Polícia de Alagoas vai apurar ação que terminou com os 11 suspeitos mortos
A Delegacia Geral da Polícia Civil de Alagoas nomeou uma comissão para apurar as circunstâncias em que aconteceu uma ação policial, na tarde de quinta-feira (8), que terminou com 11 suspeitos mortos. Segundo a polícia, eles pertenciam a uma quadrilha que assaltava bancos na região Nordeste com uso de explosivos e reféns.
Após circularem pela internet supostas fotos dos corpos, a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), seccional Alagoas, disse que houve desprezo à vida humana e, na sexta-feira (9), pediu esclarecimentos ao Estado.
A comissão será composta por três delegados --Eduardo Mero, coordenador da DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), Bruno Emilio Macedo Teixeira, integrante da DHPP, e pelo delegado Hugo Leonardo Oliveira de Vasconcelos, titular da Delegacia Regional de Santana do Ipanema. A nomeação deve ser publicada no Diário Oficial do Estado nesta segunda-feira (12).
Ação envolveu cerca de 30 policiais
A operação policial, intitulada de Cavalo de Troia, aconteceu na zona rural de Santana do Ipanema, no sertão de Alagoas. A ação foi deflagrada pela Deic (Divisão Especial de Investigação e Capturas), coordenada pelos delegados Fábio Costa, Cayo Rodrigues e Thiago Prado, e envolveu cerca de 30 policiais. Houve apoio do Grupamento Aéreo de Alagoas.
A Polícia Civil informou que houve confronto entre os acusados e os policiais, mas nenhum policial saiu ferido da ação. Ainda segundo a polícia, no local foram apreendidas armas, munições, explosivos, dinheiro e uma caminhonete branca com placa de Natal (RN), que teria sido usada em um assalto a banco em Águas Belas, na região agreste de Pernambuco, na madrugada daquele dia.
"Onze suspeitos foram atingidos por disparos, os quais foram socorridos ao hospital da região, mas entraram em óbito", afirmou a Polícia Civil, em nota. O Hospital Regional de Santana do Ipanema informou que os 11 homens deram entrada sem vida.
Os corpos foram levados ao IML (Instituto Médico Legal) de Arapiraca para necropsia. A polícia informou que a maioria foi identificada, mas ainda não divulgou os nomes dos mortos. Eles eram de Alagoas, Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, também segundo a polícia.
Corpos sem roupa e empilhados na carroceria
Imagens que circularam pelas redes sociais e também enviadas ao UOL, supostamente tiradas depois da operação, mostram 11 corpos sem roupa, usando apenas cueca, ensanguentados e dispostos no chão, entre a sala e o terraço de uma casa. Em uma das fotos, aparecem perto dos corpos os delegados Fábio Costa e Thiago Prado, da Deic, armados com fuzis.
Em outra, os corpos aparecem empilhados na carroceria da caminhonete apreendida no local. As imagens dão a entender que os 11 suspeitos já estavam mortos antes de serem colocados no veículo para serem levados ao hospital.
Questionado pela reportagem, o delegado Fábio Costa não confirmou se as fotos são da operação Cavalo de Troia, e negou que algum policial tenha feito imagens da ação. Ele disse não ter visto nenhuma imagem atribuída à operação circulando nas redes sociais.
A reportagem do UOL questionou por que os suspeitos estavam vestindo apenas cueca. Segundo o delegado, é "padrão" em operações retirar as roupas dos suspeitos na hora da revista para descartar a possibilidade de estarem armados.
"Só quem atesta o óbito é o médico e, então, conduzimos todos ao hospital, porque não sabemos se o indivíduo está vivo ou morto. Em relação aos corpos estarem despidos ou de cueca, que foi a informação que veio do hospital para mim, eles estavam assim justamente para revistarmos e sabermos se tinham armas escondidas", disse Costa.
Moradores souberam pelo WhatsApp
Moradores de ruas próximas ao hospital de Santana do Ipanema se aglomeraram em frente ao local para acompanhar a movimentação. A polícia isolou a área para evitar a entrada de curiosos no hospital.
Um morador, que pediu para não ser identificado, afirmou que os corpos chegaram ao hospital em uma caminhonete branca, acompanhada de vários carros da Polícia Civil. "Foi muita movimentação aqui a noite toda. A polícia fechou uma parte da calçada para que as pessoas não se aproximassem. Pelo que vi, não tinha ninguém vivo", disse.
