquanto esteve preso em Avaré, no interior de São Paulo, em 2006, Nogueira teria sido uma das lideranças a realizar um motim, pouco antes de maio daquele ano, quando a facção atacou as forças de segurança.

À época, houve vários motins simultâneos em cadeias paulistas, porque havia a possibilidade dos líderes da facção criminosa serem enviados para uma prisão de segurança máxima em Presidente Venceslau. Em 2014, Nogueira foi condenado. Ele negou ter liderado o motim.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com a defesa dos 16 suspeitos até o horário da publicação. Eles vão responder por tentativa de furto qualificado e associação criminosa. Entre os integrantes da quadrilha, 12 já tinham passagens na polícia por homicídio, roubo, furto, tráfico de drogas, estelionato e porte de arma.

Além dos 16 homens presos, a polícia estima que outras quatro pessoas, que colaboraram na escavação do túnel, estão foragidas. As investigações continuam.

De acordo com o delegado Fábio Pinheiro Lopes, o investimento da quadrilha para preparar o crime foi de cerca de R$ 4 milhões, sendo que, cada integrante, colaborou com R$ 200 mil para compra de estrutura e mantimentos e também para o planejamento do crime.

Os suspeitos teriam admitido participação na quadrilha e confessado o crime. "Conseguimos levantar a quadrilha e, em três meses, começamos a monitorar. Há um mês, identificamos o QG, na zona norte. Vimos uma movimentação anormal. Conseguimos um imóvel nas proximidades. Em uma semana, a gente conseguiu identificar onde seria o túnel. Monitoramos a região e optamos para "startar" (começar) essa operação quando os líderes estivessem reunidos", afirmou.

Segundo o delegado, o roubo deveria ocorrer na próxima sexta-feira (6). "O túnel já estava pronto. Estavam instalando os trilhos e carrinhos para retirar o dinheiro. Eles tinham apoio de bússola. Pela estrutura do túnel, tinha um trabalho forte de engenharia, feito em paralelo à galeria pluvial", disse.

A quadrilha alugou a casa da zona sul por R$ 2 mil em 20 de junho. "Família e proprietária da casa não tinham nada a ver. Usaram documentos falsos para alugar e enganaram elas também. Os bandidos fizeram mudanças estruturais como fechar a porta completamente".