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Caso Marielle: ex-PGR recua, e polícia prende novo suspeito de obstrução

Do UOL, no Rio

10/06/2020 19h13

Após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) negar a federalização das investigações da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, o caso teve hoje novos desdobramentos.

Pela manhã, uma operação prendeu no Rio um bombeiro suspeito de auxiliar na ocultação de armas de um dos acusados. No começo da tarde, Raquel Dodge, que comandou a PGR (Procuradoria-Geral da República) durante as investigações, recuou após ter afirmado em denúncia que o ex-deputado estadual Domingos Brazão seria o mentor intelectual do crime.

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e a Delegacia de Homicídios da Capital deflagraram hoje a Operação Submersus 2, desdobramento das investigações do Caso Marielle. Alvo da ação, o sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso.

De acordo com o MP-RJ, ele teria cedido o carro para que familiares e amigos de Ronnie Lessa —acusado de ser um dos assassinos de Marielle e Anderson—- se livrassem de seis armas longas. O armamento foi levado de barco até o entorno das ilhas Tijucas, na orla da zona oeste do Rio, e os investigadores suspeitam que, entre elas, estivesse a submetralhadora usada no crime.

O bombeiro Maxwell Simões Correa é conduzido por policiais após ser preso - Diego Maranhão/AM Press & Images/Estadão Conteúdo - Diego Maranhão/AM Press & Images/Estadão Conteúdo
O bombeiro Maxwell Simões Correa é conduzido por policiais após ser preso
Imagem: Diego Maranhão/AM Press & Images/Estadão Conteúdo

Também hoje, Raquel Dodge mudou de posição a respeito do caso. Quando procuradora-geral da República, ela comandou uma investigação sobre um suposto esquema de obstrução das investigações no Rio. Ao denunciar cinco pessoas pelo crime, Dodge sustentou em petição que o ex-deputado e conselheiro de TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado) Domingos Brazão foi o "mentor intelectual" do assassinato de Marielle.

Em participação no UOL Entrevista, Dodge negou que tivesse apontado Brazão como mandante do crime.

"Ele é apontado como obstrutor da investigação, levando a linha para um curso que não era aquele que chegaria aos verdadeiros executores. Não é apontado [como mandante do assassinato] da Marielle não, ele é apontado como alguém que atua para que o curso do inquérito tomasse outro rumo", disse.

No entanto, Dodge escreveu em sua petição ao STJ: "DOMINGOS BRAZÃO arquitetou o crime de homicídio contra a vereadora MARIELLE FRANCO e, visando manter-se impune, esquematizou a difusão de notícia falsa sobre os responsáveis pelo homicídio". Além do ex-deputado, outras quatro pessoas foram denunciadas pela obstrução das investigações.

Em entrevista ao UOL em março, Domingos Brazão afirmou que Raquel Dodge cometeu abuso de autoridade ao denunciá-lo. Ele classificou como "teatrinho" uma conversa entre o vereador do Rio Marcello Siciliano (sem partido) e o miliciano Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba. No diálogo, tido como a principal prova do envolvimento do ex-deputado no caso, o miliciano conta que Brazão teria contratado assassinos de aluguel ligados ao grupo Escritório do Crime para matar Marielle.

"Foi um [caso de] abuso de autoridade, um ato de irresponsabilidade. Me surpreende que uma pessoa com a experiência da doutora Raquel Dodge possa ter sido convencida pelo diálogo de um miliciano com um vereador. E fica aqui a pergunta: como uma pessoa experiente como ela vai imaginar que esse teatrinho pode ser real?", questionou.

Dodge também pediu a federalização das investigações do homicídio, alegando que havia "inércia ou inação" das autoridades do Rio para elucidar o caso.

Padrão de vida incompatível

De acordo com as investigações, o bombeiro Maxwell Simões Correa mora em uma casa de alto padrão no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio, em um condomínio de luxo. O sargento também é dono de um carro importado —uma BMW X-6, avaliada em mais de R$ 170 mil.

Uma BMW X6, avaliada em R$ 170 mil, foi apreendida na operação - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo - José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Uma BMW X6, avaliada em R$ 170 mil, foi apreendida na operação
Imagem: José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo

O delegado também antecipou que o bombeiro deve ser investigado por ter bens incompatíveis com sua renda como agente público.

"Ele não tem rendimentos compatíveis com seu padrão de vida. Além da investigação que está em curso, que ele está respondendo preventivamente, ele também poderá responder por lavagem de dinheiro por conta de todos esses indícios de bens incompatíveis com seu rendimento", disse Nunes.