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Policial é preso nu em hospital suspeito de matar filha bebê; ele nega

Dheymerssonn Cavalcante Gracino dos Santos, 40, é preso suspeito da morte da filha de 2 meses - Reprodução
Dheymerssonn Cavalcante Gracino dos Santos, 40, é preso suspeito da morte da filha de 2 meses Imagem: Reprodução

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

11/10/2019 19h08Atualizada em 11/10/2019 20h33

Um agente da PF (Polícia Federal) foi preso ontem suspeito de matar a própria filha de dois meses. Dheymerssonn Cavalcante Gracino dos Santos, 40, que nega a autoria do crime, foi detido dentro do hospital de um hospital particular de Maceió, no bairro Gruta de Lourdes, quando aguardava a realização de um exame. Ontem à noite mesmo, ele foi liberado após conseguir um habeas corpos do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A família de Santos alega excesso na prisão do policial, que estava de avental, sem cueca e com soro quando foi algemado e preso. O UOL teve acesso a um vídeo que mostra o momento exato da detenção. O pênis e as nádegas de Santos chegam a ficar expostos durante a prisão.

O policial foi indiciado por homicídio doloso qualificado em inquérito que investigou a morte da filha. A bebê morreu no dia 8 de março, em Rio Branco, depois de ter ingerido 120ml de fórmula láctea e sofrido broncoaspiração por excesso de líquido no estômago. A mãe da menina acusa Santos de ter premeditado a morte da filha.

Santos estava foragido desde o dia 9 de julho, quando foi expedido mandado de prisão preventiva contra ele pelo Tribunal de Justiça do Acre. O policial é lotado na delegacia de Cruzeiro do Sul e veio para Maceió durante a investigação da morte da filha.

A mãe de Santos, Maria Gorete Cavalcante, também foi indiciada, mas o pedido de prisão preventiva contra ela feito pelo Ministério Público foi negado pela Justiça. Ela está respondendo pelo suposto crime em liberdade e nega que tenha tido intenção de matar a neta. Maria Gorete afirma que a menina morreu vítima de um acidente.

Santos também tem uma MPU (Medida Protetiva de Urgência), na lei Maria da Penha, em seu desfavor, por suposta prática de violência doméstica e lesão corporal cometida contra a mãe da filha dele, Micilene Pinheiro Souza. A MPU foi concedida pela Vara de Proteção à Mulher e Execuções Penais de Cruzeiro do Sul, no dia 12 de março. O UOL tentou localizar Micilene Pinheiro Souza, mas não conseguiu.

Mãe da criança acusa crime premeditado

Em depoimento à polícia, a mãe da bebê contou que a filha nasceu prematura e que se alimentava apenas de leite materno. Ela acusa Santos de ter premeditado a morte da filha e de ter aproveitado para executar o plano quando ela foi até Rio Branco para a filha fazer exame de DNA.

Micilene disse que avisou que a menina ingeria apenas 10 ml de leite materno, a cada três horas, quando deixou a filha com o pai, a pedido dele, por poucas horas, para o policial mostrar a bebê a familiares. A mãe da menina disse que foi avisada por Santos que a filha teria passado mal e que fosse ao hospital. Ao chegar lá, Micilene disse que encontrou Santos sendo medicado e foi informada que a filha tinha entrado em óbito.

A mulher também afirma que teve uma gravidez conturbada, pois, segundo ela, Santos queria que ela fizesse um aborto. Ela contou à polícia que Santos a acusava de dar o "golpe da barriga" e que a bebê "não era filha dele, e ainda o acusou de não querer pagar pensão. Um exame de DNA mostrou que Santos é realmente o pai da menina.

Micilene conheceu Santos durante uma operação da Polícia Federal no município de Marechal Thaumaturgo, onde ela mora. Eles se relacionaram por um mês e, nesse período, ela engravidou.

Preso nu

A prisão de Santos foi filmada por uma mulher, não identificada, que o acompanhava no hospital. Nas imagens, Santos está vestindo um avental do hospital, sem cuecas, descalço e algemado. As imagens mostram um policial segurando no pescoço de Santos, e o pênis do suspeito chega a aparecer. A mulher grita que Santos está sendo humilhado.

Ele é levado por três policiais até um veículo da Polícia Federal descaracterizado, em frente a uma das entradas do hospital. No caminho, Santos afirma que não está resistindo à prisão, mas as imagens mostram que ele tenta impedir a condução colocando as pernas contra a parede. Ele leva uma gravata de um dos policiais, que o conduz até o carro.

Enquanto isso, a mulher que grava o vídeo diz que é "uma humilhação. Minha gente, ele tá nu! Isso não existe, pelo amor de Deus", grita. Quando o suspeito é colocado dentro do carro, ele começa a gritar: "Grave tudo isso, por favor. Isso é uma humilhação! Estou no hospital para fazer um exame", diz Santos. Um policial pede a roupa dele e avisa que estão indo para a superintendência da Polícia Federal, no bairro de Jaraguá.

A PF em Alagoas informou que cumpriu mandado de prisão expedido contra o policial federal a mando do Tribunal de Justiça do Acre. O UOL questionou a forma como o suspeito foi conduzido pelos policiais, mas Polícia Federal de Alagoas não se pronunciou.

Morte foi acidente, diz mãe do suspeito

Maria Gorette disse que ela e o filho estão abalados com a morte da criança e que a mãe da menina fez uma denúncia infundada. "Eu estava com a minha neta quando ela broncoaspirou o leite. Chamei o socorro, o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mas, infelizmente, ela veio a falecer. Foi um acidente e isso tudo vai ser provado", alegou.

Ela criticou a ação da PF na prisão do filho, que teria agido em "excesso" e de "forma absurda". "Nunca vi um absurdo desse. Não deixaram meu filho realizar o exame, arrastaram meu filho pelos corredores sem roupa, com o soro, causando constrangimento. Queria entender o que levou os policiais a fazer isso, pois meu filho não reagiu. Ele sofreu todo tipo de agressão, moral e física", afirma Maria Gorette.

Maria Gorette justificou que o filho foi a Maceió para se submeter a exames médicos por, segundo ela, sofrer de cavernoma cerebral (que é uma má formação cerebral que causa lesão em vasos sanguíneos). Segundo ela, Santos ia se apresentar à polícia assim que "uma bateria de exames fosse concluída".

Em um vídeo, Santos afirma que não tem condições de se pronunciar sobre o assunto e que está em "depressão profunda." Ele critica o inquérito policial, que teria sido concluído sem seu depoimento, além de não ter anexado prints de supostas conversas entre ele e a mãe da filha que falavam que a menina tomava mamadeira.

"Até hoje eu não fui ouvido. Depois que minha filha morreu, eu entrei em uma depressão profunda, quase me suicidei e perdi dez quilos. Não tive condições nenhuma de me pronunciar ou me defender", destaca o policial.

* Ouça o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Este e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.