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Filhos, celular e suposta traição: deputada fala sobre morte de pastor

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

25/06/2019 20h54

Em entrevista à imprensa, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) falou hoje sobre depoimento prestado ontem à Divisão de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, que apura o assassinato de seu marido, o pastor evangélico Anderson do Carmo Souza, 42.

A parlamentar evitou culpar os dois filhos que estão detidos pela morte --ela não respondeu à pergunta "se colocaria a mão no fogo pelos filhos"--, mas defendeu punição se a responsabilidade for comprovada. "Se foi um dos meus filhos, quero que seja punido", disse.

Ela ainda negou ter sido traída pelo marido e reforçou não saber onde está o celular do pastor. Souza foi morto a tiros há nove dias na residência do casal em Niterói, na região metropolitana do Rio.

Flávio dos Santos Rodrigues, 38, confessou ter dado seis tiros no pastor, segundo informou polícia. Lucas dos Santos, 18, é apontado como o responsável por obter a arma calibre 9 mm achada em cima do armário no quarto usado por Flávio na residência do casal.

A entrevista, que durou uma hora e 30 minutos, ocorreu em uma sala comercial da Barra da Tijuca, na zona oeste carioca.

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Sobre o crime

"É algo que não é comum. Não é uma coisa fácil. Está sendo muito difícil para mim. Confesso que estou bastante nervosa ainda. Não estou acostumada. Estou aqui para responder às perguntas. Passei por um episódio traumático, fiquei alguns dias sob sedativos. Foram dez horas dando esclarecimentos como testemunha do caso ontem, dez horas muito difíceis para mim. Conseguimos vencer essas dez horas."

"Estive lá como testemunha"

"Não fui [prestar depoimento] na posição de investigada. Estive lá durante um longo período como testemunha do fato e não como investigada. Ocorreu um crime dentro da minha casa. Não sei quem são os responsáveis ainda. Não tivemos essa resposta.

Ninguém pode afirmar que foram meus filhos. Isso está sendo investigado. É uma dor muito grande.

As pessoas que me acompanham há um período de tempo sabem o quanto ele [o marido] é importante na minha vida. Ele articulava tudo para mim, desde o meu projeto de cantora. Meu marido é uma pessoa muito importante na minha vida."

Se foram meus filhos, quero saber o porquê. Estávamos num momento de harmonia na nossa casa, no nosso lar, na nossa família. Se foi um dos meus filhos, quero que seja punido. Quero justiça, seja quem for que tenha cometido tal ato.

Desaparecimento de celular do pastor

"Foi o que mais me foi perguntado e indagado. Foi uma romaria dentro da minha casa [após o assassinato]. Não sei dizer quantas pessoas circularam na minha casa. Esse celular é importante, muito mais importante para mim porque lá estão nossos últimos momentos juntos. Nossos momentos especiais estavam lá, nesse celular. As coisas eram por esse celular. Nossos maiores contatos estavam nesse celular.

Eu quero aproveitar e fazer um apelo e pedir a quem estiver com o celular do meu marido que, por favor, devolva. Queria muito que me devolvessem esse celular.

Muitas outras coisas foram subtraídas. Alguns objetos sumiram da nossa casa. Um deles é uma pulseira de ouro do meu filho, anel desaparecido, relógios dele. Anderson amava relógios. Esses objetos sumiram. Não posso dizer que sumiu no dia do crime. Não tenho como afirmar o momento, o horário em que sumiram. Os relógios e o celular não estão mais lá.

Eu entreguei uma caixa com HD e celulares [à polícia]. Eu não sei onde está meu celular, é a coisa menos importante para mim agora."

Deputada nega envenenamento

"Meu esposo passou por um período de doença, ficou internado. Passava mal, muito mal. Não conseguimos fazer carreata de vitória porque ele passou muito mal. Nada disso [medicação] foi feito às escondidas. Todos os exames do meu esposo estão lá: endoscopia, exame de sangue, mapeamento." (...)

"Eu estou ouvindo isso aqui [suposta proposta de que uma irmã ofereceu R$ 10 mil a Lucas para matar o Anderson, relatada em depoimento divulgado pela TV Globo]. Não tinha conhecimento disso."

"Não fui traída"

"Éramos amigos, parceiros. Tínhamos uma cumplicidade muito boa, muito linda. Meu marido ia a Brasília e ficava lá comigo. Não fui traída. Se fosse colocar minha mão no fogo [por ele], eu colocaria."

Incêndio no quintal

"Sobre a fogueira, nada foi encontrado. Essa questão de queimar provas, isso não foi encontrado.

Eu estava deitada sob efeito de medicação. Não fui eu quem mandou colocar essa fogueira. Um dos meus filhos fez isso com o jardineiro. Nada premeditado. Todas as vezes que cortaram o mato eles queimavam, porque já teve cobras na minha casa e tenho filhos pequenos."

