Acordamos assustados com qualquer buzina, diz moradora de Barão de Cocais
Ainda impressionada com a tragédia que assolou Brumadinho (MG), cidade em que morou por 39 anos e onde vivem sua mãe e uma filha, a autônoma Denise Cristina de Souza Lima, 49, teme agora ver que cena parecida possa ocorrer em Barão de Cocais, onde reside há uma década.
O meio-fio pintado de amarelo a lembra todo dia de que sua casa está na rota de fuga de uma onda de rejeitos que ela ainda não sabe se virá ou não. O que a coloca em compasso de espera. "A gente tem medo de dormir e acordar com lama vindo. Soa buzina de moto na rua e a gente acorda assustada", diz.
A residência de Denise fica na chamada zona de segurança secundária (ZSS), aonde a mancha de inundação pode chegar em 1h12 caso a barragem Sul Superior, da mina do Gongo Soco, se rompa e seus 6,4 milhões de metros cúbicos de uma mistura de resíduos de minério e água se espalhem.
A barragem pode ser afetada pela queda de um paredão (talude) da mina, previsto para ocorrer a qualquer momento nesta semana, segundo a Vale, dona do complexo de Gongo Soco. O talude, que costumava se movimentar 10 cm por ano (o que era considerado aceitável), passou a se deslocar 5 cm por dia no final de abril e ontem, segundo a Vale, chegava ao dobro disso.
Uma queda abrupta desse paredão pode repercutir na barragem, que já está em estado de alerta máximo desde 22 de março, quando uma empresa negou à Vale o certificado de estabilidade da estrutura. Segundo o secretário de Meio Ambiente do estado, Germano Vieira, a probabilidade gira em torno de 10% a 15%. Mas, para Denise, é preciso saber mais.
"O que me disseram é que, quando tocar a sirene, tenho que sair a pé com meus documentos [a Vale distribuiu uma pasta para esse fim]. Não posso sair de carro. Tenho dois cachorros, como fazer com eles?", questiona.
No sábado (18), foi realizado um segundo simulado de emergência na cidade - o primeiro ocorreu em 25 de março. Segundo a Defesa Civil, desta vez, 1.635 moradores participaram - apenas 26,75% do esperado.
"Foi um fracasso e sabe por quê? Porque o povo está de saco cheio", diz o microempresário Marcelo Antonio Andrade Teles, 49, que também mora na zona secundária. "É o segundo teste que eles fazem, mas a gente continua sem noção do que realmente vai acontecer. Nossa vida continua no ritmo de viver um dia após o outro."
Estudo sobre impactos
A Vale tinha até o início da tarde de ontem para apresentar ao Ministério Público de Minas Gerais o chamado 'dam break', que é o estudo do impacto que o rompimento da barragem pode causar se ocorrer.
Segundo a mineradora, o documento foi entregue à Defesa Civil do estado e às prefeituras dos três municípios que podem ser afetados - além de Barão de Cocais, estão no mapa de inundação Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.
A Vale diz que está monitorando a mina 24 horas por dia com radar e estação robótica e que não há elementos técnicos indicando que a queda do talude seja gatilho para o rompimento da barragem Sul Superior.
Entretanto, em entrevista concedida ao UOL anteontem, o chefe da divisão de segurança das barragens de mineração de MG da ANM (Agência Nacional de Mineração), Wagner Nascimento, disse que não é sabido o real estado da barragem, já que, por estar no nível 3 de alerta, funcionários não podem ser destacados para fazer manutenção e inspeção no local.
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