Pivô de rebelião, PCC é a facção predominante em Goiás, aponta relatório de inteligência
Envolvido na rebelião que resultou em pelo menos nove mortos em um presídio da região metropolitana de Goiânia, o PCC (Primeiro Comando Capital) é a facção criminosa predominante em Goiás, onde possui pelo menos 577 membros presentes em 42 das 246 cidades do Estado.
As informações constam no relatório de inteligência nº 194 da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária, obtido com exclusividade pelo UOL.
"A Superintendência de Inteligência Integrada, por meio da Gerência de Inteligência Estratégica, monitora e acompanha, em parceria com outras instituições, especialmente a Polícia Civil e a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária, as facções criminosas presentes e atuantes no estado de Goiás, sendo que hoje predomina em nosso estado o Primeiro Comando da Capital – PCC que conta, segundo levantamentos, com 577 (quinhentos e setenta e sete) faccionados presos e em liberdade em diversos municípios goianos", lê-se no documento datado de 28 de agosto passado.
Desde então, a presença da maior facção do país só aumentou em Goiás, afirma o titular da pasta, Ricardo Balestreri. Ele confirmou à reportagem a informação contida no relatório de inteligência. "Posso dizer que os números desse grupo criminoso são maiores neste momento", afirma.
"Nossos relatórios de inteligência mostram que essa facção está dispensando a exigência de mensalidade para novos membros com o objetivo de aumentar o número de filiados", diz Balestreri.
Em reportagem publicada em 15 de dezembro passado, o UOL mostrou que o PCC afrouxou suas regras de "batismo" para atingir a meta de 40 mil criminosos filiados em todo o país.
Rebelião na mesma cidade teve cinco mortos em 2017
Não é a primeira vez que uma prisão de Aparecida de Goiânia foi palco de assassinatos coletivos. Se no primeiro dia deste ano, os homicídios aconteceram na Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto, em 23 de fevereiro de 2017, os confrontos entre facções na Penitenciária Coronel Odenir Guimarães resultaram na morte de cinco presos e outros 35 feridos.
Já nesta quinta-feira (4), uma nova rebelião na Colônia Agroindustrial teve início após presos do PCC tentarem invadir alas ocupadas por membros de outras facções, mas a polícia conteve o motim, e não houve vítimas. Uma fuga foi registrada.
"O cenário de sucateamento do sistema prisional de Goiás aliado à superlotação em algumas unidades favoreceu o crescimento dessas facções criminosas. Há grupos que tiveram até 500% de aumento no número de membros", afirma o promotor Luciano Miranda Meireles, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do MP (Ministério Público) de Goiás.
"Está claro que o que aconteceu no primeiro dia do ano foi uma guerra de facções em busca de espaço dentro dos presídios, e não um movimento de reivindicação de melhorias da estrutura presidiária", afirmou o promotor.
"Há riscos de novos confrontos dentro do sistema."
Para o crime, Goiás tem posição estratégica
Entre os 42 municípios onde a facção paulista atua estão, além da capital, cidades como Aparecida de Goiânia, onde ocorreu o motim, e Anápolis, onde dois agentes penitenciários foram assassinados a tiros na terça-feira (2).
Localizado na região central do país, o Estado de Goiás ocupa uma posição estratégica dentro da lógica de negócios do crime organizado.
"Pela posição geográfica, Goiás é um centro de distribuição para outros Estados e, além disso, está nas proximidades do Distrito Federal, que é um mercado (para venda de drogas) cobiçado por esses grupos criminosos", afirma o vice-presidente da Fenapef (Federação Nacional de Policiais Federais), Flávio Werneck.
"Por ser uma cidade com um grande contingente de pessoas pertencentes à classe média, Brasília é um grande mercado consumidor de cocaína e seus derivados de alta qualidade", completa.
De acordo com investigadores federais ouvidos pelo UOL, o PCC busca manter posição em cidades goianas próximas do Distrito Federal, onde há um contingente policial proporcionalmente menor que o da capital federal.
O contraponto ao grupo paulista são quadrilhas ligadas ao Comando Vermelho, com origem no Rio de Janeiro. "Esse movimento dessa facção paulista de se firmar posição em Goiás se intensificou nos últimos dois anos e meio", afirma Balestreri.
"Essa facção paulista tem dois adversários: a facção inimiga e o Estado democrático de direito. Nossa polícia vem aumentando o número de prisões com consequência direta na redução de 12 índices de criminalidade."
Como aconteceu a rebelião
De acordo com o governo goiano, a rebelião começou por volta das 14h de segunda-feira (1º), quando presos da ala C da Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia invadiram as alas A, B e D. Estas alas abrigam detentos do chamado grupo dos "bloqueados" --os que cumprem pena em regime fechado dentro da colônia.
A instituição tem um total de 768 "bloqueados", sendo que a ala C é a mais numerosa, com 449 presos. Esta ala é dominada por presos integrantes do PCC.
Dos nove mortos -- cujos corpos foram carbonizados -- sete pertenciam ao Comando Vermelho. Ou seja, a suspeita é que os integrantes do PCC mataram seus rivais do CV.
Uma inspeção feita nesta quarta-feira (3) na cadeia de Aparecida de Goiânia (GO) revelou a existência de um buraco na parede de uma das alas da prisão. O furo liga o interior de uma das celas à parte externa da prisão.
Até a noite de quarta-feira, 99 detentos ainda estavam foragidos após a rebelião e outros 143 haviam sido recapturados, segundo a Seap-GO (Superintendência de Administração Penitenciária de Goiás).
Com isso, entre foragidos e recapturados, o total de presos que fugiram durante a rebelião chega a 242.
Goiás diz que vai separar presos por periculosidade
Em entrevista, o secretário Ricardo Balestreri afirma que uma das dificuldades do sistema prisional de Goiás decorre do fato de que as vagas nos presídios são "administradas" pelo sistema judiciário e não pelo Executivo. "Então nós não conseguimos fazer transferências de presos sem autorização dos juízes responsáveis por cada caso", afirma.
De acordo o secretário, essa situação deverá mudar, a partir da entrada em vigor de uma lei recém-aprovada pela Assembleia Legislativa de Goiás.
"A lei (publicada na quinta, 4) cria uma diretoria de administração penitenciária, órgão do Poder Executivo, que decidirá sobre transferências de presos, por exemplo", diz Balestreri, que passará a responder apenas pela Segurança Pública do Estado.
O governo informou que o coronel da Polícia Militar de Goiás Edson Costa assumirá nesta sexta-feira (5) a Diretoria Geral de Administração Penitenciária, órgão criado pela nova lei.
Outra ação que, segundo Balestreri estava prevista antes da rebelião do dia 1º é a criação de cinco novos presídios. "Nestas novas prisões, os presos serão separados pelo grau de periculosidade. Não podemos mais colocar na mesma unidade prisional pessoas que cometeram crimes menos graves para conviver com líderes de facções criminosas."
Outra medida prevista é a redução pela metade das atuais 142 unidades prisionais de Goiás e a contratação temporária de 1.600 agentes penitenciários.
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