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Justiça adia depoimentos de militares em caso de morte de músico e catador

Evaldo Rosa dos Santos foi baleado por militares no bairro de Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro, e morreu - Reprodução/Facebook
Evaldo Rosa dos Santos foi baleado por militares no bairro de Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro, e morreu Imagem: Reprodução/Facebook

Igor Mello

Do UOL, no Rio

26/08/2019 12h03

A Justiça Militar decidiu adiar o depoimento dos 12 militares envolvidos nas mortes do músico Evaldo Rosa dos Santos, 46, e o catador de material reciclável Luciano Macedo, 27, em abril. Os militares dispararam ao todo 257 tiros durante a ocorrência em Guadalupe, zona norte do Rio, dos quais 83 atingiram o veículo em que Evaldo e a família estavam. O evento estava previsto para acontecer amanhã.

O adiamento foi determinado após a constatação de que a Polícia Militar não enviou para prestar depoimento, conforme solicitado pela defesa dos réus, PMs que chegaram ao local logo depois dos disparos em uma viatura Ford Ranger.

Uma nova data para a oitiva dos militares do Exército será em outubro, em data a ser definida pela juíza auditora Mariana Campos, da 1ª Auditoria da 1ª CJM (Circunscrição Jurídica Militar).

Os 12 militares são acusados de duplo homicídio, tentativa de homicídio e omissão de socorro. A guarnição dos acusados disparou 257 tiros durante a ocorrência. Evaldo seguia com a família para um chá de bebê em Guadalupe, na zona norte carioca, quando foi atingido. Segundo as mulheres de Evaldo e Luciano, que estavam presentes no local durante o tiroteio, os militares se recusaram a socorrê-los e debocharam dos apelos feitos por elas.

Tiros e mortes

Na ação, realizada no dia 7 de abril, foram mortos o músico Evaldo Rosa dos Santos, 46, e o catador de material reciclável Luciano Macedo, 27. O sogro de Evaldo, Sérgio Gonçalves de Araújo, também foi baleado, mas sobreviveu.

Os militares alegaram ter confundido o carro dirigido Evaldo, um Ford Ka branco, com o veículo utilizado por criminosos que praticaram um assalto na região. No veículo também estavam seu sogro, baleado de raspão nas costas e no glúteo, sua mulher e seu filho de sete anos.

Evaldo foi baleado pela primeira vez quando entrava na via onde os militares seguiam, depois de um suposto confronto contra criminosos que roubaram um carro em Deodoro, bairro vizinho a Guadalupe. Após seu sogro conseguir parar o carro, o músico foi baleado mais oito vezes mesmo estando inconsciente.

Nesse momento os tiros também atingiram Luciano, que havia corrido até a porta do carro para tentar socorrer Evaldo e seus familiares. Ele chegou a ser socorrido e hospitalizado, mas morreu 11 dias depois, no Hospital Estadual Carlos Chagas.

São réus na ação o segundo-tenente Ítalo da Silva Nunes; o terceiro-sargento Fabio Henrique Souza Braz da Silva; os cabos Leonardo Oliveira de Souza e Paulo Henrique Araújo Leite, além dos soldados Gabriel Christian Honorato; Matheus Sant'Anna Claudino; Marlon Conceição da Silva; João Lucas da Costa Gonçalo; Gabriel da Silva de Barros Lins; Vitor Borges de Oliveira; Wilian Patrick Pinto Nascimento e Leonardo Delfino Costa. Nove deles ficaram presos até 23 de maio, quando foram beneficiados por um habeas corpus do STM (Superior Tribunal Militar).

E agora?

A promotora Najla Nassif Palma, uma das responsáveis pelo caso, diz que o adiamento do depoimento dos 12 militares não irá protelar a decisão da Justiça.

"Em nome do respeito que a Justiça Militar tem à ampla defesa hoje, como não vieram as testemunhas indicadas pelo advogado, a juíza remarcou essa audiência para que venham as testemunhas indicadas pela defesa. A Justiça Militar tem uma característica de celeridade. Estamos confiantes e respeitando a ampla defesa, que em breve esse caso vai ter um desfecho", ponderou.

A juíza abriu um prazo de cinco dias para que a defesa indique os nomes dos policiais que quer ouvir. Após isso, a PM será novamente intimada para enviar os militares ao depoimento, em data ainda a ser marcada.

Para a promotora, a defesa dos réus tenta usar a proximidade do local do crime com a Favela do Muquiço como argumento para justificar as centenas de disparos feitos por eles, alegando que eles estariam sob risco de ataque. Porém, ela crê que as provas são "irrefutáveis".

"Todas as informações que o MP colocou na denúncia, inclusive com perícia, estão sendo confirmadas. Temos um vídeo dos militares atirando contra o carro, temos testemunhas que confirmam. Temos perícias que comprovam que o grande número de disparos encontrados no carro provém das armas dos militares. Temos um dos disparos retirados do corpo do Evaldo já comprovado que saiu da arma de um dos militares. Então a prova é até agora, ao olhar do MP, irrefutável", completou.