Como um voto nas eleições ajudou filhas a reencontrarem pai após 34 anos
Um voto nas eleições do ano passado. Foi esta a primeira pista de uma busca que terminou em final feliz para as irmãs Maria de Fátima Bezerra Gomes, 36, e Fabíola Bezerra Gomes, 34, que reencontraram o pai, Manoel Miguel Gomes, 67, após 34 anos sem terem notícias dele.
O reencontro aconteceu na última semana em uma fazenda onde Manoel trabalha na Cidade de Goiás (GO). As irmãs encararam uma viagem de ônibus que durou dois dias entre Goiás e Rio Grande do Norte, onde elas moram, para encerrar a busca que começou graças a Fabíola. No ano passado, ela descobriu que o pai votou em um colégio na Cidade de Goiás e telefonou para a 4ª Delegacia Regional de Goiás para pedir ajuda.
A ligação foi recebida pelo papiloscopista Paulo Ricardo Landim Guimarães, da Polícia Civil de Goiás, que trabalha na Coordenação de Investigação de Pessoa Desaparecida. Ele colheu os dados repassados por Fabíola e iniciou a busca.
Após duas semanas de investigação, o papiloscopista confirmou para Fabíola que o pai dela tinha sido identificado e localizado em uma fazenda, a 18 km da Cidade de Goiás. Manoel trabalha há 21 anos nessa fazenda, depois de ter trabalhado no Pará, em São Paulo, em Brasília e em Goiás.
"Foi uma emoção muito grande porque a gente não tinha certeza que ele estava vivo. Mas, eu nunca perdi a esperança de encontrá-lo. No final do ano, ele vai vir para Natal e vamos reunir todos da família", conta Fabíola Gomes.
A irmã Maria de Fátima relembrou a noite de ansiedade antes do reencontro tão aguardado. "Estávamos muito ansiosas na viagem, tanto que não dormimos pensando nesse reencontro", relata Maria, que tinha dois anos quando o pai deixou a família para trabalhar em um garimpo em Serra Pelada, no Pará. A irmã Fabiana estava com apenas seis meses na ocasião.
Emocionado, Manoel não parou de abraçar as filhas e disse que estava "muito feliz". "Agora é só felicidade", diz o patriarca da família, que tem mais um filho, que mora no Pará, além de oito netos e dois bisnetos.
O sumiço na metade dos anos 80
Segundo Fabíola, a família se mudou do Rio Grande do Norte para o Pará, quando Manoel foi trabalhar em Serra dos Carajás, na década de 1980. Ele ficou desempregado e foi tentar outro trabalho, em Serra Pelada, em 1985. A família ficou em Serra do Carajás, aguardando o contato de Gomes, mas nunca mais recebeu notícias. Sem o paradeiro de Manoel e passando por dificuldades financeiras, a mãe de Maria de Fátima e Fabíola decidiu voltar para o Pará, em 1991, com as duas filhas e mais um filho do casal.
Apesar das três décadas de afastamento, as irmãs dizem que não questionam os motivos de Manuel não ter mais procurado a família. Elas esperam agora o Natal para poder reunir a família, já que a mãe e o irmão não puderam viajar para Goiás.
Peça fundamental na busca de Manoel, o papiloscopista Paulo Ricardo Landim Guimarães conta que, após receber o pedido de Fabíola, teve a ajuda de um bombeiro para localizar o pai desaparecido.
"Com o nome dele completo e algumas fotos que ela me enviou, entrei no sistema das forças de segurança do Estado de Goiás, e encontrei um atendimento dele prestado pelo Corpo de Bombeiros. Falei com o bombeiro do atendimento, que me deu informação de mais ou menos onde foi o atendimento na rodovia, e sai em busca. Localizei seu Manoel na fazenda, e no mesmo dia, fizemos uma chamada de vídeo para elas verem o pai", conta Paulo Ricardo.
O setor de Coordenação de Investigação de Pessoa Desaparecida de Goiás começou a atuar, de forma institucionalizada, em maio deste ano, em todo o estado, na localização de pessoas desaparecidas, na projeção de imagem de desaparecidos há muitos anos, e também na identificação de cadáveres ignorados, que não tiveram os corpos reclamados pelas famílias. Segundo a coordenadora Simone de Jesus, somente em Goiás há 3.500 registros de pessoas desaparecidas em 2018.
"A intenção da coordenação é dar uma atenção específica para esse problema, que é grave. Temos mais de 3.500 registros de desaparecidos, entre adultos e crianças, em 2018, e esse número se repete praticamente em todos os anos. Estamos para oferecer um trabalho para essas famílias que ficam sem informações. Além disso, tentar melhorar a qualidade desses dados, para monitorar quem está desaparecido, quem voltou, porque desapareceu. Além de localizar famílias de pessoas que aparecem sem condições de se comunicar, seja num hospital, num abrigo", diz Simone.
Atualmente, a coordenação trabalha na identificação cadáveres do ano 2000 até 2017 que estão registradas como ignoradas nos IML (Instituto Médico Legal) de Goiás. "Como a gente tinha a impressão digital dessas pessoas, mas não tinha um sistema capaz de identificá-las e esse sistema começou a funcionar em 2017, agora estamos pegando esses casos. Vamos identificá-las e avisar às famílias. Tem casos do ano de 2000, que estamos que só conseguimos identificar agora e para localizar a família", conta. Desde maio, o trabalho já identificou dez pessoas registradas como ignoradas no IML de Goiânia e busca a localização das famílias.
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