Homem morre de covid e mãe infectada ainda não sabe; irmãs também têm vírus
Em 15 dias, uma família de Praia Grande, no litoral de São Paulo, teve a vida completamente afetada pelo novo coronavírus: mãe, irmã e três filhos foram diagnosticados com a doença. A matriarca da família, Alzira da Silva Novaes, atualmente intubada na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Guilherme Álvaro, ainda não sabe que o filho, o vigilante Luiz Fagner Dias Novaes, 31, morreu ontem no Hospital Intermédica ABC, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, com a covid-19.
A suspeita da técnica de enfermagem Maria Carolina da Silva Novaes, filha de Alzira e irmã de Luiz, é que a contaminação da família tenha ocorrido durante a internação do pai, Silvio Dias Novaes, 60, no Hospital Municipal de Cubatão por conta de dois Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) no último dia 20 de março.
"Toda a família se revezou no acompanhamento dele, que ficou tetraplégico e perdeu os movimentos abaixo do pescoço. Desde os primeiros casos da doença na China, eu fiz um estoque de luvas e máscaras. Tomávamos cuidado extra com a higiene e eu não deixava meus pais saírem de casa. Mas por conta dos AVCs, precisamos ir ao hospital e como as refeições dos acompanhantes e dos funcionários acontecem no mesmo refeitório, creio que mesmo com todos os cuidados da equipe e da família em um desses momentos alguém pegou e passou para os outros", disse ao UOL.
Maria Carolina conta que foi a primeira a sentir os sintomas da doença, no dia 26 de março. "Senti muita febre, dor na panturrilha e dor atrás dos olhos. Achei que era dengue, mas não melhorava. Minha mãe também se sentiu mal nesse dia, mas me falou só depois. Colocou a culpa dos sintomas no nervosismo da situação do meu pai", afirmou.
De acordo com ela, o irmão Luiz Fagner Dias começou a sentir febre, tossir bastante e ter falta de ar no dia 30 e chegou a procurar atendimento médico cinco vezes em um pronto socorro de Praia Grande, sendo liberado após tomar dipirona.
No dia 2 de abril, já com o quadro deteriorado e sem conseguir andar, Luiz foi transferido pelo convênio para o Hospital Intermédica ABC, em São Bernardo do Campo, onde permaneceu com o quadro de saúde estável, mas precisou ser intubado no quinto dia após convulsionar. O vigilante morreu na noite de ontem.
"No dia 4 de abril, eu já não conseguia mais subir escada tamanha era a falta de ar que sentia e fui com a minha mãe para o Irmã Dulce. Eles fizeram uma tomografia que mostrou que o pulmão dela parecia um vidro quebrado, uma das características da doença. Transferiram ela na hora para o Hospital Guilherme Álvaro de Santos, que tem uma ala exclusiva para a covid-19, e meu convênio me internou em um hospital particular, onde permaneci por cinco dias."
Tia também contaminada
Ela conta que dia 5 foi a vez da irmã, a professora Maria Fernanda, ser internada em um hospital do convênio, onde foi tratada com um medicamento de alto custo. Uma tia de 62 anos, profissional da saúde, também recebeu o diagnóstico e segue em isolamento domiciliar. O caso é o único que não teria relação com a transmissão em massa que acometeu a família: ela se contaminou durante um plantão no hospital onde trabalha.
"Minha mãe não sabe de nada. Não sabe que a família toda ficou doente e que meu irmão faleceu. A única notícia boa é que hoje os médicos tiraram a sedação e a previsão é que amanhã ela saia da intubação."
Maria Carolina diz que o irmão não tinha complicações de saúde e que apenas tratou uma trombose há seis meses, o que, de acordo com ela, não se configura como agravante para a covid-19.
"Solicitei o prontuário médico dele e deve ficar pronto em cinco dias. Saí da internação com um derrame pleural que vai me manter afastada por um tempo do meu trabalho. O que tenho a dizer para quem não acredita nessa doença é que ela está aqui e dói demais quando é na nossa pele. Precisamos levar a sério o distanciamento social.".
O vigilante deixou mulher e dois filhos, um de 2 e outro de 9 anos, que fez aniversário no domingo. A reportagem tentou contato com o Hospital Intermédica ABC, mas não foi atendida no telefone fornecido pela central.
Casos na Baixada Santista
A Baixada Santista já soma 334 casos confirmados e 1.516 suspeitos de covid-19. A cidade com o maior número de casos e óbitos é Santos, com 243 casos e 15 óbitos, seguido por Praia Grande com 39 casos e 8 mortes.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.