De 153 presos pela Polícia Civil do Rio em operação contra milícia, somente 11 têm ficha criminal
De 153 detidos pela Polícia Civil do Rio em uma operação contra uma milícia da zona oeste da cidade, o Ministério Público apresentou a ficha criminal de 11 deles, durante audiência de custódia que manteve a prisão preventiva (sem prazo) dos suspeitos, apurou o UOL junto às fontes que atuam no caso.
"Insta ressaltar que o fato de os custodiados não ostentarem anotações anteriores em sua FAC [Ficha de Antecedentes Criminais] e/ou apresentar comprovante de residência fixa e ocupação lícita, por si só não impede a decretação de sua prisão preventiva, devendo o magistrado atentar também para as circunstâncias do crime e sua gravidade", escreveu a juíza Amanda Ribeiro Alvez, ao decidir manter a detenção dos suspeitos.
Para os advogados que atuam no caso, a ausência de antecedentes criminais é uma prova de que a "maioria absoluta deles" participava apenas de uma festa em um sítio no bairro de Santa Cruz e não possui ligações com a milícia comandada pelo criminoso Wellington da Silva Braga, o "Ecko". Ele conseguiu escapar do cerco policial.
"Há relatos que comprovam que se tratava de um evento aberto ao público, com venda de ingressos, e que não havia visualização de pessoas com armamento ostensivo na festa", afirma o defensor público João Gustavo Fernandes, que atende 25 dos suspeitos.
"Ainda não estão claros quais critérios foram utilizados pelos agentes policiais para determinar quem foi preso, já que todas as mulheres presentes foram liberadas, assim como alguns homens, ao fim da operação", acrescenta o advogado.
"A polícia deve atuar para a repressão da milícia, desde que respeitando o direito dos cidadãos. O que aconteceu foi uma atuação infeliz que acabou com a prisão de mais 90% de homens inocentes, trabalhadores e pais de família que podem perder seus empregos se continuarem presos num momento de crise financeira, social e moral", diz a advogada Jaqueline Cardoso. Ela defende três dos suspeitos.
Desembargadora pede informações à delegacia especializada
A operação em Santa Cruz foi coordenada por policiais das Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense e conta com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da 27ª DP (Vicente de Carvalho) e da 35ª DP (Campo Grande).
Relatora de dez pedidos de habeas corpus que pedem a soltura dos suspeitos, a desembargadora Gizelda Leitão Teixeira determinou que os titulares das delegacias acima citadas e o delegado titular da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), Alexandre Herdy, apresente informações sobre os suspeitos.
A Draco é a principal responsável pelo combate a grupos milicianos no Estado.
Em seu despacho, a desembargadora questiona se há nos arquivos da Draco "notícia de envolvimento ou de atuação em grupo de milícias ou crimes correlatos" dentre os suspeitos da operação de sábado.
Às delegacias que participaram da operação, a desembargadora questionou quais dos presos estavam sob investigação antes de sábado.
Festa seria em homenagem a chefe de milícia, diz polícia
De acordo com o relatório policial, quatro suspeitos foram mortos durante confronto com os agentes.
Os policiais apreenderam 12 fuzis, 11 pistolas, 5 revólveres, 1.265 munições de diversos calibres, 76 carregadores, uma granada, além de fardas militares, coletes à prova de balas e toucas ninjas.
De acordo com a investigação, iniciada há dois anos pela Delegacia de Homicídios da capital, "Ecko" seria o homenageado na festa, que teria a apresentação de duas bandas de pagode.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, o sítio em que foi realizada a festa é um local notoriamente dominado pela milícia, a festa era uma celebração ao grupo criminoso e havia segurança feita por homens de fuzil, por isso "todos os frequentadores do evento tinham plena consciência dessa ação delituosa".
Durante entrevista coletiva sobre a operação, o secretário de Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, declarou que outras ações de combate à milícia serão realizadas. “A sociedade pode confiar na intervenção federal. Outras operações já estão sendo planejadas e serão executados em curto prazo", afirmou.
Os detidos estão no Complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste. Eles foram atuados pelos crimes de associação criminosa e porte ilegal de arma. Além dos 153 presos que compareceram à audiência de custódia, encerrada na quarta, foram detidos também quatro integrantes das Forças Armadas. Outras duas pessoas estão hospitalizadas.
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