"A gente estava aqui na calçada quando soube, pelo WhatsApp, que os bandidos tinham morrido e a polícia ia trazer para o hospital. Aí ficamos aqui esperando. Tinha muita polícia", relatou outro morador.
'Desprezo pela vida humana', diz OAB-AL
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Alagoas, Ricardo Moraes, afirmou que há necessidade de a SSP (Secretaria de Segurança Pública) esclarecer as circunstâncias em que ocorreu o suposto confronto entre policiais e os acusados de assalto.
"A OAB Alagoas, por meio da Comissão, enfatiza uma grande preocupação com a divulgação das referidas fotos e imagens que são chocantes e, sem dúvida, por meio destas, são criadas e especuladas várias hipóteses sobre o caso, além de demonstrar um verdadeiro desprezo pela vida humana", diz Moraes.
O perito em criminalística e medicina legal George Sanguinetti afirmou que as imagens mostram indícios de execução e que cabe à polícia comprovar que houve um ataque dos suspeitos que justificasse a reação. "Expor as armas e dizer que eles são violentos não explica essa morte de todos e na força opositora ninguém se ferir", afirmou. "Não defendo bandido, mas a vida precisa ser preservada."
O perito também destacou a exposição dos mortos em fotos e a forma com que foram transportados, na carroceria de um veículo, o que pode caracterizar crime de vilipêndio de cadáver. "Por pior que fosse o elemento, cabe uma explicação às normas pela selvageria com que foram expostos", disse.
Para o perito, não é necessário, nem padrão em operações policiais, retirar as roupas para revistar suspeitos. "Eles estão como foram encontrados [pela polícia], e não tem fundamento dizer que as roupas dos suspeitos foram tiradas para revista. Não sei se eles reagiram e tentaram fugir, não sei se eles estavam dormindo e foram surpreendidos pela polícia, nada disso eu sei. Só sei que não tem fundamento dizer que as roupas foram retiradas na revista."
O UOL solicitou à Secretaria de Segurança Pública e à Polícia Civil posicionamento sobre o resultado da operação, a forma como os homens foram abordados, e questionou se foram surpreendidos ainda dormindo. Até a publicação deste texto, não teve resposta.
Quadrilha agia em vários estados
Segundo o delegado Cayo Rodrigues, responsável pela delegacia especializada em investigações de roubos a bancos, os homens explodiram uma agência do banco Bradesco, no município de Águas Belas, região agreste de Pernambuco, na madrugada de quinta-feira, e vinham cometendo crimes semelhantes em outros Estados.
"Os suspeitos agiam na Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Pará, e todas as ações criminosas tinham o mesmo 'modus operandi': assalto a banco com uso de explosivos e fuga com reféns", disse Rodrigues.
De acordo com o delegado, a quadrilha começou a ser monitorada depois de assaltar uma agência bancária no município de Igreja Nova (AL), em 17 de setembro. "Eles já eram conhecidos da polícia, mas somente agora conseguimos localizá-los."
Associação quer homenagear policiais
A Associação dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Alagoas informou que pretende homenagear os policiais envolvidos na operação.
Para isso, vão entrar com um requerimento com base na lei estadual 6.625/2005, sobre concessão de elogio para os integrantes da Polícia Civil de Alagoas. A homenagem é concedida a policiais que participaram de "situação de dedicação excepcional no cumprimento do dever (...) e que importe ou possa importar risco à própria segurança pessoal."
"É cabível [a homenagem] aos servidores policiais civis de Alagoas que participaram do perigoso confronto com indivíduos responsáveis pelo roubo ao banco Bradesco em Pernambuco", disse a associação.
Os delegados e policiais civis também receberam apoio do Sindepol (Sindicato dos Delegados de Polícia Civil de Alagoas) e do Sindpol (Sindicado dos Policiais Civis de Alagoas).
O Sindpol afirmou, em nota, que a equipe da operação estava "trabalhando, exercendo o ofício da profissão de policial civil no cumprimento do dever, na defesa da sociedade alagoana."
Já o Sindepol disse que os três delegados "são profissionais de reconhecida competência" e foram promovidos durante a carreira pelos serviços prestados à sociedade. "Essas autoridades policiais e seus agentes agiram dentro do estrito cumprimento do dever legal, de maneira que todo o excesso porventura imputado à ação policial carece de amparo e se mostra prematuro", disse.
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