PCC é pirâmide financeira para enriquecer líderes, afirma delegado da PF
Resumo da notícia
- Operação da Polícia Federal nesta terça-feira atacou sistema financeiro do PCC
- Delegado vê organização como um esquema de pirâmide que enriquece líderes
- Método de cobrança inclui encomendar mortes em troca de dívidas com a facção
O delegado da PF (Polícia Federal), Martin Bottaro Purper, comparou o PCC (Primeiro Comando da Capital) a uma pirâmide financeira. Coordenador da operação Cravada, que visa a desarticular o esquema de financiamento da facção criminosa nascida em São Paulo, Purper disse em entrevista coletiva que os líderes da quadrilha estão enriquecendo às custas de contribuições pagas por membros do baixo escalão.
O valor sai da base e chega para os principais líderes, que administram o dinheiro. Esse dinheiro é administrado em prol dos líderes. As pessoas que estão em baixo, na verdade, contribuem sem ter praticamente nenhuma retribuição. É como nas pirâmides financeiras.
Martin Bottaro Purper, delegado da PF
Segundo Purper, as lideranças do PCC exigem de seus membros o pagamento de mensalidades para financiar suas atividades.
O delegado Ricardo Hiroshi Ishida, responsável por investigações do crime organizado em Curitiba, disse que essa taxa chega a R$ 250. "Se pegarmos um salário-mínimo de hoje [R$ 998], 25% desse valor iria para essas contribuições para a facção criminosa", afirmou.
Os detentos que arcam com essas mensalidades o fazem para ter o respaldo do PCC em presídios, por exemplo. Esperam também que o valor seja revertido em ações como roubos ou compra de armas e drogas, que vão gerar ainda mais recursos para a facção, aumentar seu poder e trazer benefícios aos contribuintes. Um exemplo seria a assistência financeira às famílias de presos.
O delegado Purper disse, entretanto, que não é exatamente isso que acontece. "Às vezes a base recebe algumas migalhas para delitos", disse ele. "Agora, para os grandes delitos, os grandes carregamentos de droga, a parte que realmente gera um valor, essa parte é destinada à liderança. Não chega até a base."
"Franquia"
Para Purper, o PCC é hoje "uma marca, uma franquia". Por isso, consegue ter tantos membros mesmo sem dar a eles o retorno que eles gostariam de ter.
O delegado reconheceu que a estrutura da facção é grande. Só em mensalidades, arrecada ao menos R$ 1 milhão.
Esse dinheiro é distribuído por centenas de contas bancárias para dificultar seu rastreamento. Só na operação Cravada, 418 contas bancárias usadas pelo PCC foram bloqueadas pela Justiça do Paraná.
Segundo as investigações que antecederam à operação, a contabilidade de toda essa arrecadação é feita pelos próprios presos de dentro dos presídios.
A PF constatou que funcionava no Presídio Estadual de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, uma espécie de central de administração dos recursos.
Do presídio, as lideranças fazem o fechamento das contas. Checam se não há dinheiro faltando em uma conta. Quando há, cobram.
"Quando há um débito, as pessoas que devem pagam, são excluídas ou são espancadas", disse Purper. "[O PCC usa] meios bárbaros para conseguir seu intento: que os líderes tenham bastante dinheiro e a base os sustente."
Método de cobrança
O delegado disse que cobranças de débitos também são feitas por meio de encomendas de crimes. Quando um membro do PCC falha em sua contribuição, a facção exige que ele execute alguém para pagar sua dívida, por exemplo.
Em 2016 e 2017, membros do PCC mataram dois agentes penitenciários federais em Cascavel (PR). Os crimes, segundo Purper, foram cometidos por criminosos que queriam acertar seus débitos com a facção. O UOL apurou em 2017 que uma psicóloga teria sido morta no mesmo esquema de cobrança.
Ao todo, 30 mandados de prisão foram expedidos pela Justiça Estadual do Paraná por conta da operação Cravada. Oito procurados já estavam presos, sendo que três deles estão detidos em Piraquara. "São lideranças que devem ser isoladas em presídios federais", complementou Purper.
Na operação, outras 18 pessoas foram presas, além de mais dois detidos em flagrante que não tinham mandado. Quatro pessoas continuam foragidas.
O superintendente regional da PF no Paraná, o delegado Luciano Flores, espera que a operação e o bloqueio sirvam para "asfixiar os meios de financiamento da facção". "Que o dinheiro deixe de circular e financiar crimes violentos", afirmou.
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