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Beira-Mar volta para Campo Grande e ficará na mesma cadeia de Adélio Bispo

Traficante Fernandinho Beira-Mar - Divulgação/Record
Traficante Fernandinho Beira-Mar Imagem: Divulgação/Record

Rafael Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Campo Grande

19/09/2019 21h27Atualizada em 21/09/2019 12h35

O traficante Luiz Fernando da Costa, 52, conhecido como Fernandinho Beira-Mar e apontado como um dos líderes da facção criminosa carioca Comando Vermelho, retornou ao Presídio Federal de Campo Grande na noite de hoje.

Ele estava no Presídio de Mossoró (RN) e chegou à capital sul-mato-grossense pouco depois das 18h (19h no horário de Brasília), sob forte esquema de segurança no Aeroporto Internacional da cidade, para o desembarque e escolta até a unidade penal, que fica a cerca de 17 quilômetros de distância.

Batedores da Polícia Militar fecharam avenidas e bloquearam por minutos algumas das principais vias de Campo Grande. Beira-Mar embarcou no carro blindado da Polícia Federal já na pista de pouso do aeroporto.

No presídio, ele ficará no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), onde o preso fica em isolamento total em relação aos outros e monitorado 24 horas por dia por cerca de 200 câmeras de vídeo. Parte delas está instalada em locais secretos. Elas enviam imagens em tempo real para três centrais de monitoramento - no próprio prédio, na superintendência da Polícia Federal de Campo Grande e na central de inteligência penitenciária do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), em Brasília.

A unidade campo-grandense tem vaga para 208 detentos, mas não está lotada. O número exato é mantido em sigilo pelo Depen. Atualmente, o mais famoso 'morador' do local é Adélio Bispo de Oliveira, preso desde 6 de setembro do ano passado por esfaquear o presidente Jair Bolsonaro (PSL), durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).

Adélio foi absolvido por ser considerado "inimputável" devido a problemas psiquiátricos, e a Justiça determinou sua internação. No entanto, por motivos de segurança do próprio acusado, decidiu-se por mantê-lo dentro da unidade prisional.

Também estão no local acusados pelo Ministério Público Federal de planejar atos terroristas durante a Copa do Mundo de 2014 e integrantes da Família do Norte, facção criminosa de Manaus que promoveu uma série de massacres em presídios da região norte do país.

Rodízio

O UOL apurou junto a agentes penitenciários federais que a transferência foi motivada pelo rodízio constante de um presídio para outro de detentos de alta periculosidade.

Segundo as normas do Sistema Penitenciário Federal, é proibida a permanência por mais de dois anos de um preso no RDD em um mesmo estabelecimento penal.

Com isso, presos como Beira-Mar se revezam nas unidades de segurança máxima de Campo Grande, Catanduvas (PR), Porto Velho (RO), Mossoró e Brasília.

É a segunda passagem do traficante carioca pela unidade da capital sul-mato-grossense. A primeira foi em 2007, quando veio transferido de Catanduvas (PR), um ano após a inauguração da penitenciária, na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em dezembro de 2010, Beira-Mar foi transferido novamente de Campo Grande para Catanduvas. Mas sua passagem deixou marcas pela cidade.

320 anos de prisão

Beira-Mar foi preso em 2001, ao ser capturado por autoridades militares da Colômbia em um acampamento das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia, as "FARC", onde havia se refugiado e estava aprendendo táticas de guerrilha e união de milícias. Desde 2006, ele está preso em penitenciária federal.

Em condenações, o traficante acumula penas que somam quase 320 anos de prisão em crimes como tráfico de drogas, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídios.

Em 2015, foi condenado a 120 anos de prisão, apontado como responsável por liderar uma guerra de facções, em 2002, dentro do presídio de segurança máxima Bangu I, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, quando quatro rivais foram assassinados.

Em maio de 2017, a Polícia Federal desencadeou operação conjunta em sete estados, onde foi descoberto esquema liderado pelo traficante que, mesmo preso, controlava máquinas de caça-níquel, venda de botijões de gás, cesta básica, mototáxi, venda de cigarros e até o abastecimento de água. Em Campo Grande fora descoberto que familiares dele e de seus comparsas que ainda cumpriam pena na cidade viviam em condomínios de luxo. Um de seus filhos ainda mantinha o tráfico de drogas de MS para o Rio vindo das fronteiras com Paraguai e Bolívia.

Em julho deste ano, a 3ª Vara Federal de Campo Grande condenou Beira-Mar a sete anos, oito meses e 22 dias de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro. As investigações apontam que ele teria movimentado R$ 31 milhões entre janeiro de 2006 e agosto de 2007, de dentro da Superintendência da Polícia Federal de Brasília, por meio de uma empresa de fachada com sede em Ponta Porã (MS), na divisa com a cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

No presídio, Fernandinho Beira-Mar se formou em Teologia e escreveu dois livros, sendo uma monografia que fala sobre a vida de Jesus Cristo, apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso Superior, e uma biografia narrando sua vida no crime.