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Preso por suspeita de ligação com roubo de ouro levava munição, diz polícia

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

29/07/2019 10h11

O terceiro suspeito do roubo de 720 kg de ouro ocorrido dentro do terminal de cargas do aeroporto internacional de Guarulhos, preso na madrugada de hoje, pode ter oferecido a logística para o transbordo da carga para outros veículos, segundo a Polícia Civil de São Paulo. No momento da prisão, ele estava com um carregador de fuzil contendo 31 projéteis calibre .762mm, de uso restrito.

Além dele, outros dois suspeitos já foram presos. Um deles é Peterson Patrício, funcionário do aeroporto que afirmou ter sido feito refém pelos criminosos durante a ação. Ele foi preso no sábado depois que a Justiça acatou um pedido de prisão preventiva contra ele. O outro é Peterson Brasil, também funcionário do aeroporto, que seria o homem que convidou o suposto refém para participar do crime. Ele teve seu pedido de prisão preventiva autorizado no início da noite de ontem.

A reportagem do UOL apurou que uma quarta pessoa teria sido ouvida na tentativa de ajudar a polícia a esclarecer o crime, sendo liberada após depoimento. A assessoria de imprensa do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), no entanto, não confirma a informação.

O ouro roubado corresponde a cerca de R$ 110 milhões, segundo a polícia. Gravado por câmeras de segurança, o assalto durou menos de cinco minutos, segundo policiais federais, entre a entrada dos criminosos no local e a fuga. Não houve tiroteio e ninguém ficou ferido.

Para conseguir efetuar o roubo, os criminosos clonaram dois carros com adesivos da PF (Polícia Federal). Com armas de grosso calibre, balaclavas e coletes à prova de balas, eles obrigaram funcionários do terminal a colocarem o ouro nos veículos.

Suspeito foi mantido refém, diz advogado

O primeiro suspeito detido, Peterson Patrício, trabalhava havia sete anos como encarregado de despacho no aeroporto. Seu advogado, Ricardo Sampaio Gonçalves, disse que Patrício não confessou a ele ter participado no crime, mas diz ter sido mantido refém pela quadrilha no dia anterior ao roubo.

"Ele me disse que está muito confuso, que não sabe o que está acontecendo na verdade", afirmou o defensor, que disse ter sido acionado por parentes de Patrício quando soube da prisão. "Uma família muito simples, de pessoas muito humildes, que não estão entendendo o que está acontecendo."

Patrício foi o primeiro trabalhador do aeroporto a ser eleito pelos funcionários para integrar o Conselho da Administração da Concessionária, que é formado principalmente por executivos e membros da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Eleito em 2014, seu mandato terminou em abril de 2016. O conselho, que é um dos mais importantes da gestão do aeroporto, tem acesso a uma série de documentos, contratos e planos referentes ao aeroporto.

Quando assumiu como membro do conselho, Patrício deu uma entrevista ao jornal do Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) e explicou que sua responsabilidade no Departamento de Cargas do terminal era entregar cargas. "Sou fiel depositário, faço a entrega, liberação e expedição das cargas armazenadas no departamento de importação".

Em nota, os delegados Pedro Ivo Correa dos Santos e João Hueb, da 5ª Delegacia Patrimônio (Investigações sobre Roubo a Banco), informaram que não forneceriam mais informações sobre as prisões e o que as motivou para "preservar a investigação e evitar desvios na linha de trabalho.

Em nota, a GRU Airport, concessionária responsável pelo aeroporto, disse cumprir todas as normas internacionais e práticas de segurança pertinentes à segurança do terminal. A empresa ressalta ainda que todas as informações referentes ao episódio ocorrido no último dia 25, no Terminal de Cargas do Aeroporto, estão sendo repassadas à Polícia Civil, que está liderando as investigações.

Sequestro na véspera

Um dia antes do assalto ao terminal de cargas, segundo relatou à polícia, Patrício disse que tinha acabado de sair de casa na Vila Ester, zona leste da capital, acompanhado da mulher, quando foi abordado por um homem armado que dirigia uma ambulância. A mulher foi obrigada a entrar no veículo e foi levada.

Em depoimento à polícia, Patrício teria contado que um outro homem ficou ao seu lado na rua e disse: "A gente já sabe sua função lá no aeroporto. Queremos que você nos leve até a carga de ouro, que a gente sabe que vai chegar, que vai ser entregue tal dia, tal hora". Com a mulher sequestrada, Patrício disse ter seguido todas as orientações dos criminosos, inclusive não acionando a polícia.

No dia seguinte ao início do sequestro, Patrício foi trabalhar e foi orientado a agir normalmente. Sua função no plano era ajudar a quadrilha a entrar no terminal de carga e indicar onde estava o ouro.