Topo

Família acusa PM do Rio de forjar prisão em flagrante de jovem no Alemão

Yasuyoshi Chiba/AFP
Imagem: Yasuyoshi Chiba/AFP

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

06/08/2019 11h23Atualizada em 06/08/2019 18h05

A família de Weslley Rodrigues Jacob, 21, preso na semana passada após confronto entre bandidos e policiais militares no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, contesta a prisão do rapaz e acusa a PM de forjar um flagrante.

De acordo com a mãe do jovem, o filho é estudante e foi preso dentro de uma loja de manutenção de celular na favela, onde faz "bicos". A auxiliar de serviços gerais Alexandrina da Cunha Rodrigues, 42, contou que testemunhas garantem que o rádio transmissor que a polícia disse ter encontrado com ele, foi achado no lixo. A PM foi procurada pelo UOL, mas não se manifestou sobre a denúncia até a publicação deste texto.

"No dia da prisão ilegal ele estava trabalhando. Ele não tem carteira assinada, mas o patrão dele estava com ele. O Manoel [patrão] pediu que ele buscasse um telefone de um cliente que estava em outra loja quando começou o tiroteio. Ele correu para dentro do estabelecimento e os PMs passaram e pegaram ele. Me contaram que bateram no meu filho. Até faca colocaram no pescoço dele. Isso é normal aqui", diz a mãe de Weslley.

Alexandrina recorreu à Defensoria Pública para ajudar no caso do filho. O jovem foi autuado por associação ao tráfico de drogas, cuja pena é de dois a seis anos de prisão. Ele continua preso no presídio Ary Franco, em Água Santa, na zona norte do Rio.

A mãe dele garante que o jovem não tem envolvimento com o tráfico. "Meu filho é estudante. Não tem passagem pela polícia. É tranquilo, nunca me deu aborrecimento", explica.

Procurada, a PM ainda não se manifestou sobre a denúncia de irregularidades na prisão. A corporação informou apenas que equipes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) realizavam policiamento pela rua Joaquim de Queiroz quando criminosos atiraram contra os policiais.

"Houve confronto e os marginais fugiram. Em ação contínua de varredura, os policiais encontraram um suspeito com um rádio comunicador. O mesmo foi conduzido à 21ª DP (Bonsucesso) para apreciação da autoridade policial", afirma a PM.

A Defensoria do Rio conseguiu na tarde de hoje um alvará de soltura em favor de Weslley. Ele vai responder o processo em liberdade já que é réu primário, tem emprego comprovado e é estudante da rede pública de ensino. Ele foi preso no último dia 30. Levado à audiência de custódia, no dia 1º de agosto, teve a prisão em flagrante convertida para preventiva.

A decisão de soltar o jovem obtida hoje foi da juíza Simone Rolim, da 29ª Vara Criminal da Capital do Rio. A defensora Carla Vianna, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, disse que casos como o dele são comuns no Rio, onde a palavra do policial é suficiente para a condenação.

"São normalmente dois policiais envolvidos na diligência que apuram circunstâncias, coletam prova e tudo se baseia no que os policiais dizem. Chegando em juízo, o que vai fazer a diferença é a existência ou não de contradição dos policiais, a própria referência familiar e social do acusado, mas normalmente (...) a palavra do policiais é suficiente para condenar."

A mãe afirmou na Defensoria que acredita na inocência do filho.

"Se fosse uma guilhotina, eu colocaria meu pescoço. Eu tenho certeza de que meu filho não estava com o rádio. Os policiais já tinham falado várias vezes que a primeira oportunidade [que tivessem] forjariam algo contra meu filho", afirma ela.

"Mãe nenhuma vai botar a cara para uma mentira. Tenho tristeza, revolta por saber que, por ser preto, pobre, favelado, tem que ser bandido. Eu vi meu filho ser encaminhado para o camburão com uma cara de desesperado, com cara de: 'Mãe, me ajuda!'. Eu não durmo, não como, só com essa imagem do meu filho na cabeça."