Rebelião deixa 58 mortos em presídio do Pará; governo vê guerra de facções
Uma rebelião na manhã de hoje deixou 58 presos mortos, 16 deles decapitados, no Centro de Recuperação Regional de Altamira (PA), de acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe). Dois agentes prisionais foram mantidos reféns, mas liberados após negociação. No dia da rebelião, foram anunciadas 57 mortes, mas o 58º corpo foi localizado no dia seguinte, aumentando o número de vítimas.
Segundo o governo do Pará, até o início desta tarde, não havia sido possível remover todos os corpos, porque parte da unidade é construída em contêiner, e o material ainda está quente. Presos atearam fogo na estrutura durante a rebelião.
Guerra de facções
O secretário extraordinário para assuntos penitenciários, Jarbas Vasconcelos, afirmou que o presídio foi palco de "uma guerra entre facções criminosas".
"Tratou-se de uma guerra de facções. Em Altamira, há uma facção local chamada Comando Classe A (CCA) e que divide o presidio com integrantes do Comando Vermelho, e que foram esses vítimas desse ato praticado pelos integrantes da organização criminosa CCA", disse o secretário em entrevista na tarde de hoje.
O ataque ocorreu, segundo o secretário, logo após as celas serem destrancadas para o café da manhã. "O Comando Classe A rompeu o seu pavilhão e rompeu o pavilhão do Comando Vermelho. Foi um ataque de certa forma rápido, dirigido a exterminar os integrantes rivais", disse o secretário. "Eles [integrantes do CCA] entraram, colocaram fogo, mataram e pararam o ataque. Foi um ataque dirigido, localizado."
O CCA tornou-se recentemente aliado ao PCC (Primeiro Comando da Capital), que disputa com o Comando Vermelho a liderança dos presídios no Brasil.
Perguntado se uma possível falha no sistema teria levado à briga, Vasconcelos disse que não havia nenhum relatório da inteligência reportando um possível ataque, sequer dessa magnitude. No momento da ação, segundo a Susipe, o presídio tinha 309 presos --a capacidade total é de 208 internos.
Vistoria e busca por armas
Ainda no meio da tarde, os policiais faziam vistoria no presídio para revista e recontagem de presos, no pátio, e apreensão de objetos que podem ter servido como armas nas decapitações. Por ora, segundo a Susipe em nota, foram encontrados apenas "estoques", que são facas artesanais, e nenhuma arma de fogo.
Os policiais também verificam os danos provocados no prédio e celas, já que os detentos, segundo a Susipe, teriam ateado fogo em objetos como colchões - a inalação de fumaça pode ter provocado a morte de parte dos detentos.
Vídeos divulgados por fontes policiais ao UOL, e que teriam sido feitos pelos detentos antes do fim da rebelião, mostram cabeças sendo jogadas no chão em uma das alas do presídio. Em um momento, um homem, aparentemente um dos presos, chuta uma cabeça como se fosse bola de futebol. Em outro vídeo, presos aparecem sobre um telhado, onde há corpos estirados e fumaça.
No ano passado, sete presos foram mortos e três ficaram feridos na mesma unidade prisional em motim ocorrido durante a madrugada após uma tentativa de fuga frustrada.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, informou que está acompanhando a situação, que conversou com o governo do estado e que terá uma reunião na tarde de hoje para debater as providências a serem tomadas.
A pasta também afirma que ofereceu vagas federais para transferência de lideranças criminosas envolvidas na rebelião.
Outras rebeliões
As rebeliões com mortes por causa de brigas entre facções criminosas rivais têm ocorrido com certa frequência no país. Dois meses atrás, em 26 de maio, 15 detentos foram mortos em Manaus, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), a mesma unidade onde em 2017 aconteceu um massacre com 56 mortos. No dia seguinte, o governo do Amazonas afirmou ter localizado mais 40 corpos de detentos com sinais de asfixia em quatro presídios da cidade, totalizando 55 mortes.
Nos últimos anos, episódios parecidos aconteceram em Roraima e, no início deste ano, o Ceará viveu uma onda de violência ordenada por criminosos presos em penitenciárias do Estado, o que levou ao envio da Força Nacional de Segurança Pública ao Estado.
Também neste ano, em fevereiro, Marcos Williams Camacho, o Marcola, apontado como principal líder do PCC foi transferido de uma penitenciária no interior paulista para um presídio federal. Ele foi para Porto Velho e posteriormente foi levado para Brasília.
Na ocasião, outros 21 detentos apontados como lideranças do PCC também foram transferidos para presídios federais.
* Com informações de Carlos Madeiro, colaboração para o UOL, em Maceió, e Alex Tajra, do UOL em São Paulo.
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