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PCC cria "tributação do crime" e cobra até R$ 250 por mês de membro, diz PF

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

06/08/2019 12h01

O PCC (Primeiro Comando da Capital) criou um sistema de tributação de crimes e chegou a cobrar até R$ 250 por mês de seus integrantes para sustentar suas atividades. O esquema foi revelado pelo delegado Ricardo Hiroshi Ishida, da PF (Polícia Federal), responsável por investigações sobre crime organizado em Curitiba. Ishida acompanhou nesta manhã a operação Cravada, que visa desarticular a rede de financiamento da facção criminosa e prendeu 20 pessoas em sete estados.

"É como se houvesse um sistema de tributação do crime", afirmou o delegado, descrevendo o financiamento do PCC. "Se pegarmos um salário mínimo de hoje [R$ 998], 25% desse valor iria para essas contribuições para a facção criminosa", explicou.

De acordo com o delegado da PF Martin Bottaro Purper, coordenador da operação Cravada, a estimativa é que o PCC obtinha até R$ 1 milhão por mês com essas contribuições. Esse valor era distribuído por cerca de 400 contas bancárias para evitar seu rastreamento e, de lá, saia para financiar compra de armas, drogas, pagamento de despesas de familiares de membros da quadrilha e para remunerar lideranças.

"Eles arrecadam valores em rifas ou mensalidades. Esse valor sai da base e chega para os líderes, que administram o dinheiro", disse Purper. "Tudo é feito para que os líderes tenham bastante dinheiro, a base sustente e vários crimes sejam cometidos com ajuda do financiamento".

Segundo a PF, toda a contabilidade era feita pelos próprios presos de dentro dos presídios. Na operação Cravada, a PF constatou que funcionava no presídio estadual de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, uma espécie de central de administração dos recursos.

Dos 30 mandados de prisão expedidos pela Justiça por conta da operação, oito já estavam presos, sendo que três deles estão detidos em Piraquara. "São lideranças que devem ser isoladas em presídios federais", complementou Purper, em entrevista coletiva concedida nesta manhã.

Na operação, outras 18 pessoas foram presas, além de mais dois detidos em flagrante que não tinham mandado. Quatro pessoas continuam foragidas. Além disso, a PF cumpre 55 mandados de busca e apreensão nas seguintes cidades

  • Paraná: Curitiba, São José dos Pinhais, Paranaguá, Centenário do Sul, Arapongas, Londrina, Umuarama, Pérola, Tapejara, Cascavel e Guarapuava;
  • São Paulo: Praia Grande, Itapeva, Osasco, Itaquaquecetuba, Hortolândia, Valparaíso e São Paulo;
  • Minas Gerais: Uberlândia;
  • Acre: Rio Branco;
  • Roraima: Boa Vista;
  • Pernambuco: Caruaru;
  • Mato Grosso do Sul: Dourados.

O superintendente regional da PF no Paraná, o delegado Luciano Flores, disse que as mais de 400 contas bancárias usadas pelo PCC foram bloqueadas por ordem judicial. Ele espera que a operação e o bloqueio sirva para "asfixiar os meios de financiamento da facção". "Que o dinheiro deixe de circular e financiar crimes violentos", afirmou.