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Matadores do PCC tinham nomes e endereços de mais de 20 agentes penitenciários federais

A partir da esq., o agente do presídio federal de Catanduvas (PR) Alex Belarmino Almeida Silva, o agente do presídio federal de Mossoró (RN) Henry Charles Gama Filho e a psicóloga Melissa de Almeida Araújo, mortos a mando do PCC - Arte UOL
A partir da esq., o agente do presídio federal de Catanduvas (PR) Alex Belarmino Almeida Silva, o agente do presídio federal de Mossoró (RN) Henry Charles Gama Filho e a psicóloga Melissa de Almeida Araújo, mortos a mando do PCC Imagem: Arte UOL

Flávio Costa e Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

27/11/2017 04h00

A PF (Polícia Federal) encontrou com suspeitos de participação no assassinato do agente penitenciário federal Alex Belarmino Almeida Silva um levantamento com mais de 20 nomes e endereços de outros funcionários de presídios federais, tidos como alvos da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). 

A informação foi confirmada ao UOL por três pessoas que participaram da investigação do homicídio ocorrido em 2 de setembro de 2016, na cidade de Cascavel (PR). Outros dois servidores foram mortos, parte de uma ação do PCC para intimidar quem trabalha no sistema penitenciário federal, de acordo com investigações da PF.

Lotado no Depen (Departamento Penitenciário Nacional), órgão do Ministério da Justiça com sede em Brasília, Alex Belarmino trabalhava temporariamente no presídio federal de Catanduvas -- a 55 km de Cascavel --, onde ministrava cursos de tiro a seus colegas.

A investigação da PF mostrou que os criminosos alugaram a uma casa vizinha àquela usada pelo agente durante sua estadia em Cascavel. "O alvo inicial deles era um outro agente que morava de maneira permanente em Cascavel, naquela mesma rua. Alex virou alvo depois que esse primeiro agente teve que viajar", afirmou um colega da vitima, sob a condição de sigilo.

Alex Belarmino - Reprodução/CGN - Reprodução/CGN
Carro dirigido pelo agente penitenciário quando ele foi assassinado
Imagem: Reprodução/CGN
Alex Belarmino foi assassinado com 23 tiros - a maioria o atingiu pelas costas. A emboscada aconteceu quando ele dirigia um carro oficial rumo à penitenciária de Catanduvas.

Ao diminuir a velocidade ante um quebra-molas, seu carro foi emparelhado por um Crossfox prata, onde estavam os assassinos. Dois deles, armados com pistolas nove milímetros, disparam contra o agente. Pela legislação, esta arma é de uso exclusivo da PF e das Forças Armadas.

Após os disparos, o carro do agente perdeu a direção e bateu em uma caminhonete que vinha em sentido contrário. Belarmino morreu no local.

O Ministério da Justiça determinou, após as mortes dos três agentes, uma série de medidas de segurança para os funcionários de penitenciárias federais.

Célula de inteligência

O levantamento foi encontrado com suspeitos da morte de Alex Belarmino no momento em que foram presos pela PF e é mais uma prova, de acordo com investigadores ouvidos pela reportagem, de que o PCC criou um célula de inteligência chamada de "sintonia restrita", para executar missões especiais, como assassinatos de policiais e funcionários de penitenciárias.

O nome "restrito" vem do fato de que, quando o membro do PCC recebe esta tarefa, fica escalado exclusivamente para ela. São pessoas que, quando participam destas missões, tentam não falar pelo celular, para evitar rastreamento.

"Para obter as informações e alcançar seus objetivos, a facção também conta com uma rede de infiltrados no sistema estatal", afirma um agente da PF.

Esta rede de infiltrados é formada por policiais, funcionários do Poder Executivo e até membros de entidades de direitos humanos

Agente da PF*

Para cada assassinato, é criada uma célula específica para executar o plano, informou um membro do MPF (Ministério Público Federal). A atividade é respaldada e gerenciada por líderes da facção que estão detidos em presídios paulistas. 

A sintonia restrita é um grupo criado recentemente pelo PCC, subordinado diretamente à cúpula da facção. Seus integrantes se desvinculam da chamada "sintonia geral" e ficam subordinados à "sintonia geral fora do ar", o que indica que deixaram de exercer as atividades normais do PCC, a exemplo do tráfico de drogas. Eles não precisam pagar a "cebola", a mensalidade obrigatória para membros da facção. "Eles não falam com qualquer um da organização. Por isso é tão difícil localizá-los", afirma uma fonte ligada às investigações.

Pelo menos 15 pessoas foram denunciadas pelo MPF (Ministério Público Federal) por participação no homicídio do agente Alex Belarmino e podem a ir júri popular. O processo tramita em uma das varas federais de Cascavel (PR).

* Pediu para não ser identificado