Justiça envia provas de crimes de bispo de Formosa (GO) para interventor da Igreja Católica
A Justiça goiana autorizou o envio das provas coletadas contra o bispo José Ronaldo Ribeiro ao interventor nomeado pelo papa Francisco na diocese na Formosa (GO), o arcebispo Paulo Mendes Campos. O bispo e mais cinco quatro padres foram presos sob acusação de desviar R$ 1 milhão por ano da diocese. A suspeita é que eles tenham cometido os crimes de associação criminosa, apropriação indébita, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.
Os sacerdotes foram presos na última segunda-feira (19) durante a deflagração da Operação Caifás. Dois dias depois, o papa Francisco nomeou dom Paulo Mendes, que é arcebispo de Uberaba (MG), como interventor na diocese goiana, formada por 33 igrejas distribuídas em 20 paróquias.
"Não vislumbro impedimento no compartilhamento de provas para apuração de responsabilidade em outras esferas, porquanto se trata de prova considerada lícita e compatível com a legislação e ordem constitucional brasileira em vigência", afirmou, em sua decisão, o juiz da 2ª Vara Criminal de Formosa (GO), Fernando Oliveira Samuel.
"A Igreja é vítima neste caso e por esta razão o Ministério Público teve a iniciativa de pedir à Justiça autorização para compartilhar as provas coletadas durante a investigação, inclusive o conteúdo das escutas telefônicas", afirmou o promotor de Justiça Douglas Chegury, responsável pelo inquérito da Operação Caifás.
"No começo fiquei inseguro, pensando que tinha que acionar pessoas mais fortes. A finalidade [da investigação] é a de me eliminar. Depois vou querer uma retratação. O negócio não vai ficar barato", disse o bispo, de acordo com a transcrição das escutas telefônicas, a cujo conteúdo o UOL teve acesso exclusivo.
Parte do dinheiro foi usada, segundo a investigação, na compra de uma fazenda de gado e uma casa lotérica na cidade de Posse, também no interior de Goiás. As propriedades foram colocadas em nomes de "laranjas".
Polícia acha dinheiro escondido em guarda-roupa de vigário
Ao cumprirem um dos mandados de busca e apreensão, policiais civis encontraram R$ 95 mil escondidos sob o fundo falso do guarda-roupa do monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, em sua casa na cidade de Planaltina (GO). Pereira, que está entre os presos, é vigário-geral de Formosa (GO), cargo que corresponde ao segundo na hierarquia da diocese. No total, a polícia apreendeu R$ 135 mil, considerando também os valores encontrados nas casas de outros investigados.
Ao ser confrontado pelos agentes, o vigário-geral negou que o dinheiro pertencesse a ele. "Esse dinheiro não é meu, é da diocese." As notas estavam acondicionadas em plástico. Policiais também encontraram uma caixa aberta com cédulas e moedas. "Esse é o dinheiro da coleta", afirmou o vigário-geral.
Estão presos, além do bispo e do vigário-geral, os padres Moacyr Santana, Mário Vieira de Brito e Waldson José de Melo.
O advogado da diocese de Formosa, Edimundo da Silva Borges Júnior, afirmou que não havia tido acesso aos autos do inquérito. Por essa razão, não comentou as suspeitas que recaem sobre a cúpula da diocese. Ele também figura entre os investigados da operação.
Pressão sobre testemunhas
Quando as denúncias dos fiéis vieram à tona, o bispo Ribeiro convocou um padre de sua confiança, que tinha as funções de juiz eclesiástico, com o objetivo de intimidar testemunhas, afirma o MP-GO.
"Esse juiz eclesiástico pressionou os padres para que nada fosse relevado e eles jurassem fidelidade ao padre. O bispo e o juiz eclesiástico, com a ajuda de um advogado, elaboraram um relatório falso no qual se afirma que as despesas da arquidiocese eram menores do que de fato são", diz o promotor Chegury.
O esquema contava ainda com a ajuda de funcionários da arquidiocese que providenciavam falsa documentação para dar respaldo aos desvios.
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