Encanador é morto pela PM dentro de casa na frente da mulher e do filho, diz família
Um encanador de 25 anos morreu vítima de uma de um disparo de arma de fogo, efetuado por um policial militar, na noite de quinta-feira (20), em São Mateus, bairro da zona leste de São Paulo. A polícia diz que ele é suspeito de ter roubado um carro, se escondeu em casa e atirou contra a viatura. A família afirma que ele foi vítima de um erro policial.
Jozuel Paiva Ribeiro, 25, saiu de casa em São Mateus às 4h50 de quinta para trabalhar, segundo relato de sua mulher Eliene Pereira Alves, 29. Os dois eram casados há seis anos. Ele era encanador em um hospital de Santo André, no ABC, nos últimos três anos.
Ribeiro chegou do trabalho por volta das 17h30 e encontrou sua mulher e filho de dois anos e seis meses do casal a caminho de casa. Eliene disse que parou de trabalhar como atendente de caixa para cuidar da família. Já em casa, enquanto estavam na cozinha, Eliene disse à reportagem que os dois ouviram o barulho de uma batida de carros.
"Eu saí correndo para ver o que era. Ele [Ribeiro] veio atrás. Ele gritou 'ai', colocou a mão no peito e caiu. Depois, ouvi mais tiros. E aí percebi que ele tinha sido baleado", disse Eliene. "A gente não chegou nem a ir para a rua. Ele morreu na cozinha de casa", disse.
Os policiais militares envolvidos na ocorrência negam a versão da família. Em depoimento à Polícia Civil, eles disseram que Ribeiro havia roubado um carro minutos antes, tentou fugir e disparou tiros contra o carro dos policiais que o perseguiam. Os PMs disseram que atiraram para se defender e afirmaram também que o dono do carro roubado o reconheceu como um dos assaltantes que o abordou.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que tanto o suspeito que foi preso pelo roubo do veículo como o homem citado foram reconhecidos pelas vítimas como sendo os autores do crime.
"Ele trabalhava tanto. Nunca tirou nada de ninguém. Não era bandido. Ele ensinava o nosso filho a ser uma pessoa de bem. Morreu com o uniforme da empresa. Falava que a camisa sempre precisava estar limpa. Naquela noite, ficou manchada de sangue", rebate a mulher do encanador, chorando, à reportagem.
Segundo sua mulher, Ribeiro saiu do Piauí quando tinha 18 anos para tentar um emprego em São Paulo. "Eu só quero dizer que ele era uma pessoa boa demais", afirmou. "Não quero justiça. Queria ele aqui. Mas ele não está, vou fazer o que? Quem é que vai pagar? Nada vai fazer superar isso. Ele deixou o filho dele aqui e não vai ver ele crescendo."
Polícia investiga o caso
O DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil, instaurou inquérito para investigar o roubo, a suposta resistência e a morte em decorrência de intervenção policial. Segundo a Polícia Civil, além de Ribeiro, Carlos Daniel Nunes Lopes Bezerra, 18, foi preso. A polícia diz que eles eram comparsas.
"PMs se depararam com um Voyage prata que teria sido roubado momentos antes. Após breve perseguição, o veículo colidiu contra um outro carro que estava parado. Carlos, que estava dirigindo, não conseguiu sair, pois ficou com as pernas presas durante a batida. Um outro indivíduo, ainda desconhecido, fugiu. E Jozuel [Ribeiro], desembarcou com uma arma em mãos e, mediante ameaça, os policiais reagiram", informou a Polícia Civil.
Ainda de acordo com a versão policial, Ribeiro foi baleado pelos PMs, mas conseguiu fugir. "Pouco depois, os policiais foram informados que um homem ferido estava dentro de uma casa. Ele foi socorrido ao hospital de São Mateus, mas não resistiu aos ferimentos", apontou a polícia.
Uma técnica de radiologia de 47 anos e um aposentado de 75 contaram na delegacia que eram os donos do carro roubado mencionado pelos PMs. Eles disseram que foram abordados por quatro homens que anunciaram o roubo e fugiram levando o veículo na tarde de quinta-feira. "A vítima reconheceu Jozuel [Ribeiro] e Carlos [Bezerra] como autores do crime", disse a polícia.
O carro em questão foi periciado e apreendido para perícias complementares, assim como as armas de fogo utilizadas que teriam sido usadas pelos autores do crime e as dos policiais. Foi solicitado exame residuográfico aos envolvidos.
Candidatos desconsideram propostas contra letalidade
Com 939 mortos pelas polícias de São Paulo, 2017 foi o ano em que a letalidade policial bateu recorde histórico desde o início da contabilização dos dados, em 1996. Em contraposição, o ano passado registrou o menor número de policiais mortos.
No primeiro semestre deste ano, as polícias de São Paulo mataram 415 pessoas em supostos confrontos e 28 policiais foram assassinados.
Apesar do cenário, apenas 5 dos 12 candidatos ao governo de São Paulo oferecem propostas, em seus planos de governo, para tentar combater o alto número de mortes resultantes da intervenção de policiais civis ou militares, em serviço ou durante a folga.
Nenhum dos três primeiros colocados nas pesquisas aponta a letalidade policial como problemática. As medidas propostas por ambos têm como principal função manter a queda nos homicídios e fortalecer os policiais.
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