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"Notamos frieza e premeditação", diz delegado sobre suspeita de matar jovem

Renia de Souza, de 38 anos, posa ao lado da filha Emanuella de Souza Batista, de 14.  - Arquivo pessoal
Renia de Souza, de 38 anos, posa ao lado da filha Emanuella de Souza Batista, de 14. Imagem: Arquivo pessoal

Galtiery Rodrigues

Colaboração para o UOL, em Goiânia

12/03/2020 20h51

Depois de quase dois meses de investigação e levantamento de provas, o delegado Danilo Fabiano Carvalho, que atua no grupo de homicídios e na investigação de atos infracionais praticados por menores em Rio Verde (GO), conseguiu juntar as informações sobre a autoria da morte da adolescente Emanuelle Souza Batista, de 14 anos.

O corpo dela foi encontrado carbonizado e com 35 facadas na mata do Parque Zilda Arns, no Bairro Veneza, no dia 16 de janeiro deste ano. Uma adolescente de 15 anos, que se dizia amiga da vítima, confessou o ato, após negar nos primeiros depoimentos, e contou os detalhes ao ser confrontada com as provas.

O relato frio e detalhista, sem expressão de arrependimento, chamou a atenção do delegado: "Notamos muita frieza e muita premeditação também. Foi um ato muito chocante", afirma. A confissão, segundo ele, foi se formando aos poucos.

"Eu penso que, quando ela percebeu que a polícia tinha todas as provas a respeito da participação dela, ela resolveu falar. Primeiro, ela negou, tentou refutar as provas e fez de tudo para a polícia não chegar até ela, porque ela enterrou o celular da vítima, queimou a própria roupa com vestígios de sangue e tentou destruir o local do crime", conta Fabiano.

Tudo começou quando a suspeita descobriu que Emanuelle estava falando mal dela nas redes sociais e para pessoas do convívio das duas. O motivo seria a disputa por um namorado. Elas se conheceram e se aproximaram na escola, apesar de não estudarem na mesma classe. A amizade era tal que, segundo a mãe da vítima, a recepcionista de hotel Renia de Souza, de 38 anos, a filha chegou a fugir de casa uma vez para se esconder na casa da garota que a matou. "Ela passou uns dias lá, chamei a polícia e encontramos ela depois", relata a mãe.

No dia 14 de janeiro deste ano, Emanuelle desapareceu. Ela saiu de casa sem falar que estava indo ao encontro da tal amiga. Segundo a mãe, uma prima da adolescente já sabia que ela vinha recebendo ameaças da garota e, por isso, ela acredita que a filha não contou para onde estava indo: "Ela confiava em todo mundo, ninguém era mal para ela", descreve Renia. Dois dias depois, veio a confirmação da morte.

Pelas imagens e relatos coletados pela investigação, Emanuelle e a suspeita se encontraram em um bar. O plano era levá-la para a mata onde o corpo foi encontrado e, para isso, a amiga inventou a história de que precisava da ajuda dela para ir ao parque buscar uma porção de drogas que estava enterrada no local. Em troca, ela daria parte da droga para Emanuelle. Ao saírem do bar, elas pediram um carro por um aplicativo de transportes de passageiro e foram deixadas em um supermercado próximo ao parque.

"Começamos a montar o quebra-cabeça e conseguimos imagens que atestam o trajeto, desde as duas passando a pé sozinhas perto da mata depois que o motorista de aplicativo as deixou no local", conta o delegado.

Em depoimento à polícia, o motorista confirmou ter transportado as meninas e relatou que, ao contrário da suspeita, que aparentava aflição e agitação, a vítima estava bastante calma no interior do veículo, pois não sabia que estava a caminho de uma emboscada.

A confissão foi feita na última segunda-feira (9) e a internação provisória por um período de 45 dias da menor de 15 anos foi decretada pela Justiça logo em seguida. Ela permanece em Rio Verde e deve ser transferida para uma unidade de Goiânia amanhã (13), onde aguardará a audiência do caso.

Faca foi encontrada enterrada no quintal da casa da adolescente suspeita de matar Emanuelle Souza Batista - Divulgação/Polícia Civil de Goiás - Divulgação/Polícia Civil de Goiás
Faca foi encontrada enterrada no quintal da casa da adolescente suspeita de matar Emanuelle Souza Batista
Imagem: Divulgação/Polícia Civil de Goiás

No mesmo dia em que confessou, a garota levou o delegado aos locais onde enterrou o celular da vítima, um lote baldio, e a faca utilizada, que foi enterrada no quintal da própria casa. Ela contou ainda que, após matar Emanuelle, queimou as roupas que usava em decorrência das marcas de sangue e confirmou ter voltado no dia seguinte ao parque para queimar o corpo da adolescente e apagar qualquer vestígio.

"O único arrependimento que ela expressou para mim, já no último depoimento, relatando tudo com muita precisão, foi em relação à filha de seis meses que ela tem. O arrependimento dela é esse, porque ela sabe que a criança precisa dela", revela o delegado.

Dor e desconfiança

A mãe de Emanuelle diz acreditar que a garota não agiu sozinha. Apesar da pouca idade e da inocência da filha, ela argumenta que a adolescente era alta, com 1,75m de altura, o que a faz crer que a suspeita não daria conta de tudo sem a ajuda de alguém. O delegado ainda não concluiu o caso e segue apurando para esclarecer todas as linhas de investigação. Uma delas é sobre a provável participação de uma segunda pessoa, o que foi negado pela garota que confessou o ato. Segundo ele, ainda não existe nenhum indício de coautoria.

Renia de Souza morava com os três filhos em Portugal até meados de 2017. Ela voltou para o Brasil para ficar mais perto da família, em Rio Verde. Em menos de três anos, ela perdeu dois filhos. O do meio, Bruno Souza Gomes, foi morto em agosto de 2017, quando tinha 16 anos, também numa emboscada armada por conhecidos e com motivo semelhante ao da filha caçula, morta este ano. Os suspeitos foram detidos no final do ano passado.

"Está muito difícil. Perdi dois filhos em menos de dois anos e meio. Eu voltei com eles para o Brasil para eles morrerem", lamenta.

O filho mais velho foi morar na Bélgica assim que o irmão morreu em 2017. A mãe conta que só não mandou Emanuelle junto porque ela ainda era muito nova, mas os planos da família eram levá-la de volta para Portugal em dezembro do ano passado. A garota, no entanto, se recusou a ir e preferiu ficar no Brasil.