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Pezão diz que polícias não conseguem deter facções e RJ 'paga preço' como ex-capital

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília*

16/02/2018 13h58

Em discurso no ato de assinatura do decreto que estabelece a intervenção federal na área de segurança pública no Rio de Janeiro, o governador do Estado, Luiz Fernando Pezão (MDB), afirmou que as polícias Militar e Civil não conseguem mais deter a guerra entre facções.

Ele também afirmou que o Rio de Janeiro “paga um preço” por não receber mais apoio da União para a segurança pública desde que deixou de ser a capital federal. Segundo ele, quando a capital foi transferida para Brasília, o Rio deveria ter continuado a receber recursos para combater a violência.

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Em seguida, voltou a dizer que a atual estrutura de segurança não é capaz de combater o crime organizado e lembrou que a cidade é cercada por rodovias federais.

"Se nós não contarmos com esse auxílio das Forças Armadas, da Marinha, da Aeronáutica e do Exército, da Polícia Federal, e principalmente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) [...], é impossível se combater a entrada de armas, munições e drogas”, declarou Pezão.

O governador do Rio disse nesta sexta que negociou a intervenção federal na área de segurança pública do Estado pensando no bem estar da população, uma vez que os casos de violência estavam fugindo do controle. "A gota d'água foram as ocorrências no Carnaval deste ano com casos de violência na capital e em cidades do litoral e do interior do Estado", disse Pezão à "Reuters". 

"A violência se alastrou muito, e só com intervenção e integração vamos conseguir vencer essa quantidade absurda de armas no Rio", acrescentou Pezão. "Estou pensando na população e preocupado com ela."

O governador fluminense afirmou que comunicou a decisão à cúpula de segurança do Estado nesta sexta-feira, e que cargos já foram colocados à disposição --entre eles, o do até então secretário de Segurança, Roberto Sá.

Segundo Pezão, o general interventor Walter Braga Neto terá autonomia para escolher sua equipe de trabalho. "Tem muita arma, droga e munição entrando via rodovias federais, baía de Guanabara e de Sepetiba. Algo precisa ser feito", disse. "O general Braga Neto vai escolher com quem vai trabalhar, mas a definição será feita com calma".

"Aceitei prontamente", diz Pezão sobre intervenção

Apesar de informar que pediu ao presidente Temer a ampliação da GLO (Garantia de Lei e de Ordem) em vigor, "onde pudéssemos ter mais recursos", Pezão negou ter qualquer resistência à proposta do governo federal. "Chegou-se à conclusão que, para ter essa ampliação, eles tinham que ter o comando da segurança e eu aceitei prontamente. Não tive resistência nenhuma", declarou.

Em entrevista após a assinatura do decreto, Pezão disse que pediu a cooperação das Forças Armadas em diversos momentos do seu governo, desde que assumiu, em abril de 2014. "Só que chegou um momento agora muito difícil para nós. Estamos vendo aumentar a criminalidade, o uso abusivo de fuzis, mortes de policiais. E não é trivial a gente ver 142 policiais mortos."

"Fuzil é arma de guerra. Qualquer lugar do mundo onde está um traficante ou um terrorista com fuzil, tem Forças Armadas para tomar conta", afirmou o governador, citando a apreensão de mais 600 armas do tipo em 2017, e de 62 apenas no início desse ano.

Após destrinchar uma série de problemas enfrentados pelo governo na segurança pública, Pezão foi questionado se, por integrar o governo há mais de dez anos (foi vice do ex-governador Sérgio Cabral a partir de 2007), se sente responsável pela situação do Rio.

"Não, eu não sou culpado de ter chegado em abril com US$ 115 o barril de petróleo e governar um ano e dois meses com o preço a US$ 28 e quase mais um ano a US$ 32 o barril. O Rio tem uma dependência muito forte do petróleo", justificou-se, classificando o processo como uma "tempestade perfeita".

Pezão também foi questionado se a corrupção de seu grupo político, comandado por Cabral (MDB), preso desde novembro de 2016, ajudou a tirar recursos da área de segurança pública e a culminar na presente situação. O governador, no entanto, desconversou.

Pezão agradeceu ao presidente Michel Temer (MDB), por sempre atender aos seus apelos e pedidos, e ao general Braga Netto, que ficará responsável pela intervenção.

O governador fluminense disse que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se ofereceu para ajudar a combater a violência no Estado durante o Carnaval e também agradeceu o empenho dele e da equipe federal.

"Que a gente consiga com essa união de esforços vencer a criminalidade e a bandidagem no Rio de Janeiro", concluiu Pezão.

*Com informações da Reuters