Defensor de direitos humanos, amigo de França, agregador: quem é o novo comandante da PM de SP
Até a próxima quinta-feira (26), o coronel Marcelo Vieira Salles, 51, deve ter seu nome publicado no Diário Oficial como novo comandante-geral da PM (Polícia Militar) na gestão de seu amigo, o governador Márcio França (PSB), à frente do estado e pré-candidato à reeleição.
Salles vai assumir o cargo ocupado desde fevereiro de 2017 pelo coronel Nivaldo Restivo, 53, indicado pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). Restivo chegou a ser denunciado pelo Massacre do Carandiru, em 1992, por não ter impedido que seus comandados praticassem atos de violência contra detentos sobreviventes.
O UOL entrevistou quatro oficiais da PM paulista que conhecem a trajetória de Salles: dois em atividade e dois aposentados. Todos apontam a troca como positiva para a corporação. A esperança da tropa é de que o novo comandante seja capaz de reaproximar PMs de baixa e alta hierarquias, que proteja o grupo e que os direitos humanos de todos sejam respaldados.
Salles vem do CPA/M-5 (Comando de Policiamento de Área), da região oeste da capital. Dentro do comando está o 16º batalhão (Rio Pequeno), um dos batalhões que mais trocam tiros com suspeitos, segundo dados da própria corporação. Em 10 anos, 38 PMs do batalhão foram presos, sendo o principal da zona oeste a ter policiais detidos.
No entanto, de acordo com relatório da Corregedoria da PM obtido pelo UOL com exclusividade, entre maio de 2017 e março de 2018, durante o período em que a região estava sob o comando de Salles, houve 26 mortes praticadas por policiais. Entre 2016 e 2017, foram 38. Ou seja, sob comando dele, houve uma redução de 31,5% na letalidade policial.
Atual corregedor da PM, o coronel Marcelino Fernandes tem boas referências sobre o novo comandante. "Se você levantar a área que ele comandou, verificará que ele baixou a letalidade", disse o corregedor. "[É um] oficial que trabalha muito. Entra antes do expediente para começar a trabalhar e sai bem depois das 18 horas".
Ele sempre foi um defensor dos direitos humanos e sempre buscou valorizar a tropa sob o seu comando
Coronel Marcelino Fernandes, corregedor da PM de SP
Segundo o Instituto Sou da Paz, em janeiro e fevereiro de 2018, houve queda da letalidade policial no estado e capital. Os dados oficiais devem ser divulgados pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) nesta quarta-feira (25).
França justificou a troca nesta segunda-feira (23), afirmando ter mais intimidade e proximidade com Salles. "Eu acho que é correto quando você faz a mudança do governo ter alguém da sua intimidade, próximo ao governador. O coronel Salles conviveu comigo, é um excelente profissional", disse.
Ex-instrutor do comandante: "humilde e agregador"
Marcelo Vieira Salles foi oficial aspirante da PM em 1989. Policiais militares que conviveram com ele durante esses 29 anos disseram à reportagem que o novo comandante é humilde, comedido, sensato, que não estimula a violência, mas que também não é omisso. A esperança posta sobre ele é grande.
O deputado federal Major Olímpio (PSL-SP), quando tenente, foi instrutor e comandante de Salles na academia do Barro Branco, que forma os oficiais da PM paulista. "Não estou em partido ligado ao novo governador, possivelmente vamos ser adversários, mas a escolha dele não poderia ter sido mais feliz", afirmou.
"Ele [Salles] teve o mesmo perfil, o mesmo trato com as pessoas desde quando era aspirante. Quando cadete, era ele quem puxava as reuniões, churrascos. É um dos mais humildes e agregadores. Ele sabe que está indo para um mandato tampão. Ele nunca esperou por isso, ser comandante. Agora ele tem a faca e o queijo na mão. Belíssima tacada do governador", disse Olímpio.
Olímpio afirma, no entanto, que "defensor de direitos humanos para os policiais se tornou ao longo dos anos um xingamento. É uma chacota entre policiais. Quando um policial quer dizer que o outro é omisso ou corrupto, ele diz que ele é um defensor de direitos humanos".
Outros dois tenente-coronéis, com receio de se indispor com o atual comandante, Nivaldo Restivo, pediram para não ser identificados. No entanto, apontaram à reportagem que Salles é "100% legalista" e que a troca deve fazer bem à corporação.
Ao longo da vida, o novo comandante serviu em unidades operacionais da PM e teve a oportunidade de trabalhar na Casa Militar com o ex-governador Mário Covas. Segundo um tenente-coronel da PM, nunca perdeu a identidade com a sua tropa.
O UOL entrou em contato com o coronel Vieira Salles, mas ele disse que só se manifestará após ter seu nome publicado no Diário Oficial.
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