Comandante não avisou que afundaríamos, diz sobrevivente de naufrágio no AP
"O comandante do navio nunca avisou que iríamos afundar, acredito que a maioria das pessoas morreu dormindo", diz Márcio Rodrigues dos Santos, 46, um dos sobeviventes do naufrágio do navio de médio porte no Amapá no último sábado (29), em entrevista ao site da revista Época.
Segundo informações da Marinha, há pelo menos 22 mortos até o momento.
No relato, Márcio diz que a tragédia começou a se desenhar por volta das 5h em meio a uma forte chuva no rio Jari. Foi nessa hora que ele começou a ouvir gritos vindos da parte mais baixa da embarcação.
"Cheguei a pensar que essa movimentação poderia ser uma briga ou assaltos, que são muito comuns por essas águas, mas logo depois começou um corre-corre", diz.
Sua esposa, Alexandra Barbosa, 45, foi uma das vítimas da tragédia. Márcio tentou alertar a mulher, mas não obteve sucesso.
"Quando fui chamar a Alexandra, ela estava na cozinha e não na rede onde estava deitada antes [...] Gritei muito por ela, mas rapidamente ouvi o barulho das coisas caindo e quebrando e outros gritos encobriram a minha voz. Nunca tive uma resposta dela", conta.
Márcio buscou se salvar enquanto via as janelas se quebrando com o impacto dos corpos. Já fora do navio, teve que esperar por socorro na água por cerca de dez minutos junto aos outros sobreviventes.
Alexandra e Márcio estavam acompanhados de 18 amigos rumo a uma festa de aniversário na cidade de Almeirim, no Pará. Apenas quatro deles sobreviveram.
Maria Joventina Barbosa, mãe de Alexandra, relatou ter dificuldade de acreditar na morte da filha. "Ela deixa uma filha de 7 anos que ainda não sabe da morte da mãe, estava esperando ela voltar de viagem", diz emocionada.
Já Ana Claudia Barbosa, irmã da vítima, criticou a fiscalização fraca dos órgãos competentes. "A fiscalização aperta depois que essas tragédias acontecem mas tudo volta ao normal em seguida", diz.
Segundo relatos de Márcio e de outros sobreviventes, já havia água no convés antes mesmo de o navio sair do porto. O excesso de carga na embarcação também foi mencionado.
O navio Anna Karoline III saiu do Porto do Grego, no município de Santana, no Amapá, por volta das 18h de sexta-feira (28) com destino a Santarém, no Pará, onde deveria chegar na manhã de domingo (1º). A embarcação naufragou a cerca de 265 quilômetros dali em uma área próxima da cidade de Laranjal do Jari, também no AP.
Uberlândio Gomes, delegado da Polícia Civil responsável pelo caso, disse que a Capitania dos Portos e a Marinha "decretaram o óbito dessas vítimas no momento que eles autorizaram a saída dessa embarcação".
Em nota, a Marinha lamentou o ocorrido e disse que as buscam seguirão.
Na segunda-feira (2), o Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação criminal para apurar as causas do naufrágio.
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