Clã Bolsonaro não tem relação com morte de Marielle Franco, diz delegado
O delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil do Rio, descartou hoje a participação do presidente da República Jair Bolsonaro ou de seus familiares na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
O nome da família Bolsonaro surgiu no caso em depoimento de um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra —onde vivam tanto o presidente e sua família quanto o PM reformado Ronnie Lessa, réu pelo assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes. O funcionário afirmou à Polícia Civil que foi o "seu Jair" quem autorizou a entrada do ex-PM Élcio de Queiroz, o outro réu pelos homicídios, no condomínio no crime. No entanto, perícias descartaram essa possibilidade.
Em depoimento à Polícia Federal, o porteiro também voltou atrás na afirmação, e disse ter se confundido ao registrar o acesso de Élcio no livro da portaria do condomínio.
"Não há participação da família Bolsonaro neste evento, muito menos do presidente da República. Não temos indício de participação da família. Isso foi apurado, pois um funcionário do condomínio fez essas declarações, mas temos certeza que não há participação alguma. O funcionário pode ter caído em alguma contradição. Não há participação da família Bolsonaro neste evento", disse hoje o delegado Nunes.
Nesta quarta (10), o bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, foi preso na Operação Submersus 2, desdobramento das investigações do Caso Marielle. De acordo com o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e a Delegacia de Homicídios da Capital, Maxwell teria emprestado o próprio carro para auxiliar no descarte de armas de Ronnie Lessa.
Segundo as investigações, seis armas longas foram jogadas no mar perto das ilhas Tijucas, na costa da Barra da Tijuca —há a suspeita de que, entre elas, estivesse a submetralhadora usada para assassinar Marielle e Anderson.
Nunes afirmou que o bombeiro era amigo de Ronnie Lessa. "Ele era uma pessoa muito próxima ao Lessa, nós já sabemos disso, temos elementos de convicção que noticiam essa proximidade", disse o delegado.
Vida de luxo
De acordo com as investigações, o bombeiro mora em uma casa de luxo no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio, em um condomínio de alto padrão. O bombeiro, que tinha a patente de sargento na corporação, também era dono de um carro importado —uma BMW X-6, avaliada em mais de R$ 170 mil.
O delegado também antecipou que o bombeiro deve ser investigado por ter bens incompatíveis com sua renda como agente público.
"Ele não tem rendimentos compatíveis com seu padrão de vida. Além da investigação que está em curso, que ele está respondendo preventivamente, ele também poderá responder por lavagem de dinheiro por conta de todos esses indícios de bens incompatíveis com seu rendimento", disse Nunes.
O que diz a defesa do bombeiro
O advogado Leandro Meuser, que representa Maxwell, contestou a versão de que os bens dele são incompatíveis com a sua renda. Segundo o defensor, o bombeiro tem empresa própria e poderia comprovar a renda complementar com extratos do imposto de renda.
Meuser não soube contudo detalhar qual atividade seu cliente desempenhava. "Se ele for acusado de lavagem de dinheiro, a renda dele vai ser comprovada no momento apropriado", disse.
Segundo ele, a casa onde Maxwell mora, avaliada em R$ 1,9 milhão, é alugada.
Ele também minimizou a relação entre o bombeiro e Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. "Eles se conhecem, mas não são próximos".
O advogado disse só ter sido procurado hoje de manhã para representar Maxwell.
*Com Igor Mello e Herculano Barreto Filho, do UOL, e Marcela Lemos, colaboração para o UOL no Rio
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