Com mais moradores de rua em SP, entrega de abrigos cai de 18 para 1 ao ano
Resumo da notícia
- Então prefeito, Doria prometeu entregar 1 abrigo por mês
- Em 2017, foram 18 inaugurações, mas número caiu para 1 este ano
- Dados da prefeitura indicam alta no número de moradores de rua
- Prefeitura diz que meta é criar 2.000 vagas até 2020, mas não fale em nº de unidades
Uma centena de pessoas esperava pacientemente em uma fila para almoçar na segunda-feira (16) no Abrigo Boracéia, na Barra Funda, em São Paulo. Ali, quase todos são homens, a maioria jovem, de cor parda e cabelos cortados em estilo militar. Moradores de rua, eles precisam do abrigo para tomar banho, se alimentar e se proteger do frio todas as noites.
A necessidade de um lugar para acolher essa população aumentou em 2019, ano em que o número de abordagens da Prefeitura de São Paulo a moradores de rua aumentou chegou a 491 mil até novembro. Apesar disso, a administração municipal reduziu a inauguração de abrigos e descumpriu promessa feita pelo ex-prefeito João Doria (PSDB).
Era maio de 2017 quando o agora governador inaugurou o primeiro abrigo com os padrões prometidos por ele na campanha: com acolhimento 24 horas, canil e garagem para carroças. O CTA (Centro Temporário de Acolhimento) do Brás (zona Leste) foi construído para atrair moradores de rua que se queixavam de horários restritos e falta de espaço para abrigar os cães nos 83 albergues municipais.
Durante a inauguração, Doria prometeu que a prefeitura passaria a entregar um novo abrigo todo mês, totalizando 44 unidades até dezembro de 2020.
Até o final desse ano serão 8. Se você considerar, será um por mês, são 4 anos de gestão. Nós temos aí 36 meses além dos oito até o fim do ano
João Doria, então prefeito de São Paulo, em 10 de maio de 2017
Inaugurações caíram nos anos seguintes
Segundo dados obtidos pelo UOL via LAI (Lei de Acesso à Informação), Doria tirou do papel 18 abrigos em seu primeiro ano como prefeito. Desses, 15 eram CTAs e três Atende (Atendimento Diário Emergencial), voltado a dependentes químicos.
No ano seguinte, quando o tucano se lançou candidato a governador de São Paulo, as inaugurações caíram 72%, e cinco abrigos foram entregues: quatro CTAs e um Atende. Em 2019, apenas um abrigo foi inaugurado: um CAE (Centro de Acolhida Especial) voltado a transsexuais e travestis.
Para atingir a meta de 44 abrigos até dezembro de 2020, a prefeitura precisa inaugurar 20 deles no ano que vem.
Procurada pela reportagem, a SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) não comentou a promessa de Doria. "No Programa de Metas publicado em 2017, foi incluída a linha de ação 15.7: criar 9 CTAs. A gestão Doria/Covas se comprometeu a inaugurar nove centros de acolhida para pessoas em situação de rua com canis", afirmou em nota.
O último Programa de Metas foi repactuado em abril de 2019, a prefeitura prevê a criação de 2.000 vagas em repúblicas e, consequentemente, um aumento de 40% na conquista de autonomia da população de rua acolhida na rede socioassistencial.
Prefeitura de São Paulo
Albergue ou calçada?
Há seis anos morando nas ruas, Denilson Cruz Ribeiro, 43, prefere dormir na rua Barão de Campinas, no centro, do que recorrer a um albergue. "Eles falam para ligar no 156 e esperar três horas para virem buscar. A gente passa os dados, mas eles quase nunca aparecem."
Ele comemora, no entanto, os abrigos com canil e estacionamento de carroças. "Para quem tem cachorro é importante. Quando não tem lugar para deixar, a gente prefere ficar na rua pra não abandonar o bichinho ou a carroça."
Ribeiro deixou a casa da família, no bairro de Santo Amaro, zona sul, e foi para a rua depois que seu irmão caçula morreu. Ele passa o dia recolhendo papelão e latinha para revender a um ferro velho. "Eu tiro R$ 12, R$ 15. Dá pra ir no Bom Prato [programa do governo estadual] almoçar, tomar uma cachaça..."
Júlio César da Silva, 41, busca o auxílio de uma assistente social para ajudá-lo a se cadastrar em um albergue. "Eu durmo na rua, debaixo de uma lanchonete. Eu espero eles fecharem e vou pra lá com meu cobertor", diz. "No abrigo tem chuveiro quente, café da manhã, almoço e janta."
Meu único medo na rua é com a higiene pessoal. Tem de se manter limpo ou fica doente. Sem abrigo, é preciso dar um jeito
Júlio César da Silva
Outro lado
Em nota, a SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) afirma que realiza busca 24 horas por dia para identificar pessoas em situação de rua e oferecer acolhimento na rede socioassistencial. "A equipe, composta por 600 orientadores, (...) atua das 8h às 22h e dispõe de 100 veículos para transportar as pessoas para os serviços da rede socioassistencial. Das 22h às 8h, a abordagem é realizada pela Coordenadoria de Pronto Atendimento Social (CPAS)."
"Atualmente a SMADS possui 139 serviços para população em situação de rua e mais de 21 mil vagas, sendo 17 mil de acolhimento" com café da manhã, almoço e jantar.
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