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'Agressões eram constantes', diz vizinho do casal que matou criança em GO

Crianças foram espancadas - Polícia Civil/Divulgação
Crianças foram espancadas Imagem: Polícia Civil/Divulgação

Jéssica Nascimento

Colaboração para o UOL, em Brasília

31/05/2019 11h04

"As crianças apanhavam com tudo que tinha pela frente. Fio, pau, cinto. Ficavam ajoelhados em cima de tampinhas de refrigerante. Sofriam muito." Esse é o relato de um vizinho que mora ao lado do casal que é suspeito de ter espancado quatro sobrinhos, que moravam com eles. A agressão teria causado a morte de uma menina de seis anos e os ferimentos de três irmãos dela na quarta-feira (29), em Planaltina de Goiás.

De acordo com a Polícia Civil, as crianças apanharam porque pediram comida aos vizinhos. Os tios teriam ido para o Distrito Federal e deixado as quatro crianças sozinhas. Com fome, elas bateram na casa ao lado e perguntaram se tinha lanche ou almoço. Uma das vizinhas teria repreendido o casal posteriormente, pedindo que não deixasse os sobrinhos sem alimento.

"É um caso que chocou até mesmo quem está acostumado a trabalhar perto da violência. Aqui na delegacia, eles confessaram todo o crime, com riqueza de detalhes e muito friamente. Disseram que a menina de seis anos morreu porque não estava acostumada a apanhar como a de quatro. É porque, segundo a tia, a sobrinha do meio sempre fazia xixi ou fezes nas roupas. Como punição, apanhava muito ", disse Antônio Humberto Costa, coordenador do grupo de homicídios de Planaltina de Goiás.

A criança de quatro anos continua internada no Hospital Municipal de Planaltina de Goiás porque quebrou o braço. Os outros dois irmãos de oito anos e um foram encaminhados para o Orfanato Filhas de Maria, que também fica na região. O estado de saúde deles é bom.

O casal estava com os irmãos havia quatro meses, desde que os pais das crianças foram presos por tráfico de drogas. O Conselho Tutelar informou que não sabia do caso até ser acionado por um dos vizinhos na quarta. Segundo o conselheiro Paulo Freire, as crianças foram torturadas ao longo do tempo.

"A intenção do casal era matar todos os sobrinhos. Eles não foram agredidos, eram torturados. Tem marcas de cigarro no corpo das crianças, sabe? É um caso chocante, revoltante. Eles alegam que pegaram os sobrinhos porque estavam abandonados, na rua. Mas o que fizeram foi pior. Os meninos nem frequentavam a escola. Se fossem, alguém já teria percebido, denunciado mais rápido e a menina de seis anos até poderia estar viva", disse o conselheiro.

Cena que não sai da cabeça

Antônio Jaris é pedreiro e contou ao UOL que foi a esposa dele que acionou o Conselho Tutelar. Segundo ele, as brigas eram constantes e os pedidos de socorro davam para ouvir em toda a rua. Ele alega que acionou o Conselho e a Polícia por diversas vezes, mas ninguém tomou medidas.

"A pior cena, que vai ser difícil de sair da cabeça, é a dos tios arrastando a criancinha de seis anos que faleceu pelos cabelos, para dentro de casa. Ela já não estava mais gritando, acredito que já tinha morrido. A gente tinha medo de intervir, mas denunciamos várias vezes. Mas o Conselho chegava, batia na porta e depois ia embora. Mesma coisa da polícia", relatou o vizinho.

Tanto o Conselho Tutelar quanto a Polícia Militar informaram que não receberam denúncias anteriores do caso. Diferente do relato de Jaris, a vizinha que forneceu comida para as crianças na quarta-feira disse que nunca ouviu gritos e choro, porque o som da residência do casal sempre estava muito alto.

"Eu estou perplexa, chocada. Choro a todo momento. Nunca imaginaria que isso pudesse acontecer. Não percebia tamanha violência. Eles pediram comida, como sempre faziam. A gente é pobre mas divide o que tem. A que faleceu brincava com meus filhos, que também são pequenos, e saber que tudo isso aconteceu é muito triste", relatou a diarista Maria Josué.

Agora, os tios vão responder pelos crimes de homicídio qualificado e tortura. Somadas as penas, Bruno Deuclessiano pode pegar mais de 30 anos de cadeia. Já a tia, que tem 17 anos, deve ficar internada no máximo por três anos.

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