Pedaços do talude de Barão de Cocais se desprenderam na madrugada, diz Vale
A Vale disse hoje que fragmentos do talude (parede de contenção) norte de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), se desprenderam na madrugada e se acomodaram no fundo da cava da mina, inicialmente sem consequências para a barragem Sul Superior, que está em nível máximo de alerta para rompimento desde 22 de março e fica a 1,5 km da mina.
A mineradora afirmou em nota que a avaliação da equipe de geotécnicos que monitora a situação em Gongo Soco em tempo real é de que o material está deslizando de forma gradual, o que não provocaria impacto e consequentes vibrações capazes de provocar a liquefação da barragem e fazê-la ceder.
O coordenador adjunto da Defesa Civil do estado, coronel Flávio Godinho, disse ter sido informado pela Vale de que o desprendimento ocorreu por volta das 5h de hoje e que foi de uma parte "insignificante".
Mesmo que o talude continue deslizando sem grandes impactos, a barragem Sul Superior continuará em alerta máximo até que a Vale realize ações que voltem a garantir a estabilidade da estrutura. O UOL perguntou ontem à empresa se há um prazo para isso, mas ainda não recebeu resposta.
Em caso de rompimento da barragem, 6.054 moradores de Barão de Cocais podem ser afetados em 1h12, porque estão na chamada ZSS (zona de segurança secundária), a 17,8 km da barragem.
A lama pode alcançar ainda a outras 1,7 mil pessoas que residem cerca de 13 km mais adiante, na vizinha Santa Bárbara (com a mancha de inundação chegando a partir de 3h do estouro), e 2.444 em São Gonçalo do Rio Acima (8h depois).
Cerca de 500 moradores da principal área de risco, a ZSA (zona de autossalvamento), tiveram que deixar suas casas em 8 de fevereiro, quando o certificado de estabilidade da barragem foi negado por uma empresa contratada pela Vale.
A situação do talude
A Vale não informou o quanto esses fragmentos representam do todo que deve cair, que é de pouco mais de 3 milhões de metros cúbicos de material rochoso - a parede norte inteira tem 10 milhões de metros cúbicos. A cava, alagada desde que a mina foi desativada em 2016, possui 5 milhões de m3 de água.
A previsão inicial da mineradora era de que o talude pudesse cair entre os dias 18 e 25, o que começou a acontecer somente nesta madrugada.
Ontem, a ANM (Agência Nacional de Mineração) informou que o trecho comprometido do talude já havia se movimentado 2 metros desde o fim de 2018 e que, às 12h, a média do deslocamento era de 29,1 cm/dia em pontos isolados e de 24,6 cm/dia na parte inferior.
Até 2012, o talude se movimentava 10 cm por ano, o que a empresa considerava estar dentro do normal. No final de abril, passou a se deslocar 5 cm por dia.
Em entrevista ao UOL na última terça-feira, o diretor da ANM, Eduardo Leão, disse que não entendia como normal uma movimentação de 10 cm por ano em um talude e que a Vale teve tempo para lidar com o problema antes de chegar ao ponto crítico em que está agora.
Mesma opinião do engenheiro civil Roberto Kochen, especialista em rochas pela Universidade de Toronto, no Canadá, e professor aposentado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. "O momento para as medidas preventivas foi três, quatro anos atrás. A Vale esperou demais", disse.
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