Vizinha de hospital, creche abrigou 50 pacientes e recém-saídos de cirurgia
O incêndio que atingiu o Hospital Badim, no Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, deixando ao menos 11 mortos, trouxe à tona uma rede de solidariedade composta por vizinhos, que tentaram ajudar os pacientes socorridos. A creche Criando Arte recebeu cerca de 50 pacientes --entre eles, uma pessoa recém-saída de uma cirurgia.
Preocupados com a situação dos pacientes, que foram acomodados em colchões na calçada da frente do hospital, os proprietários da creche, que fica em frente à saída lateral do Badim, abriram as portas para receber pacientes resgatados do incêndio.
"Foi sofrimento puro. Eu passei horas chorando, vendo tantas pessoas debilitadas e seus familiares aflitos", contou a dona da creche, Jacqueline Martins, que completou 42 anos exatamente nesta sexta (13), dia seguinte ao incêndio.
Ela e o marido, Darci Martins, moram em frente à creche. Por volta das 17h30, Jacqueline percebeu a fumaça saindo do Badim.
"Subi no meu terraço, vi que saía fumaça do hospital e desci. A gente ficou na rua observando. No início, achamos que foi um pequeno curto-circuito. Quando foi por volta de 18h30, os pacientes começaram a descer em colchões, cadeiras, macas, pessoas segurando no colo", relata.
A chefe do CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Badim é casada com um primo de Darci e pediu ajuda ao casal. "Ela ligou pra gente perguntando se podia abrigar algumas pessoas do CTI, porque muitas pessoas tinham acabado de fazer cirurgia, então precisavam de abrigo e não poderiam ficar na rua", explicou.
No momento em que eles decidiram abrir o espaço para prestar socorro aos pacientes, a creche ainda estava com cerca de oito crianças, inclusive o filho caçula do casal.
A gente isolou as crianças na parte de cima, inclusive meu filho, e abrimos para os pacientes. A primeira paciente tinha acabado de fazer uma cirurgia, o médico ainda estava com a roupa do centro cirúrgico, depois chegaram mais, ficou uma média de 50 pacientes, mais uns 30, 40 profissionais de saúde que chegaram de outros hospitais.
Jacqueline Martins, dona da creche
A empresária contou que foi formada uma rede de solidariedade. "Recebemos muita doação de água, foi uma solidariedade de uma forma geral, dos vizinhos, dos pais da creche que entenderam que não abrimos hoje para higienizar o local. O último paciente saiu de lá por volta de 22h30."
Na manhã de ontem, o Badim enviou cerca de 30 funcionários de limpeza para esterilizar e limpar a creche. De acordo com Darci, o telefonema com a oferta de ajuda aconteceu às 7h. Depois, uma equipe de limpeza particular fez um trabalho de esterilização dos pequenos objetos, como brinquedos e lápis.
Sem dormir desde o início do incêndio, Darci Martins explicou que não cogitou negar ajuda: "A gente tem que fazer a nossa parte."
77 pacientes transferidos continuam internados
O diretor médico do Hospital Badim, Fábio Santoro, confirmou na tarde de ontem a 11ª morte em decorrência do incêndio. O UOL apurou que a paciente Ivone Cardoso foi transferida do Badim durante o incêndio e morreu no Hospital Israelita Albert Sabin.
Santoro afirmou que, dos 103 pacientes que estavam na unidade na hora do incêndio e foram transferidos, 77 pacientes continuavam internados na tarde de ontem. O estado de saúde deles não foi informado. Outros 15 que receberam alta já estão em suas casas.
Além dos pacientes, havia 229 funcionários na unidade no momento do incêndio. O Badim divulgou que, entre funcionários e acompanhantes, havia mais 20 pessoas internadas.
Os hospitais que receberam vítimas do incêndio do Badim foram: Américas, Casa de Portugal, Caxias D'Or, Copa D'Or, Norte D'Or, Quinta D'Or, Rios D'Or, Gafree Guinle, Samaritano, São Bernardo, Unimed Barra e Israelita Albert Sabin.
O fogo teve início no fim da tarde de ontem, pouco antes das 18h, quando o prédio começou a ser tomado pelas chamas. Uma fumaça preta e espessa pôde ser vista de longe por moradores da região. Segundo o hospital, a causa mais provável do incêndio seria um curto-circuito.
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