Perdi minha vida, diz vítima de estupro coletivo que soube do crime na web
A mulher de 22 anos vítima de estupro coletivo gravado em vídeo e compartilhado na internet disse hoje que não tem condições de retornar à escola onde cursa o ensino médio na cidade de Cordeiro, na região serrana do Rio de Janeiro. O crime ocorreu após uma festa em 13 de julho. A jovem, que acredita ter sido dopada, descobriu que fora estuprada após amigas mostrarem um vídeo compartilhado na internet uma semana depois.
Em entrevista ao UOL, a vítima relata o que lembra daquela noite e a dificuldade de retomar a rotina após o crime. Em razão da repercussão do caso, ela vai interromper um curso preparatório para a Polícia Militar --ela tinha planos de realizar o próximo exame para integrar a corporação no Rio.
A jovem, cuja identidade será preservada, descobriu ter sido estuprada por três homens após a chamada "Festa dos Carecas" --evento que acontece todos os anos em Cantagalo, município vizinho a Cordeiro, onde ela mora. Uma semana depois, ela foi avisada por amigas que circulava na internet um vídeo onde ela aparecia fazendo sexo com três homens.
A minha primeira reação foi não acreditar que era eu. Depois comecei a chorar, tive vontade de me matar. Não vou voltar para a escola nem para o curso da PM por enquanto. Não tenho saído de casa, nem trabalhar tenho ido. Perdi minha vida.
A jovem contou em depoimento à polícia que foi para a festa na cidade vizinha na companhia de amigos e que, ao longo da noite, encontrou um conhecido e parou para conversar com ele. A vítima relatou que, após beber um copo de cerveja oferecido por ele, começou a passar mal.
Eu me lembro que ele disse que tinha que pegar algo no carro. Nisso, uma segunda pessoa disse que tinha que ir embora e eu comentei que ia também. Comecei a ficar tonta. Eles falaram que me dariam um carona e, depois disso, só me lembro de acordar em casa.
Segundo ela, no dia seguinte, sentiu incômodos e teve sangramento, mas não deu muita importância. A jovem afirma que passou uma semana sem saber o que havia ocorrido.
A advogada dela, Valéria Melo, diz que no próprio vídeo divulgado na internet é possível perceber que a jovem está dopada.
O vídeo é muito feio. Pelo rosto dos rapazes, você consegue ver que eles estão se divertindo de forma bem cruel. O telefone passa de mão em mão. Dá para ver no rosto dela que ela não está bem, que ela está dopada.
Valéria Melo, advogada da vítima
O caso foi registrado como estupro coletivo e divulgação de cena de estupro. Dois dos três envolvidos prestaram depoimento e negaram o estupro.
Um deles disse ter perdido o celular e que, por isso, o vídeo foi divulgado. O terceiro homem que aparece nas imagens deve ser ouvido hoje. Todos estão em liberdade.
Ataques nas redes sociais
Além de ter a intimidade exposta, a jovem passou a receber ataques nas redes sociais e a ser julgada nas ruas, o que fez com que ela apagasse seus perfis e deixasse de sair de casa.
No Facebook, comentários sobre o vídeo chegam a contestar a versão da vítima, que não se lembra do que ocorreu e acredita ter sido dopada após beber no copo de um conhecido. A advogada avalia processar os usuários por calúnia e difamação.
"As pessoas não entendem que pode haver estupro sem violência. É nítido que a jovem não está no seu estado normal. Ela tem movimentos lentos e não consegue fixar o olhar", afirmou a advogada.
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