Topo

Com ministro do STF e bancada da bala, comandante da PM toma posse e pede reflexão sobre mortes

Luís Adorno/UOL
Imagem: Luís Adorno/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

04/05/2018 14h54Atualizada em 04/05/2018 17h09

Nomeado novo comandante da PM (Polícia Militar) de São Paulo no último dia 26 de abril, o coronel Marcelo Vieira Salles, 51, foi empossado nesta sexta-feira (4) numa cerimônia realizada na Academia Barro Branco, zona norte da capital paulista. Amigo do governador Márcio França (PSB), ele é visto como defensor dos direitos humanos.

A cerimônia contou com a presença de França, do secretário da Segurança, Mágino Filho, do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, do prefeito Bruno Covas (PSDB) e de deputados estaduais e federais da chamada “bancada da bala”.

Segundo o novo comandante, a violência policial impõe a necessidade de uma reflexão maior sobre o treinamento policial. “Seja no preparo da nossa tropa, seja na atenção com a prevenção primária”, afirmou. No primeiro trimestre deste ano, houve redução de 17% na letalidade policial paulista. Na área até então sob comando de Salles, a queda foi de 31,5%.

Salles também lamentou as mortes de PMs no Estado. Nos três primeiros meses deste ano, houve alta de 88% no número de policiais militares mortos: passou de 9 ano passado para 17 este ano.

“Devemos reiterar as instruções no tocante ao comportamento na hora de folga. Muitas vezes, ele [policial] age em razão da função, do juramento que a gente faz de atuar com o sacrifício da própria vida. Essa postura voluntária do policial de querer prender leva a nisso”, afirmou.

Apesar disso, o comandante afirma que se sente seguro em São Paulo. “Por conta da qualidade das nossas polícias, instituições sérias, com grades curriculares que trabalham pela legalidade, direitos humanos e defesa da população”, afirmou. No último balanço divulgado pelo estado, em 25 de abril, os índices de estupros cresceram, e os demais apresentaram queda.

“PM precisa de reajuste”, diz comandante

Pedido constante das entidades de classe das polícias Militar e Civil, Salles afirmou entender “que a PM precisa de reajuste”. “Mesmo índice para todos: reserva, cabos, soldados. Precisa de reconstrução salarial”, afirmou. No entanto, ponderou que entende a crise financeira pela qual passa o estado.

Durante o evento, o secretário Mágino Filho afirmou que a melhor característica de Salles é o trato com as pessoas. “Nunca vi uma cerimônia de posse tão cheia quanto esta hoje”, afirmou. Segundo ele, a escolha “não poderia ter sido mais feliz”.

Em seu discurso de posse, o novo comandante chorou ao elogiar o pai, o subtenente Nelson de Almeida Salles, e sua família. “Minha maior referência de pai, homem público e brasileiro”, disse.

Para governador, “imprensa deve poupar a PM”

Enquanto elogiava os policiais militares e anunciava a nomeação de médicos para o hospital da PM paulista, o governador Márcio França criticou a imprensa e apontou como as coberturas jornalísticas deveriam ser feitas.

“Gostaria que todas as pessoas e a imprensa, de maneira especial, pudessem respeitar esse trabalho, pudesse poupar esses homens, pudessem deixar esses homens para aquilo que são mais treinados: garantir a segurança pública. Essa é a principal tarefa dos senhores”, afirmou.

Apesar de a assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes ter informado inicialmente que França atenderia a imprensa, ele deixou o local sem falar com os jornalistas.

O comandante Salles avaliou que a posição de França foi de indicar que, apesar da queda nos índices de crimes no estado, a imprensa, na sua avaliação, destacar apenas os índices negativos. “Sem a imprensa, não há democracia. Às vezes, é a base de nossas investigações. Por vezes, a notícia do problema vem pela imprensa”, disse.