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Nove crianças e três casais estão entre mortos na Muzema; conheça vítimas

O casal Jefferson Trajano e Ana Carla Batista com os filhos, e o casal Adilma e Cláudio Rodrigues; todos vítimas de desabamento na comunidade da Muzema (RJ) - Arquivo pessoal
O casal Jefferson Trajano e Ana Carla Batista com os filhos, e o casal Adilma e Cláudio Rodrigues; todos vítimas de desabamento na comunidade da Muzema (RJ) Imagem: Arquivo pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

22/04/2019 16h05

Três casais, nove crianças e mais sete mulheres e dois homens. Estes foram os 24 mortos confirmados até o momento no desabamento de dois prédios na comunidade da Muzema, no bairro do Itanhagá, na zona oeste do Rio, no último dia 12 de abril.

Os trabalhos do Corpo de Bombeiros foram encerrados ontem, após mais de 200 horas de trabalho, quando foi o corpo de Juliana Martins de Souza Vicente foi retirado dos escombros. Na manhã de hoje, o número de mortos subiu para 24 com a morte de Adilma Rodrigues, que estava internada no hospital Lourenço Jorge.

Paloma Paes Leme do Nascimento, 44, e o filho Rafael Paes Leme do Nascimento, 4, continuam internados no hospital Miguel Couto e o estado deles é estável, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Paloma é mulher de Raimundo Nonato do Nascimento, 41, que morreu no desabamento ao lado dos filhos Lauana, 16, Isaque, 9, e Pedro Lucas, 8.

O caso de Raimundo não é único. Oito famílias perderam mais Ade um parente na tragédia como ocorreu com Zenilda Bispo, 40, que morreu abraçada ao filho Ruan Amorim, 10, ou o casal Ana Carla dos Santos Batista, 30 e Jefferson Trajano, 28, que foram localizados sob os escombros ao lado dos filhos Enzo, 6, e Arthur, 4.

Veja abaixo quem são as vítimas do desabamento na Muzema

Adilma Rodrigues, 35, e Cláudio José de Oliveira Rodrigues, 40

Adilma Rodrigues, 35, e Cláudio José de Oliveira Rodrigues, 40 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Ele era pastor e vice-presidente da associação de moradores. Rodrigues foi retirado dos escombros e levado para o hospital Unimed, mas não resistiu. Ele foi a primeira vítima a ser enterrada. O velório ocorreu no domingo (14), no Cemitério do Pechincha, na zona oeste. Parentes do pastor disseram que ele ficou até 4h ajudando a resolver problemas na região causados pela chuva. Os prédios desabaram às 6h30.

"Ele voltou para a casa para descansar um pouco e duas horas depois o prédio caiu. Ele era uma liderança e sempre estava disponível para ajudar os outros", disse o cunhado Gutenberg.

O pastor jogava também no time amador da comunidade: o Muzema Futebol Clube. A filha dele, Clara Rodrigues, de sete anos, foi socorrida ao mesmo hospital que o pai e já teve alta.

A mulher dele, Adilma Rodrigues, 35, ficou internada no hospital municipal Lourenço Jorge, onde passou por cirurgia. Ela chegou a ser transferida para um hospital particular na última quinta-feira (18) e morreu no início da manhã de hoje (22) em decorrência dos ferimentos.

Ana Carla dos Santos Batista, 30, Jefferson Trajano, 28, Enzo, 6, e Arthur, 4

muzema pai, mãe e filhos - Reprodução/Facebook/Jeferson Trajano - Reprodução/Facebook/Jeferson Trajano
O casal Jefferson Trajano e Carla Batista e os filhos Enzo e Arthur
Imagem: Reprodução/Facebook/Jeferson Trajano
O casal Jefferson Trajano, 29, e Carla Batista deixou há 20 anos a Paraíba e foi morar no Rio de Janeiro. Lá, tiveram dois meninos: Enzo, 6, e Arthur, 4.

A família morava havia poucos meses no térreo de um dos prédios que caiu, segundo o irmão de Jefferson, Jandir Trajano, e comemorava a compra do novo imóvel e a saída do aluguel.

Eles haviam retornado para o local horas antes da tragédia, pois tinham dormido a semana inteira fora de casa. Eles não puderam retornar por conta da chuva que alagou o Rio de Janeiro no dia 8 de abril e causou dez mortes.

A data seria especial para a família, pois Ana Carla comemoraria o seu aniversário e ganharia uma festa surpresa. "Eu e o Jefferson falávamos nisso (antes da tragédia)", disse o pedreiro Aílson Ferreira ao UOL, enquanto a família ainda estava desaparecida.

Eles tinham um restaurante no Gardênia Azul (bairro vizinho a Muzema) e dormiram no local desde o dia 8 de abril. Por volta das 2h do dia 12, eles retornaram para o apartamento na Muzema e foram localizados sem vida sob os escombros. Os corpos dos pais foram encontrados no dia 18 e os dos filhos no dia 20.

Ana Flávia Pereira, 34, e Fábio Araújo Pereira, 2

Ana Flávia era mãe de Fábio e os dois viviam na comunidade da Muzema há dois anos. Antes, eles moravam em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, de onde se mudaram para se aproximar do local de trabalho do pai da criança.

Ana Paula Rodrigues

Grávida de quatro meses, Ana Paula foi localizada por volta das 4h da última terça-feira (16). No momento do desabamento, o marido havia saído para levar os dois filhos para a escola. Antes do corpo ser localizado, os bombeiros encontraram nos escombros os documentos da vítima e uma cama intacta no quarto onde ela estava na hora do desabamento.

