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Corpos são trocados e caixão de morto por covid-19 fica aberto em SP

José Frederico Alvares de Lima morreu após sofrer infarto - Arquivo pessoal
José Frederico Alvares de Lima morreu após sofrer infarto Imagem: Arquivo pessoal

Tatiana Ramil

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/04/2020 19h51

A prefeitura de Piracaia (SP) abriu investigação nesta semana para apurar uma troca de corpos que resultou em um velório com caixão aberto de um paciente que morreu com covid-19, enquanto outro idoso que morreu no mesmo dia de infarto foi enterrado com caixão lacrado.

A troca dos corpos foi descoberta quando a família de José Frederico Alvares de Lima, de 68 anos, que morreu em decorrência de um infarto, verificou que outra pessoa estava no caixão.

"Foi muito difícil. Passar pelo luto não é fácil para ninguém, mas com toda essa situação foi mais doloroso. Quem viu primeiro fomos eu e minha madrasta. Ficamos surpresas e, por um tempo, nós tivemos que ficar provando que aquela pessoa não era nosso familiar", disse Anna Gabriela de Lima Porta, filha de Frederico, em contato com a reportagem do UOL.

Anna Gabriela e outros familiares foram colocados em quarentena e farão testes para covid-19 disponibilizados pelo departamento de saúde. Nenhum deles está com sintomas da doença.

Saulo Coutinho, sobrinho do paciente que morreu por covid-19, Antônio Domingos Marins, de 67 anos, contou que o exame de seu tio para detectar a covid-19 voltou com diagnóstico positivo na sexta-feira passada, uma semana depois do enterro, quando as duas famílias passaram por um "grande constrangimento".

"Velamos e sepultamos em caixão lacrado outra pessoa, e o corpo do nosso tio, que até então era suspeito de covid-19, foi em caixão aberto para outra família velar. Não sabemos ao certo de quem foi o erro, mas foi um erro grave que colocou a outra família em grande risco", disse.

Segundo Saulo, a mãe dele, com quem o tio morto por covid-19 estava morando, teve teste negativo. Ela faz parte do grupo de risco por ser transplantada, diabética e hipertensa.

Depois da descoberta da troca, foi feita exumação do corpo de Frederico de Lima para que cada família pudesse enterrar seu parente.

"Enterraram o infartado como covid-19, a família não pôde nem se despedir, enquanto o verdadeiro paciente com covid-19 estava com caixão aberto", disse o médico Pietro Petri, que conhece as famílias e trabalhou na Santa Casa de Piracaia, onde os idosos morreram.

"Foi um tumulto. E por duas horas esse paciente ficou aberto, tanto no hospital, quanto no velório", acrescentou ele.

A Prefeitura de Piracaia informou em nota divulgada ontem que foi "surpreendida" com a notícia e "determinou que a diretoria da Santa Casa Irmandade São Vicente de Paula instaurasse uma sindicância interna para apurar os responsáveis pelo episódio, uma vez que não se sabe, até o presente momento, se a troca foi feita por funcionários da Irmandade ou por agentes funerários".

O interventor da Santa Casa, Marcos Galotti, disse que, como houve envolvimento de diversas pessoas, "seria leviano acusar quem quer que seja", e que "em respeito às famílias nos manteremos em silêncio até o final da apuração de responsabilidades".

A funerária responsável pelo serviço afirmou que irá se pronunciar depois da investigação aberta pela prefeitura.

De acordo com a prefeitura de Piracaia, todos os agentes públicos envolvidos no atendimento ao paciente que testou positivo para covid-19 fizeram testes para prevenção.