Investigação sobre jovem morta em MG ao dar carona tem perguntas sem respostas
Após a finalização do inquérito policial, na última sexta-feira (10), ao menos quatro perguntas continuam sem resposta definitiva e têm gerando angústia à família da radiologista Kelly Cristina Cadamuro, 22. Ela foi morta em 1º de novembro deste ano ao ceder uma carona cobrada, combinada pelo WhatsApp, a Jonathan Pereira do Prado, 33, que está preso e assumiu a autoria do crime.
Kelly viajava de sua cidade, São José do Rio Preto (SP), para Itapagipe (MG), onde visitaria seu namorado, um engenheiro de 28 anos. Ela foi morta pelo homem para quem deu carona na região de Frutal (MG).
Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, que investiga o caso, Prado matou Kelly com socos e com estrangulamento. No entanto, a família questiona alguns pontos da investigação e diz que vai ao MP (Ministério Público) nesta sexta-feira (17) informar sobre perguntas que, em sua opinião, ainda não foram respondidas.
Os parentes querem que o inquérito policial seja refeito, para que a prova contra o criminoso confesso seja mais consistente e que ele tenha uma pena de prisão maior. Procurado, o delegado Bruno Giovanini informou que o inquérito já foi finalizado e que o MP pode analisar as questões dos familiares.
Ao UOL, a Promotoria de Minas Gerais informou que o promotor de Justiça Fabrício Costa Lopo deve oferecer a denúncia contra Prado na semana que vem. "Somente após o oferecimento da denúncia, o promotor vai falar com a imprensa. O inquérito policial chegou tem pouco tempo e ele não conseguiu ainda terminar a análise", disse o MP.
As questões em aberto são:
1) O telefone de Kelly pode ter sido usado pelo criminoso para falar com um comparsa?
Segundo os familiares, a polícia pediu a quebra do sigilo telefônico da vitima, mas o resultado desse pedido não foi divulgado nem foi incluído no inquérito policial. Em tese, esse detalhe poderia apontar para o eventual envolvimento de mais pessoas no crime e, talvez, fornecer mais evidências sobre o que motivou o criminoso.
2) Havia um capacete no local do assassinato, o que pode sugerir a participação de outras pessoas. Ao todo, quantos suspeitos se envolveram com o crime?
O capacete pode sugerir que Prado teve a colaboração de algum outro criminoso em uma moto. Mas também pode ter sido levado pelo próprio suspeito. Para a família, é importante que todos os envolvidos sejam identificados e presos pelo crime.
Até agora, além de Prado, a polícia identificou ao menos outros dois suspeitos. A participação deles seria comprar o carro e pertences roubados de Kelly. Porém, até agora a polícia não disse nada sobre a possibilidade de mais suspeitos terem estado na beira de um rio onde o corpo de Kelly foi encontrado.
3) Houve ou não conjunção carnal?
O criminoso confesso diz que não estuprou Kelly, mas o fato do corpo dela ter sido encontrado sem calças pode apontar um abuso sexual. O laudo dos peritos, no entanto, só trará a resposta em 70 dias. Se ele der positivo, pode derrubar a versão do suspeito de que a motivação do assassinato foi cometer um roubo.
4) Os caixas de um pedágio e os funcionários de um posto de gasolina, pelos quais Kelly e Prado passaram, podem ter percebido fatos ainda não analisados pela polícia?
Oficialmente não é possível saber, porque os depoimentos deles não foram tomados ainda pela polícia. Segundo a família, esses depoimentos seriam importantes para demonstrar se o criminoso agiu, ao menos em parte do crime, sozinho e se as testemunhas não perceberam que algo estava errado.
Além desses pontos, a família se questiona e tenta procurar respostas para desvendar se o crime foi premeditado e qual teria sido a motivação real. No desespero, a família, inclusive, diz ter feito um trabalho de investigação privado.
"Nós tivemos que ir atrás e entregar para a polícia os extratos do telefone da Kelly. Fomos nós que conseguimos isso. Só depois disso, a polícia pediu a quebra do sigilo telefônico", afirmou ao UOL o cunhado da radiologista, o analista de crédito Danilo Alberton, 29.
A polícia não se manifestou sobre essa afirmação.
Kelly vivia com os pais e juntava dinheiro para se casar com o namorado. Ela deixou um tio, uma irmã, além de sobrinhos.
"No meu ponto de vista, o inquérito policial foi muito bem formulado, mas o resultado é prematuro porque há coisas a serem esclarecidas. E, num caso como esse, é preciso que tudo fique muito claro, para que haja justiça, na condenação do criminoso, e para que a família fique ao menos um pouco aliviada", disse ao UOL o advogado da família, Jorge Argemiro de Souza Filho.
A finalização do inquérito não deve prejudicar a investigação, segundo a juíza Ivana David, que tem mais de 20 anos de experiência na área criminal.
"O caso é muito grave, é um crime que abalou todo o país e eu duvido que o delegado esteja, eventualmente, tentando fragilizar a prova. Ainda é muito cedo. Essa prova pode ser realizada a qualquer tempo dentro do processo", afirmou a magistrada, da 4ª Câmara Criminal do TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo). "Essas diligências faltantes, como laudo e quebra do sigilo, vão agregar ao inquérito policial a hora que ficarem prontas e podem ser juntadas a qualquer momento", complementou.
"Quanto às oitivas de testemunhas de posto de gasolina faltantes quanto ao capacete, que possa ter impressões digitais, já que não existe outra pessoa, podem ser feitas a qualquer tempo. A família mesmo da vítima pode requerer junto ao promotor ou nomear um advogado que se torne assistente da acusação e vai poder participar das audiências, perguntar e peticionar", disse a juíza.
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