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'Protestos nos EUA devem ocorrer até setembro', dizem especialistas

 David A. Wilson no Conversa com Bial - Reprodução/vídeo
David A. Wilson no Conversa com Bial Imagem: Reprodução/vídeo

Colaboração para o UOL

05/06/2020 03h55

Para debater os protestos que vêm acontecendo nos EUA e no mundo devido ao assassinato de George Floyd, e que reascendeu a faísca do movimento #BlackLivesMatter (Vidas Negras Importam, em tradução livre), o "Conversa com Bial" recebeu nesta madrugada o cineasta americano David A. Wilson, a empresária Eliane Dias e o professor e advogado Silvio Almeida.

"Essas manifestações estão acontecendo de um jeito que eu nunca vi antes, pois está havendo muita união", afirmou David, e continuou: "As pessoas, e não só as afrodescendentes, estão sentindo a mesma coisa, sofrendo com um sistema opressor e se preocupando umas com as outras. Outro fator que mostra essa união é que não há uma única pessoa organizando os protestos. As próprias estão se mobilizando através das redes sociais".

Para o cineasta, os protestos estão apenas começando, principalmente nos EUA. "Tudo isso não vai acabar em duas semanas, e provavelmente vai até setembro [quando o verão americano termina]. Tudo isso vai causar um grande impacto nas eleições presidenciais, que acontecem em novembro".

Silvio acrescentou: "Você vê que nas manifestações há pessoas negras e brancas, porque as coisas no mundo estão ficando socialmente e economicamente tão precárias que todo mundo vai ter o seu dia de preto, mesmo os brancos, que vão aprender a viver sob as piores condições possíveis. Então, esse movimento não é só antirracista, é um movimento antissistema".

João Pedro

Trazendo a discussão para o Brasil, tendo como exemplo mais recente a morte do menino João Pedro, de 14 anos, que foi assassinado com um tiro pelas costas dentro de sua própria casa no Rio de Janeiro, Pedro Bial questionou porque aqui não houve, de imediato, protestos parecidos como os do assassinato de Floyd.

"O povo brasileiro demora para entender a força e o poder que tem", respondeu Eliane, que empresaria o grupo de rap Racionais MC's e é esposa de Mano Brown. "Mas falta pouco [para começar a acontecer igual aos EUA]. Essa panela de pressão não vai aguentar muito tempo. Eu até torço para que ela resista um pouquinho para que a gente tenha um discernimento, porque a nossa cultura é bem diferente da dos EUA".

Eliane continuou: "Quando você lida com pessoas que não têm nada a perder, o que você vai falar para elas? Que elas vão perder a liberdade? Não, porque nós não somos livres. Que vamos perder o emprego? Não, porque não temos emprego. Então, se alguém acender o estopim, essa bomba vai explodir".

Ainda sobre o tópico, Silvio complementou: "O Brasil tinha que ter parado no dia em que o garoto de 14 anos foi assassinado dentro de casa. O Brasil parou? Não parou, porque isso é o racismo estrutural, que tem como dois grandes problemas a falta de legitimidade e a desigualdade social".

No entanto, o professor admitiu ter receio do que pode acontecer se os protestos brasileiros se tornarem maiores e frequentes: "A polícia do Brasil não é como a polícia dos EUA que vai se ajoelhar diante dos manifestantes, nem ficar constrangida porque que a força policial cometeu um erro. A polícia daqui vai dobrar a aposta e vai haver um massacre. É isso que vai acontecer, ela vai atirar contra os jovens negros e parte da sociedade vai aplaudir".

"Nós, negros, não queremos vingança. Queremos justiça e igualdade", finalizou David, que revelou nunca ter sido abordado por um policial nos EUA, mas já foi abordado quatro vezes por policiais no Brasil no período de um ano, relatando o racismo que sofreu em nosso país.

O "Conversa com o Bial" vai ao ar de segunda à sexta-feira após o Jornal da Globo.