Arlan Ribeiro Araújo, 31, e Divina Patrícia, 42

Natural da Paraíba, Divina chegou ao Rio para visitar a irmã Carolina Andrade Fernandes que sobreviveu ao desabamento. Segundo ela, a irmã retornaria ao estado natal no dia em que os prédios desabaram.

Ela era cunhada do cearense Arlan, que trabalhava como motoboy. Apaixonado por motos, ele fazia parte de um grupo de motoqueiros chamados "Dezocupados", de Rio das Pedras, que reunia mais de 50 amigos. Os dois parentes foram enterrados no Cemitério do Caju, na zona Portuária do Rio, na última sexta-feira (19).

Antônia Deivillo Gomes Sampaio, 31

Nascida na cidade do Ipu, no Ceará, ela havia comprado o apartamento junto com o marido, Daniel Bezerra, há seis meses, segundo informações de familiares. Daniel sobreviveu, pois deixou o condomínio horas antes dos prédios desabarem.

Ela foi enterrada na terça-feira (16) no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na zona norte do Rio. O casal não tinha filhos.

Hiltonberto Rodrigues de Souza, 34, Maria de Nazaré Sodré, 36, e Hilton Guilherme, 12

Hiltonberto e a mulher Maria brincam com Hilton - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Hiltonberto e a mulher Maria brincam com Hilton
Imagem: Arquivo pessoal
Eles eram pai, mãe e filho. Os três nasceram no Maranhão e moravam havia 15 anos no Rio de Janeiro. A família havia se mudado no final do ano passado para o condomínio Figueira, em Muzema. Antes, os quatro dividiam uma quitinete em Rio das Pedras, na zona oeste da cidade.

Hiltonberto tinha uma oficina na região e economizou durante 10 anos para conseguir pagar R$ 60 mil pelo imóvel. O apartamento foi comprado em outubro de 2018 e ainda passou por reformas para receber a família.

Filho mais velho do casal, Hilton Guilherme permaneceu 17 horas sob os escombros. Ele foi socorrido ainda com vida para o hospital Miguel Couto, na Gávea, zona sul do Rio. O adolescente chegou na unidade de saúde com fratura em uma das pernas e ferimentos no rosto, mas consciente. Ele morreu no sábado (13) durante uma cirurgia.

Segundo a enfermeira Cristina Rodrigues de Souza, 40, que é tia de Hilton Guilherme, o adolescente tinha o sonho de ser engenheiro mecânico.

Era um menino feliz, obediente, estudioso, ajudava o pai na oficina. Já a menina (filha mais nova do casal) está comigo, vai voltar para a escola semana que vem, está brincando, ela não sabe ainda o que aconteceu. Vou levá-la no psicólogo para acompanhar isso
Cristina Rodrigues de Souza, sobre o sobrinho Hilton Guilherme, morto na queda de dois prédios no Rio

Juliana Martins de Souza Vicente, 28, e Ana Júlia, 6

Juliana Martins - vítimas Muzema - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Juliana foi a última pessoa a ser retirada dos escombros pelo Corpo de Bombeiros, sendo retirada no domingo (21), nove dias após o desabamento dos prédios. Ana Júlia, filha de Juliana, também foi resgatada sem vida.

De acordo com parentes, mãe e filha moravam na Rocinha, comunidade da zona sul do Rio, antes de se mudarem para Muzema. O desabamento ocorreu na hora que as duas costumavam se arrumar para sair de casa.

Maria de Abreu Athayde, 49

O corpo de Maria foi encontrado na manhã de domingo (14) pelos Bombeiros. O sepultamento da vítima aconteceu no cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na zona portuária do Rio.

Raimundo Nonato do Nascimento, 41, Lauana, 16, Isaque, 9, e Pedro Lucas, 8

Raimundo e Isac - vítimas Muzema - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Raimundo abraça o filho Isaque
Imagem: Arquivo pessoal
Nascido no Ceará, Nonato chegou a morar em Xerém, região metropolitana do Rio, e uma semana antes do desabamento se mudou com a família para Muzema. A casa nova foi comemorada pela família. Nonato chegou a trabalhar com transporte de van, mas vendeu o veículo e comprou o apartamento no condomínio Figueiras, onde dois prédios desabaram. Recentemente, Nonato trabalhava como motorista de aplicativo.

"Ele vendeu a vanzinha dele, deu de entrada no apartamento e conseguiu comprar", disse a sobrinha Taylane Pontes.

A família chegou a comemorar o resgate dele dos escombros. A informação inicial era de que ele havia sido retirado com vida. No entanto, outro Raimundo Nonato, da mesma faixa de idade, sobreviveu. A morte foi confirmada aos parentes no IML (Instituto Médico Legal).

Além dele, morreram também no desabamento os filhos Pedro Lucas, Lauana e Isaque. A mulher de Nonato, Paloma, e um filho de quatro anos do casal estão internados no hospital Miguel Couto e o estado deles é estável.

Zenilda Bispo, 40, e Ruan Amorim Rodrigues, 10

Zenilda e Ruan - Arquivo pessoal  - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Mãe e filho foram resgatados no domingo (14) sem vida. Os dois moravam havia dois anos no prédio que desabou e Zenilda trabalhava como diarista. O marido de Zenilda não estava em casa no momento do desabamento. A cunhada da vítima passou a noite no local à espera de notícias da família. Ela contou que pediu várias vezes para que deixassem o prédio.

"O prédio caiu 6h30, eles costumavam sair de casa 7 horas", disse ela no sábado (13) quando ainda aguardava por notícia no local.

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