Coronavírus: Índias testam positivo para covid-19; ONG aponta más condições
Duas indígenas da etnia warao testaram positivo para covid-19 e um terceiro morreu com suspeita da doença causada pelo novo coronavírus, em Belém, no Pará. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde, em nota, após o Prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho (PSDB), anunciar os casos em sua rede social. Os índios fazem parte de um grupo que está uma residência provisória, no centro da cidade.
"Infelizmente um dos indígenas chegou a ser hospitalizado, mas faleceu. Mas os outros dois não estão com problemas que necessitem ser internados", disse Coutinho.
Ainda segundo a secretaria, as duas índias, de 22 e 40 anos, estão bem e são consideradas estáveis, sem gravidade e seguem em isolamento domiciliar. Os dois casos, os primeiros de warao com covid-19 em Belém, foram confirmados ontem pela equipe do projeto Consultório na Rua, do órgão municipal que atende esses abrigos.
Ao todo, segundo o prefeito informou em live ontem, 50 indígenas que tiveram contato com elas devem ser transferidos para outro espaço, mas a nota da secretaria não precisa a data.
O Ministério Público Federal expediu recomendação à Prefeitura de Belém, dando um prazo de 24 horas para que adote medidas para impedir a disseminação da doença entre os 500 indígenas warao que vivem na capital em razão de fazerem parte do grupo de risco alto para a doença.
Na recomendação o MPF pede que a prefeitura providencie imediatamente dois locais de isolamentos dos grupos "obedecendo às normas sanitárias vigentes, com acompanhamento da Secretaria de Saúde do município e da Fundação Papa João XXIII, que é responsável pela assistência social aos indígenas". Além da garantia de alimentação e materiais de higiene e desinfecção contínua dos locais.
ONG denuncia condições precárias
O drama dos indígenas warao em Belém é antigo. A ONG Só Direitos —que trabalha com eles desde 2017— denuncia as péssimas e insalubres condições de alojamento a que são submetidos, especialmente nesse abrigo onde foram registrados os casos da covid-19.
"Nós já havíamos denunciado através de um relatório a situação delicada, de vulnerabilidade, num local de extrema insalubridade, muitos dentro de um mesmo espaço e que já vinham de outras doenças, como pneumonia, sarampo, bem antes da pandemia", contou a representante da ONG, Angélica Gonçalves.
As denúncias deram origem a um relatório com informações e fotos do abrigo, onde é possível ver a aglomeração de pessoas em espaços escuros, não ventilados e sem condições de higiene.
O documento foi enviado no dia 19 de março para a Coetrae, Comissão de Erradicação do trabalho escravo e tráfico de pessoas responsável pelo fomento da política migratória no Pará, antes mesmo da confirmação dos casos. O órgão faz parte da Sejudh (Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos).
O levantamento denuncia que o espaço acumula 83 pessoas em uma casa de apenas quartos, um banheiro e uma área comum. Só esse ano, o imóvel já teve o abastecimento de água suspenso duas vezes. "Os indígenas estavam pegando água da vala para uso pessoal", disse Gonçalves.
A representante da ONG faz uma previsão preocupante quanto à contaminação no abrigo. "Se esses foram contaminados com certeza os demais também estão porque vivem todos juntos", lamenta.
A Coetrae respondeu à ONG, cinco dias depois informando que encaminhou as denúncias a órgãos ministeriais, do executivo.
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