Os 55 filhos

"Muito sofrimento e muita luta [para criá-los]. Lutamos muito para nos mantermos juntos. Ficamos mais fortes e mais ligados uns aos outros. Meus filhos são a razão de viver. Meus filhos são meus amigos, meu tesouro de vida. Sem meu esposo... A ficha parece que não caiu direito. Não sei como vai ser a minha vida daqui para a frente sem o meu marido. Quem fazia todo o trabalho da minha mídia era meu marido."

Latrocínio, a 1ª versão da deputada

"Eu cheguei com meu marido, o portão da garagem ficou aberto. Estávamos tranquilos. Disse para ele fechar o portão. Ali já havia acontecido muito assalto naquela rua. Até que se prove o contrário, todas as hipóteses são viáveis.

Eu falei que acreditei que ladrões tivessem entrado e matado meu marido. Eu não descarto nenhuma das hipóteses. Eu estou com a polícia para entender se foi roubo seguido de morte, se foi alguém de dentro da casa ou alguém de fora.

(...)

"Não sei a motivação [do assassinato]. Estou empenhada para saber, quem foi e o porquê. Meu marido não estava recebendo ameaças de morte."

Relação familiar

"Tínhamos reuniões em casa para conversar. Passando do ponto, não está dando, não está legal. A palavra inicial nas reuniões era minha. Não houve nenhum atrito dentro de casa naqueles dias entre pai e filhos. Flávio e ele estavam muito bem. Meu filho estava lá ajudando meu marido. Não houve nenhum atrito e nenhuma desarmonia. (...)

Eles divergiam em assuntos políticos, futebol. Esse tipo de atrito que eu, Flordelis, acho normal e não é motivo para se matar."

Mensagem aos filhos presos

"Meu maior desejo hoje seria ver o meu filho Flávio porque eu não vi. Tenho certeza que para mim ele diria a verdade. Meus filhos nunca tiveram o hábito de mentir para mim. Prefiro não responder [se colocaria a mão no fogo pelos filhos presos], prefiro não responder.

Meu filho foi quem socorreu [Anderson do Carmo], quem levou para o hospital, ele ficou lá. Ele teve aconselhamento porque tinha um mandado de prisão [em aberto por violência doméstica].

Existem muitas coisas como mãe que me dizem que pode não ter sido o meu filho. Nunca ensinei meu filho a dar um tapa sequer.

Os dois são meus filhos. Para mim, a maior gestação é a do coração. Gerei os meus filhos no coração. Os dois são os meus filhos. Quero que eles sigam os ensinamentos que dei para eles. Quero dizer que nossa família está sofrendo muito. Nenhuma mãe cria um filho para esse tipo de acusação. Mais duro ainda é ser incriminada por atos que eles cometeram.

Eu faria tudo pelos meus filhos, menos deixar que eles não sejam punidos por erros que cometeram. Tudo na vida tem que ter consequência. Quando não há consequência, não há mudança de vida."

Noite do crime

"Vi uma moto com uma dupla de casacos. Não vi nenhuma arma, mas me assustou porque a gente já anda assustado no Rio de Janeiro. Houve esse episódio, eu achei que seríamos assaltados.

Quando chegamos, eu abaixei para tirar o sapato do pé, estava com vestido da minha filha. Abaixei, peguei meu sapato, minha bolsa. Desci do carro. Pedi para ele fechar a garagem.

Subi as escadas para o meu quarto, deixei minhas coisas em uma cama de solteiro que mantenho no meu quarto. Fui ao banheiro no quarto da minha filha e fui conversar com meu filho, que estava no celular.

Ouvimos quatro tiros seguidos e mais dois. Parecia dentro de casa os tiros. Minha filha subiu correndo assustada. Tive que segurar minha filha para não ir até lá, para proteger ela.

Eu desci para ver o que houve e as minhas filhas, que já tinham visto o pastor baleado, não me deixaram descer."

Socorro 25 minutos após o crime

"Meus filhos estavam ligando para os socorristas na hora, mas eles estavam demorando. O Flávio pega o carro para ver se a viatura está ali. Ele volta com o carro e não espera mais os socorristas. Ele e outro filho meu saem com meu marido para o hospital.

Arma plantada?

"Creio que não [que a arma foi plantada]. Espero poder falar em um segundo tempo, tem um episódio que não foi divulgado. Está em sigilo. Se eu falar agora aqui, a gente vai prejudicar. A polícia está ciente disso."

Relação de Anderson e Lucas

"O Anderson acompanhou as audiências do Lucas [que tinha um mandado de prisão em aberto por crime análogo ao tráfico de drogas]. Chegar diante de um juiz e ver uma situação dessas é muito triste. A posição dele era que Lucas deixasse de ser fugitivo. Ele queria muito que o Lucas se entregasse à Justiça. Esses meninos são movidos por drogas. Os pensamentos são meio distorcidos.

Não posso afirmar isso [retaliação de Lucas à posição de Anderson para que ele se entregasse]. É possível? Sim. Quanto a ser um crime político, realmente, tudo é possível nessa vida. Nada está descartado."