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Pedreiro morre em ação da PM: "Mataram um trabalhador na minha laje"

3.set.2019 - Ônibus foi incendiado em protesto após a morte do pedreiro José Pio Baía Junior em ação policial - Reginaldo Pimenta/Estadão Conteúdo
3.set.2019 - Ônibus foi incendiado em protesto após a morte do pedreiro José Pio Baía Junior em ação policial Imagem: Reginaldo Pimenta/Estadão Conteúdo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

03/09/2019 19h23

O pedreiro José Pio Baía Junior, 45, morto na manhã de hoje na Vila Kennedy foi baleado enquanto trabalhava na construção de uma laje de um bar. A comunidade da zona oeste carioca foi considerada o "laboratório da intervenção" no ano passado.

Abalado, o proprietário do imóvel gravou um vídeo e publicou na internet relatando que a vítima foi morta no momento em que "batia uma laje". No vídeo, é possível ver o corpo do pedreiro e, ao lado, um martelo que ele utilizava na obra.

"Acabaram de matar um trabalhador em cima da minha laje. Tava batendo a laje e foi morto. O cara estava trabalhando. O policial atirou, não tinha ninguém, o policial saiu dando tiro. É impressionante como estamos sofrendo aqui na Vila Kennedy com esse tiroteio, PMs entrando a qualquer hora. Criança indo para a escola. A gente tá aqui, acabado com isso. A gente não aguenta mais."

O dono do terreno ainda fez um apelo à PM.

O pedreiro José Pio Baía Junior, 45, morto na manhã de hoje na Vila Kennedy - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O pedreiro José Pio Baía Junior, 45, morto enquanto trabalhava em laje na Vila Kennedy
Imagem: Arquivo Pessoal

"Vamos parar com isso. Policial, vamos acabar com isso. Tanta gente inocente indo embora. Tá difícil", afirmou Moisés Domingues.
Mais cedo, a esposa do pedreiro disse que ele foi atingido por diversos disparos.

"Meu marido saiu para trabalhar às 6h30 e foi alvejado por diversos tiros na cabeça", disse ela, identificada apenas como Márcia.

Procurada, a PM informou que policiais realizavam uma operação contra roubo de carga e veículo na avenida Brasil, quando uma equipe foi atacada por criminosos na esquina da rua Tunísia com a rua Gana, em um dos acessos à Vila Kennedy.

Segundo a corporação, houve confronto e a PM diz ter sido avisada sobre a vítima através da central 190.

"O Comando do 14º BPM (Bangu) abriu procedimento apuratório para verificar as circunstâncias do fato", disse a PM através de nota.

Protesto com ônibus incendiado e av. Brasil fechada

Após a morte do pedreiro, moradores da Vila Kennedy bloquearam por uma hora os dois sentidos da avenida Brasil, principal via da cidade, na altura da Vila Kennedy.

Os manifestantes chegaram a atear fogo em um ônibus da linha 770 que faz o trajeto Campo Grande x Coelho Neto.

Vila Kennedy, laboratório da intervenção

Após o governo federal decretar em fevereiro do ano passado, intervenção na segurança do Rio, a comunidade da Vila Kennedy foi ocupada permanentemente por soldados das Forças Armadas e considerada laboratório da intervenção.

No local, foram feitas operações frequentes contra o tráfico de drogas com retirada de barricadas e maior policiamento na comunidade. O trabalho dos militares era garantir mais segurança aos moradores e a entrada de serviços para a população.

No entanto, a atuação dos homens do Exército não foi suficiente para inibir o tráfico de drogas nem a rotina de tiroteios na região.

Durante o período de intervenção, moradores viram índices de criminalidade aumentarem na região entre março a dezembro. Foram registrados aumento de crimes contra a vida e contra o patrimônio:

Latrocínios: + 20%
Roubos de celulares: + 32%
Roubos em coletivos: + 13%
Roubos de rua: + 5,3%
Roubos a estabelecimentos comerciais: + 4,5%
Furto de bicicletas: + 320%

Na outra ponta, caíram o número de mortes pela polícia e roubos de carga, um problema considerado crônico nas principais vias de acesso à capital fluminense.

Mortes por agentes de segurança: - 30%
Roubos de carga: - 16%
Roubos de veículos: - 24%
Tentativas de homicídio: - 25%