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Laurentino Gomes: Racismo silencioso é mais destrutivo que agressão verbal

Do UOL, em São Paulo

26/11/2019 00h41

O jornalista Laurentino Gomes afirmou que o racismo que se manifesta por meio de indicadores sociais, desigualdade e falta de oportunidade para a população afrodescendente é "mais destrutivo que uma agressão verbal". A declaração foi feita no Roda Viva de hoje.

Na opinião do vencedor de seis prêmios Jabuti, "a principal forma de racismo está na população branca brasileira que aceita que os afrodescendentes nunca vão ter as mesmas oportunidades" e que esse "racismo silencioso", justamente o que a lei não pune, é o mais grave.

Laurentino, que ficou conhecido pela trilogia 1808, 1822 e 1889, falou sobre seu novo livro, Escravidão. Na obra, ele narra a história da escravidão brasileira desde o primeiro leilão de cativos, em Portugal, até a queda do quilombo de Palmares.

A condutora do programa, a jornalista Daniela Lima, leu um trecho do livro onde um escravo é castigado com chicotadas e facadas e compara com o jovem que foi torturado em um mercado na Zona Sul de São Paulo, neste ano.

Como resposta, Laurentino afirma que as "somos uma sociedade com práticas escravistas" e relembra que na época do Brasil colônia já havia manuais de como torturar pessoas escravizadas.

Laurentino Gomes narra torturas da escravidão

UOL Notícias

"O Brasil não vai a lugar nenhum enquanto não resolver a questão racial"

Laurentino enfatiza que existe uma "dívida histórica" para com a população negra do Brasil, mas que ela deverá ser paga através de acesso e oportunidades para os afrodescendentes.

Para ele, os problemas originados por conta da escravidão como a superpopulação negra nos presídios e o genocídio da população negra são os temas mais urgentes do Brasil, atualmente. "Qualquer partido político, qualquer governo que se proponha a resolver os dilemas brasileiros daqui para frente vai ter que enfrentar o dilema da desigualdade e o dilema da escravidão", afirma o jornalista.

Nesse sentido, ele ressalta que as políticas afirmativas de cotas são apenas paliativas. "A solução definitiva é dar aos jovens afrodescendentes as mesmas oportunidades de acesso que os brancos têm", garante.

Esperança no futuro

Apesar de abordar um tema tão esquecido quanto dolorido, Laurentino afirma que não se pode perder a esperança, mas que para isso é preciso agir logo. "É melhor que nós resolvamos isso agora do que esperar que as gerações futuras o façam".

O escritor afirma que é otimista sobre o futuro, pois se analisarmos a partir do ponto de vista histórico é possível ver que o país caminha. "Nós vamos colher os frutos dessa transformação no longo prazo", finaliza.