Morre catador atingido por disparos de militares no Rio
O catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, 28, morreu na madrugada de hoje. Ele foi baleado na ação do Exército no último dia 7, em Guadalupe, na zona norte do Rio, que resultou na morte do músico Evaldo Rosa, que teve o carro atingido por 82 disparos realizados por militares.
Macedo estava em estado grave desde o dia da ação. Ontem, ele chegou a passar por cirurgia e ficou em estado crítico. Segundo informações da secretaria de Saúde, o catador morreu às 4h20.
Macedo foi ferido ao tentar ajudar Rosa e a família do músico que estavam a caminho de um chá de bebê quando tiveram o carro fuzilado.
O sogro de Evaldo também foi ferido e continua internado. O estado de saúde dele é considerado estável. Já a mulher do músico, o filho do casal de 7 anos e uma outra mulher não se feriram.
Justiça tinha determinado transferência de hospital
Macedo passou 11 dias internado no hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na zona norte.
Atendendo a um pedido da advogada da família, o paciente conseguiu na Justiça duas ordens para transferência de unidade de saúde, o que não ocorreu.
A primeira decisão ordenou a transferência do paciente para o hospital municipal Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias.
O não cumprimento previa multa de R$ 2.000 por hora e de R$ 5.000 após 24 horas, a partir do recebimento da notificação.
Ontem no fim do dia, uma nova decisão determinou que o catador fosse transferido para um hospital particular, com as despesas custeadas pelo governo.
No entanto, mesmo após as duas decisões da justiça, Macedo foi submetido a uma cirurgia, o que impediu a remoção da unidade.
A advogada da família do catador acusou o hospital de realizar cirurgia mesmo ciente da decisão judicial e sem que a família fosse consultada. Segundo a defesa, o estado de saúde dele passou de grave para crítico, após o procedimento cirúrgico.
"Foi baleado pelo Exército, foi levado para hospital estadual sem condições de realizar todos os procedimentos necessários e foi impedido de ser atendido em hospital municipal por falta de vagas", afirmou a advogada dos familiares do catador, Maria Isabel Tancredo.
Paciente não tinha condições de transferência, diz secretaria
A Secretaria de Saúde informou que Macedo foi submetido na tarde de ontem a uma cirurgia torácica bem-sucedida e que o paciente não teria condições de ser transferido devido ao quadro de saúde gravíssimo.
"Todos os esforços foram feitos para reverter o quadro", disse a pasta. Macedo deu entrada na unidade em situação delicada com comprometimento do pulmão esquerdo que foi atingido por um tiro de fuzil.
A Central Municipal de Regulação informou, por meio de nota, que manteve contato com a direção da unidade estadual onde o catador estava internado, para que fosse viabilizada a transferência para outra unidade quando ele tivesse condição clínica para transporte.
Segundo o órgão, Luciano era classificado como "grave" e vinha recebendo assistência em CTI (Centro de Tratamento Intensivo) na unidade estadual, que avaliou a necessidade da cirurgia.
Nove militares continuam presos
Quando o carro de Evaldo foi metralhado, ele estava com a família a caminho de um chá de bebê quando foi abordado.
Inicialmente, o CML (Comando Militar do Leste) emitiu uma nota dizendo que a ação tinha sido uma resposta a um assalto e sugeriu que os militares haviam sido alvo de uma "agressão" por parte dos ocupantes do carro.
Depois que a família do músico contestou a versão dada pelo Exército, a instituição recuou e mandou prender 10 dos 12 militares envolvidos na ação.
Dias depois, a Justiça Militar determinou que nove militares permaneçam detidos. Um acabou solto após alegar que não fez nenhum disparo.
Todos os nove ouvidos disseram que alguns minutos antes, os militares haviam trocado tiros com um veículo de características similares, no bairro de Guadalupe.
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