Moradores da comunidade de Paraisópolis organizam "Caminhada Pela Vida"
Após nove pessoas morrerem pisoteadas após uma ação da PM em um baile funk em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, os moradores da comunidade estão organizando a "Caminhada Pela Vida".
Divulgada por meio das redes sociais, a concentração acontecerá às 17 horas de amanhã na esquina da Rua Rudolf Lotze com a Rua Ernest Renan. A previsão do horário para o fim da caminhada é às 20 horas.
Em um evento criado no Facebook, organizado pela página oficial da comunidade de Paraisópolis, é reforçado o intuito de se fazer um evento pacífico a fim de pedir respeito com as comunidades.
"O que ocorreu neste fim de semana não pode acontecer mais. Pedimos o apoio de todos para uma caminhada pacífica, mostrando para a sociedade e para as autoridades que queremos apenas paz", descreve os detalhes do evento.
Ação da PM
Nove pessoas morreram pisoteadas na madrugada deste domingo (1º) depois de uma ação da Polícia Militar para dispersar um baile funk na favela de Paraisópolis, zona sul de São Paulo. Duas pessoas ficaram feridas e duas viaturas da PM foram depredadas.
No momento, as versões sobre o ocorrido são bastante divergentes. A PM afirma que agiu em resposta a criminosos que atacaram policiais e tentaram se esconder dentro da festa. Participantes do baile e moradores da favela dizem que PMs encurralaram frequentadores, o que levou ao pisoteio das vítimas em uma viela da comunidade.
Há pelo menos um registro claro de abuso cometido pela PM. Um vídeo que teria sido gravado depois da dispersão do baile mostra policiais dando socos, tapas e pontapés em adolescentes, já dominados, em uma viela. Outro vídeo mostra a PM disparando balas de borracha.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse lamentar o ocorrido e que determinou a "apuração rigorosa dos fatos". O ouvidor das polícias, Benedito Mariano, afirmou que vai oficiar para que a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo fique à frente da investigação interna sobre o caso.
O que diz a polícia
Segundo a Polícia Civil, por volta das 4h da manhã, dois homens em uma moto atiraram contra policiais e entraram no baile que acontecia na esquina entre as ruas Ernest Renan e Rodolf Lutze.
Os policiais militares que foram ao local foram recebidos com "garrafadas, pedradas etc.", e por isso foi feito uso de "munições químicas para dispersão e segurança das equipes". As vítimas foram pisoteadas, diz a Polícia Civil, durante a "ação de controle de distúrbios civis".
Em nota enviada à imprensa de tarde, a PM afirmou que "a moto fugiu em direção ao baile funk, ainda efetuando disparos, ocasionando um tumulto entre os frequentadores do evento."
O porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Emerson Massera, disse que "a moto ainda não foi apreendida, nem os indivíduos foram presos".
O que dizem moradores e frequentadores
Participantes do baile, por sua vez, descrevem uma situação de cerco policial sobre a festa.
"Eles fecharam [a rua] dos dois lados, e todo mundo correu para uma viela de três metros de largura. Quem estava na frente caiu", contou ao UOL o estudante de direito Luiz Henrique, 26 anos.
À GloboNews, uma das pessoas feridas -- que não quis se identificar -- contou que os policiais "ficaram dos dois lados, não tinha para onde correr, não tinha para onde ir."
Ainda de acordo com Luiz Henrique, policiais chegaram a jogar bombas de efeito moral na viela, o que deixou os frequentadores — adolescentes, em sua maioria — mais desesperados. "Um outro policial mandou pararem", disse.
O estudante e outras duas pessoas presentes ao baile que foram ouvidas pelo UOL e pediram anonimato também rebateram a versão da PM de que uma moto com duas pessoas entrou no baile, menos ainda atirando.
"É mentira. Eles (PM) que já chegaram atirando, pisoteando a cara das pessoas, quebrando carros e motos. Foi tudo planejado", disse um jovem morador de Paraisópolis, que prefere não se identificar por medo e que estava no momento da ação da PM na comunidade.
Segundo este mesmo jovem, o que aconteceu foi uma "cena de horror."
"Um amigo meu acabou falecendo. Eles [os policiais] fizeram isso por vingança e pessoas que não têm nada a ver estão pagando", afirmou.
PM admite possíveis abusos
O porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Emerson Massera, disse que "algumas imagens sugerem abuso, ação desproporcional", mas que "o rigor vai responsabilizar quem cometeu algum excesso".
"O relato que temos é que os policiais, para conseguir recuar, fizeram uso de munições químicas (duas de efeito moral, mais duas de gás lacrimogênio), mais oito disparos de balas de borracha", disse.
Massera defendeu a ação policial, e afirmou que "a atuação dos PMs foi de proteção aos policiais".
"Criminosos usaram pessoas que frequentavam o baile como escudos humanos. Pessoas foram em direção aos PMs arremessando pedras e garrafas", disse.
A Polícia Militar instaurou inquérito policial militar para apurar todas as circunstâncias relativas ao fato. O caso está sendo registrado no 89º Distrito Policial (Jardim Taboão).
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